Brasilia Para Pessoas

14
julho
Publicado por Brasília no dia 14 de julho de 2016

Texto e fotos: Uirá Lourenço

 

DSCN1717_05-04-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Ciclovia_Interrogacao_edit

 

Em junho de 2015 protocolei no Governo do Distrito Federal ampla análise sobre a ciclovia que passa na Asa Norte (via W4/W5). O trabalho consistiu num diagnóstico detalhado do percurso, com os problemas existentes no caminho. Fotos, vídeos, imagens de satélite e as observações durante as pedaladas diárias pelo local embasaram o trabalho. Além do diagnóstico com muitas imagens, foram apresentadas possíveis soluções para facilitar a vida de quem pedala pela cidade.

 

Os principais problemas são bem conhecidos desde a criação da via exclusiva aos ciclistas no canteiro da Asa Norte, em 2012. Apesar de se intitular capital das ciclovias, com cerca de 440 km de vias para ciclistas, há várias dificuldades no caminho, tais como descontinuidade no trajeto, escuridão e muitos bloqueios causados por motoristas.

 

IMG_5570_29maio2013_AsaNorte_W5_ProxUniCEUB_Ciclovia_Carros_Bloqueio_SELECAO_edit

2013

IMG_4000_16-09-2014_AsaNorte_W5_ProxUniCEUB_Ciclovia_Pedestres_Carros_Bloqueio_SELECAO_edit

2014

DSCN7305_26-05-2015_AsaNorte_W5_UniCEUB_Ciclovia_Carro_Bloqueio_edit

2015

DSCN9211_17-03-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Ciclovia_Carro_edit

2016

Sequência cronológica revela a imobilidade a quem pedala pela Asa Norte, com obstáculos intransponíveis.

 

Passados seis meses da entrega da análise ao governo, achei que o esforço teria surtido alguma ação prática ao receber e-mail do DER-DF, com documento anexo. Mas foi alarme falso, o documento apenas sugeria o encaminhamento do estudo para a secretaria de infraestrutura. O relato completo sobre a resposta recebida revela o descaso com os que pedalam pela cidade e têm sugestões para melhorar a mobilidade. O direito de “participar do planejamento, da fiscalização e da avaliação da política local de mobilidade urbana”, previsto na Política Nacional de Mobilidade Urbana, ainda está apenas no papel.

 

Ao longo da ciclovia analisada existem diversas escolas, creches e faculdades, o que representa grande potencial para incentivar o uso de bicicleta. No entanto, a precariedade da infraestrutura e a ausência de ações educativas e de fiscalização pouco contribuem para a disseminação da cultura ciclística.  Observam-se pouquíssimas crianças e idosos na ciclovia, um indicador relevante de que as condições aos ciclistas estão aquém do desejável.

 Analise_Ciclovia_AsaNorte_W5_Slide 106_Mapa_Escolas Faculdades

Diversas escolas e faculdades ao longo da ciclovia: potencial desperdiçado para ações em favor do uso de bicicleta.

 

Em outra imagem aérea observa-se o mau uso do espaço urbano no ponto mais crítico ao longo da ciclovia (708/908 Norte): amplas áreas são utilizadas para estacionamento de carros. Além das vagas sinalizadas, canteiros, calçadas e o espaço da via também se convertem em estacionamentos.

 

 Mapa_AsaNorte_UniCEUB_Estacionamentos_Marcacoes_Vermelho_edit2

Grandes áreas mortas na cidade: espaços convertidos em estacionamento.

Em vídeo recente, uma ciclista que leva diariamente o filho à creche se revolta com os bloqueios frequentes no caminho. Em geral são os mesmos motoristas que reiteradamente estacionam em local proibido, aproveitam-se da ausência de fiscalização e garantem vagas exclusivas sem se importar com quem caminha e pedala pela cidade.

 

Após um ano do estudo protocolado, permanece a indignação nas pedaladas diárias. Ciclovias bloqueadas e sem continuidade, rampas bloqueadas e calçadas invadidas por carros compõem o cenário desfavorável a quem caminha e pedala em Brasília. Ao contrário do estabelecido na Política Nacional de Mobilidade Urbana (prioridade dos modos não motorizados de transporte; segurança nos deslocamentos), nas leis distritais sobre mobilidade (promoção de ações e projetos em favor de ciclistas, pedestres e usuários de cadeiras de rodas; eliminação de barreiras urbanísticas aos ciclistas) e no programa do atual governador (ampliação do uso de bicicletas para deslocamentos diários, promoção da acessibilidade, promoção da paz no trânsito como política permanente de educação), o transporte individual motorizado ainda é prioritário, e o espaço voltado aos carros avança inclusive sobre calçadas, ciclovias e canteiros.

 

O registro fotográfico de 2016 comprova que os problemas de imobilidade ao longo da W4/W5 Norte continuam:

 

 DSCN7824_09-03-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Carros_caos_Bicicleta_edit  DSCN8872_15-03-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Carros_Bicicleta_edit
 DSCN7731_12-05-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Rampa_Carro_Bloqueio_Bicicleta_edit  DSCN7243_08-03-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Rampa_Carro_edit
 DSCN8917_15-03-2016_AsaNorte_W5_Ciclovia_Carros_Bloqueio_SELECAO_edit  DSC00887_25-05-2016_AsaNorte_W5_Ciclovia_Carro_Bloqueio_edit
 DSCN9171_01-06-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Calcada_Carros_edit  DSCN5322_04_05-05-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Calcada_Carros_edit
 DSC04906_17-03-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Rampa_Calcada_Carros_edit  DSC06794_07-04-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Calcada_Carro_edit
 DSC09346_14-05-2016_AsaNorte_W5_Ciclovia_Rua Viva_Carros_Bloqueio_edit  DSC07460_18-04-2016_AsaNorte_W5_Ciclovia_APAE_Carros_Sem Continuidade_edit

 

Em razão do excesso de carros, espalhados por todos os cantos da 708N, ciclistas são obrigados a circular pela rua, em meio a intenso fluxo de carros.

 

 

 DSCN4987_25-02-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Carros_Bicicleta Mulher_Rua_edit  DSCN4998_25-02-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Bicicleta_Rua_edit
 DSCN7232_08-03-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Bicicleta_Contramao_edit  DSCN6433_01-03-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Carros_Bicicleta_contramao_edit

 

Ciclistas em risco na altura da 708N, em razão da descontinuidade da ciclovia e do excesso de carros.

 

Cruzamentos bloqueados pelos motoristas são a regra no caminho e causam insegurança e desconforto. A pintura “Pare” voltada ao ciclista e a ausência de qualquer placa de alerta aos motoristas revelam que a cidade ainda privilegia motores em vez de pessoas.

Diante dos abusos motorizados frequentes, fica a pergunta aos órgãos gestores da mobilidade no DF: como incentivar que mais pessoas usem a bicicleta e caminhem sem garantir infraestrutura de qualidade e sem fiscalização permanente que coíba as infrações?

 

– Multa cidadã x fiscalização de verdade

Na ausência de ações governamentais para inibir as infrações, surgem iniciativas cidadãs que buscam sensibilizar os motoristas infratores. Ao longo da ciclovia, cidadãos indignados deixam cartazes e bilhetes nos carros.

 

 

 DSC08110_18setembro2013_AsaNorte_W5_ProxUniCEUB_Ciclovia_Carro_Bloqueio_MultaCidade_SELECAO_edit  DSCN9239_17-03-2016_AsaNorte_W5_UniCEUB_Ciclovia_Carro_Multa Cidada_CauaIuri_edit

 

Neste ano, os “agentes-mirins” de trânsito Cauã e Iuri (7 e 8 anos) passaram pelo local mais crítico ao longo da ciclovia (708N) e aplicaram multas educativas nos infratores. Reportagem da globo mostrou a árdua tarefa dos irmãos.

 

A iniciativa de multas cidadãs não tem sido capaz de educar todos os condutores. Percebe-se que muitos só se educam pelo bolso. E neste ano não se observou qualquer ação de fiscalização nos locais críticos ao longo da ciclovia para coibir as infrações motorizadas. Pelo contrário, no início do semestre letivo agentes de trânsito estiveram no local para garantir fluidez motorizada, sem preocupação com o estacionamento irregular.

 

No reinício do período de aulas no 2º semestre, ao que tudo indica, continuará o caos causado pela imprudência motorizada. Em vez de continuidade no caminho dos ciclistas e de segurança redobrada nas proximidades de escolas e faculdades, mais espaços serão tomados para circulação e estacionamento da frota motorizada crescente.

 

A impressão que se tem é que a criação de ciclovias no Distrito Federal atende meramente a razões numéricas – ostentar o título de capital das ciclovias – sem o objetivo de incentivar modos de transporte alternativos ao carro. Criam-se ciclovias onde é fácil (em canteiros) e “se esquece” de garantir continuidade no caminho dos ciclistas: a cada estacionamento, a ciclovia desaparece. E também se esquece das ações fundamentais de educação e fiscalização no trânsito.

 

____________________

– A análise da ciclovia foi protocolada em diversos órgãos públicos em 11/6/2015: governador Rollemberg; secretaria de mobilidade; direção-geral do Detran; direção-geral do DER; MPDFT (Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística); presidência da Comissão de Fiscalização, Governança, Transparência e Controle da CLDF.

 

– A análise realizada consiste em um documento ilustrado com a síntese do trabalho (5 páginas com links para estudos e vídeos), uma apresentação com 146 slides e um relatório fotográfico detalhado (235 fotos). E ainda um DVD com farto material adicional de consulta (4,33 Gb), contendo legislação, álbuns temáticos, notícias, artigos e vídeos. O estudo está disponível em: http://www.mobilize.org.br/estudos/205/analise-da-ciclovia-asa-norte.html

 

– O vídeo Brasília: capital das ciclovias revela as dificuldades cotidianas do ciclista na capital federal, mesmo com os mais de 400 km de ciclovias: https://www.youtube.com/watch?v=OchYVHtNGSQ

 

– Em razão da indignação com a situação de imobilidade a quem pedala pela Asa Norte, em 2013 já havia elaborado amplo registro dos problemas. O estudo foi publicado no Mobilize: http://www.mobilize.org.br/estudos/101/ciclovias-e-mobilidade-por-bicicleta-no-df–imagens-da-infraestrutura-cicloviaria-asa-norte-w5.html

 



Compartilhe

Comente

Seu e-mail nunca é exibido. Campos obrigatórios são marcados *

*
*
*


Busca no Blog
Com a palavra...
Uirá Uirá Lourenço
Morador de Brasília, servidor público, ambientalista e admirador da natureza, Uirá é um batalhador incansável pela melhoria das condições de mobilidade na capital federal. Usa a bicicleta no dia a dia há mais de 25 anos e, por opção, não tem carro. A família toda pedala, caminha e usa transporte coletivo. Tem como paixão e hobby a análise da mobilidade urbana, com foco nos modos saudáveis e coletivos de transporte. Com duas câmeras e o olhar sempre atento, registra a mobilidade em Brasília e nas cidades por onde passa, no Brasil e em outros países. O acervo de imagens (fotos e vídeos), os artigos e estudos produzidos são divulgados e compartilhados com gestores públicos e técnicos, na busca de um modelo mais humano e saudável de cidade. É voluntário da rede Bike Anjo, colaborador do Mobilize e membro da Rede Urbanidade.
Posts mais lidos
Categorias
Arquivo

Realização
Associação Abaporu
Desenvolvimento
MSZ Solutions
Comunicação
Mandarim Comunicação
Patrocínio
Itau

Allianz
Apoio
Ernst & Young
Prêmio
Empreendedor Social
Prêmio Empreendedor Social