Devo ficar ou devo ir? – O direito de ir e vir
O direito de ir e vir

09
junho
Publicado por admin no dia 09 de junho de 2014

Que ônibus para neste ponto aqui? Para que lado devo ir se quero sair nessa rua? Qual a saída certa para chegar neste hospital? Onde é o banheiro adaptado para pessoas com deficiência? E a saída certa para esta estação de metrô? Qual a rota mais fácil para chegar até lá de bicicleta ou à pé? Consigo chegar fazendo esse mesmo trajeto de cadeira de rodas?

 

Essas são apenas algumas das inúmeras perguntas que o pedestre, com e sem deficiência, faz em seu dia a dia ao circular por nossas cidades. O motivo? Falta sinalização!

 

De acordo com o Mobilize, hoje as cidades brasileiras têm 90% dos sinais de trânsito voltados apenas aos motoristas. A sinalização para pedestres e ciclistas está concentrada apenas em áreas de conflito com o tráfego de carros. É praticamente um convite da cidade para que as pessoas não andem à pé ou de bicicleta. Ou o pior: no caso de muitas pessoas com deficiência, para que, simplesmente, não saiam de casa.

 

Costumo falar muito em acessibilidade aqui no Mobilize. E o ir e vir sem barreiras começa pela sinalização. Por mais acessos que um local ofereça, sem a indicação correta, as pessoas não conseguem circular por ele com autonomia, praticidade e segurança. Exemplos práticos não faltam.

 

No último domingo, visitei a Arena Corinthians para checar as condições de acesso não só do estádio, mas também de seu entorno. Para isso, fui de metrô do meu bairro até uma das estações que dá acesso ao local. Embora o transporte coletivo e o estádio estivessem acessíveis para atender e acomodar pessoas com deficiência, só foi possível chegar com facilidade ao estádio porque contamos com recursos humanos.

 

Da estação à arena, havia diversos funcionários indicando para que lado os torcedores deveriam seguir. Até chegar de fato ao assento do estádio, passamos por várias etapas sinalizadas apenas verbalmente. Faltavam placas indicando a rota, por exemplo, que pessoas com deficiência e mobilidade reduzida deveriam fazer para embarcar nas vans adaptadas que levariam ao estádio.

 

Fico pensando no caso dos surdos que se comunicam pela Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Será que todos esses funcionários estão preparados para informá-los o trajeto? O mesmo devemos pensar sobre os cegos, que precisam da sinalização tátil para que consigam chegar ao menos a um ponto de informação, onde teoricamente deveriam contar com responsáveis para informá-los.

 

Ou seja, falta de sinalização é um problema latente de comunicação. Nos aeroportos, isso fica ainda mais evidente. O viajante surdo não é informado quando o portão de embarque é alterado, já que esse aviso é feito em áudio e em texto nos painéis. Não há janela de Libras informando nestas mesmas mídias a alteração de voo. E aos cegos falta um trajeto tátil para que cheguem ao embarque. Claro, que é inviável implantar piso tátil em todos os espaços de em um local amplo como um aeroporto. Isso só atrapalharia. Mas a solução é muito mais simples do que se imagina. Basta existir piso tátil da entrada do aeroporto até um ponto de encontro específico, onde o viajante cego contaria com um funcionário da companhia responsável por encaminhá-lo até o seu destino. As saídas inteligentes são geralmente as mais simples.

 

Com a chegada da Copa, nossas cidades vão aos poucos se preparando para receber turistas do mundo inteiro. As sinalizações das vias e das estações de metrô já contam com informações traduzidas para o inglês. Mas o verdadeiro legado à população brasileira e suas cidades é ínfimo. Os avisos sonoros nos semáforos, que muito auxiliariam o pedestre cego a se locomover pelas ruas com segurança, ainda são raros. As calçadas, que são as principais vias de acesso e cartão postal de qualquer cidade, só foram reformadas no entorno de estádios.

 

A sinalização bem planejada deve ter como base o Desenho Universal, cujo um dos preceitos é a comunicação óbvia, baseada em símbolos de entendimento de todos. No Japão, por exemplo, todos os serviços, espaços e produtos são projetados seguindo esses moldes. Mesmo sem saber o idioma, as pessoas conseguem identificar locais e produtos, uma vez que sua usabilidade é óbvia.

 

Atualmente, Mara Gabrilli é autora de um projeto de lei, em tramitação na Câmara dos Deputados, que determina que semáforos instalados em vias públicas de grande circulação devem estar equipados com mecanismo que emita sinal sonoro suave para orientação do pedestre. A proposta altera a Lei nº 10.098/2000 e acrescenta parágrafo único ao artigo 9º.

 

Por isso, campanhas como a Sinalize devem ser sustentadas e apoiadas por cidades, gestores, profissionais da área e principalmente, pela população, que é quem mais sofre com a falta de planejamento em mobilidade urbana.

 

O pedestre não precisa disputar o espaço com placas. A sinalização bem projetada torna-se uma aliada das pessoas: facilita o ir e vir, incentiva o deslocamento sem carro e promove uma interação muito mais saudável (e sem amarras!) entre pessoas e cidades.

 

Sinalize pela liberdade!



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