Milalá

01
March
Publicado por Mila no dia 01 de March de 2018

Sarah Houbolt é australiana, mora em Sidney, é uma maravilhosa artista de circo e defensora da diversidade. Sarah projeta sua vida em torno da criatividade, da compreensão da acessibilidade e da necessidade de questionar o que realmente podemos ver. E o que não vimos já, mas devemos ver.

No momento, Sarah está na cidade de São Paulo fazendo uma pesquisa teórica e prática sobre o trabalho da Associação Fernanda Bianchini –  Cia Ballet de Cegos, que possui uma metodologia pioneira para o ensino da dança, referência mundial por seu valor artístico e inclusivo. Em sua passagem por aqui, estive por várias vezes com a Sarah e falamos muito sobre acessibilidade, principalmente sobre a sua percepção da acessibilidade de nosso país, como também sanou um pouco da minha curiosidade sobre a acessibilidade de lá.

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Em seus preparativos para aterrissar em solo brasileiro, Sarah, que tem baixa visão e utiliza uma bengala para sua mobilidade, confessou que estava bem preocupada com o que poderia encontrar por aqui: a condição das calçadas para caminhar, se iria cair, se conseguiria atravessar as ruas, se ela se perdesse e pegasse o celular para se orientar, se seria roubada, etc. Enfim, eram muitas as preocupações, principalmente por ser a maior viagem de sua vida até então. Uma coisa chamou muito a atenção de Sarah: descobrir que a responsabilidade das nossas calçadas é do proprietário do lote e não do governo. “Em Sidney é do governo, e elas são bem mais planas e amigáveis. Não vejo como ser diferente, pois assim podemos exigir qualidade”. Pois é, confesso que nem tentei explicar. Falamos de legislações, e Sarah disse que na Austrália a lei sobre a acessibilidade existe e funciona bem nos edifícios públicos e privados, porém não existe legislação como a nossa Lei de Cotas. Segundo Sarah, essa lei seria muito bem-vinda por lá, pois a empregabilidade para as pessoas com deficiência deixa a desejar. Então, é uma situação bem parecida com o nosso país, com uma grande diferença: aqui temos a Lei de Cotas. Falamos das tecnologias assistivas e soube que a audiodescrição, legendas e a interpretação de língua de sinais está cada vez mais presente nas artes, principalmente nos filmes, na TV e nos teatros. Há uma situação que também chamou muito a atenção de Sarah: ela encontrou aqui um modelo que, na sua opinião, não cabe mais na vida das pessoas com deficiência. É o modelo médico, com um assistencialismo persistente na maioria dos cidadãos e cidadãs brasileiros que a incomoda. Fica claro em nosso bate-papo que as pessoas com deficiência têm barreiras parecidas para enfrentar, seja no Brasil, na Austrália ou em qualquer lugar do mundo, mas conviver sem ter que enfrentar a barreira atitudinal o tempo todo faria uma imediata diferença na vida destas pessoas.

 

Pois é, a clareza da percepção de Sarah me inquieta ainda mais e, ao mesmo tempo, me estimula a continuar batalhando por melhores condições de acessibilidade, porque viver em um país onde não somos privados de exercer os nossos direitos faz toda a diferença. A leveza e a profundidade das palavras de Sarah ecoam de maneira transformadora. Por fim, a preocupação com a acessibilidade de nossa infraestrutura, que é visível que precisa melhorar, ficou pequena perto da barreira atitudinal. Temos que mudar a atitude da maioria das pessoas para trazê-las ao verdadeiro modelo social,  que é onde nos encontraremos com o mundo atual. Vamos refletir?

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Milala Vamos conhecer o Milalá?
Mila Guedes, 45 anos, é publicitária e idealizadora do Milalá, projeto que estimula quem tem mobilidade reduzida a passear, viajar e curtir a vida. Acompanhe suas aventuras e as experiências incríveis que viabilizou em 22 anos como portadora de esclerose múltipla. Mila acredita que quanto mais informação, mais fácil será enfrentar os obstáculos que aparecerão pelo caminho. Sem medo, sem limite. Conheça este trabalho aqui no portal Mobilize, na página do Facebook e também no site www.milala.com.br
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