Palavra de Especialista

18
fevereiro
Publicado por admin no dia 18 de fevereiro de 2013

 

Professor Doutor Roberto Douglas Moreira.   

Médico especialista em Cardiologia e Medicina de Tráfego. Professor na Pós graduação do Curso de Medicina de Tráfego da USP e na Pós graduação do curso de Medicina de Tráfego da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. Diretor Executivo Pleno da ABRAMET.

 

 

Apenas acrescentar na professor na Pós graduação do Curso de Medicina de Tráfego da USP e na Pós graduação do curso de Medicina de Tráfego da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. 

 

A ampla divulgação da Lei Seca, em 2008, teve o efeito de estimular o sucesso imediato da medida, quando se obteve, de acordo com as estatísticas oficiais, uma diminuição da morbimortalidade.

 

Tal sucesso, porém, teve duração efêmera, seguido do recrudescimento epidemiológico dos efeitos da doença acidente de trânsito, assim definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

Então, como prevenir a doença acidente de trânsito?

A medicina de tráfego é uma especialidade médica reconhecida pela Associação Médica Brasileira e pelo Conselho Federal de Medicina. E a Sociedade Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) a entidade científica que tem como MISSÃO salvar vidas nos DESLOCAMENTOS HUMANOS, seja no asfalto, na calçada e em outros ambientes.

 

Em vários países do mundo, inclusive no Brasil, o número de óbitos por acidentes de trânsito está bem próximo da mortalidade por doenças cardiovasculares e câncer.

 

A literatura científica nacional e internacional comprova a necessidade de estabelecer objetivos e metas que reduzam os acidentes de trânsito.

 

Desde 1978, a Classificação Internacional de Doenças da ONU/OMS prevê agrupamentos em categorias ou tipos para “Acidentes de Trânsito de Veículos a Motor”.

 

A Organização das Nações Unidas (ONU) continua trabalhando intensamente na redução dos acidentes de trânsito e proclamou os anos de 2011 a 2020 como “A Década da Segurança Viária”.

 

O acidente de trânsito não é acidental, não é uma fatalidade, um azar, um fado. Trata-se de evento que apresenta múltiplos fatores como causa, todas elas evitáveis. A maioria delas ligadas ao condutor ou a outros atores humanos, como o projeto da via e sua manutenção, a administração da via que foi modificada por fatores climáticos ou mecânicos – chuva, neve, óleo na pista, pista inadequada etc., todas controláveis com o planejamento do homem.

 

O Brasil, devido ao seu índice elevado de morbimortalidade, também está incluído no âmbito desse projeto.

 

Para a redução desses índices, a ONU estabelece programa com abordagem sistêmica, ou seja, que leve em conta as múltiplas variáveis que causam essa doença.

 

Variáveis são muitas! No entanto, segundos dados científicos da literatura internacional e nacional, a ingestão de álcool é a principal causa de acidentes fatais na direção veicular.

 

Existe comprovação científica sobre isso, inclusive em trabalhos brasileiros como o da professora doutora Vilma Leyton, do Instituto Oscar Freire (Faculdade de Medicina da USP), no estudo das necropsias de vítimas fatais por acidentes de trânsito.

 

A professora encontrou, em quase metade dos corpos examinados, a presença de álcool no sangue, tanto em mínimas como em grandes concentrações.

 

E a agência governamental norte-americana National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA) documentou:

“Alcoolemia positiva abaixo do limite máximo permitido está presente em 13% dos condutores alcoolizados que morreram em acidentes.”

 

No nosso caso, qual é afinal o limite máximo de álcool no sangue admitido pela lei brasileira atualmente?

A TOLERÂNCIA É ZERO!

 

Destacamos que a ciência confirma que os efeitos de pequenas quantidades de álcool na circulação sanguínea alteram os órgãos dos sentidos e até o comportamento.

 

Após alguém beber o conteúdo de uma lata de cerveja, podem ser observadas alterações do ritmo cardíaco e respiratório, diminuição funcional de centros nervosos e alterações do comportamento, que podem colocar em risco a segurança pessoal e da sociedade.
Assim sendo, a Abramet se posiciona pela TOLERÂNCIA ZERO para beber e dirigir.

 

Há portanto a necessidade de lutar pela mudança de cultura, principalmente na crença de que somos capazes de beber e dirigir. E não vamos esquecer de que o pedestre que bebeu também corre riscos de acidentes no seu deslocamento e até pode ser atropelado por um condutor sóbrio.

 

Caro leitor, queremos transmitir a informação de que na literatura científica não há limite seguro para alcoolemia (presença de álcool no sangue) e direção veicular.

 

Muitos países têm se preocupado. E construíram leis severas para punir motoristas que dirigem sob o efeito do álcool ou outras drogas.

 

No entanto, tentativas de controlar condutores alcoolizados no trânsito estão sujeitas a lacunas do conhecimento e a uma gama de dificuldades práticas.

 

Como compreender as recentes alterações no texto da Lei Seca, que ampliam os meios de prova admitidos contra os motoristas alcoolizados?

Nas avaliações que dependem dos órgãos dos sentidos sempre há subjetividade.

 

Entretanto, no caso da fiscalização do álcool e direção veicular, quando o condutor discordar da subjetividade da pessoa do policial a respeito dos sinais de intoxicação alcoólica aguda, poderá comprovar a não alcoolemia solicitando o etilômetro (ou bafômetro), ou, caso a logística seja possível, uma dosagem sanguínea.

 

O importante é compreendermos a Tolerância Zero para beber e dirigir!

 

Não vamos ficar defendendo estatísticas de acidentes com muito, pouco ou pouquíssimo álcool nos riscos para beber e dirigir. Se cairmos de um abismo de cinquenta, cem ou de duzentos metros, qual a diferença?

 

Muitos trabalhos na literatura científica comprovam a necessidade da Tolerância Zero.

 

Caro leitor, qual a diferença entre matar, ferir, ou morrer, após a ingestão de uma, quatro ou oito latas de cerveja?

Penso no sofrimento da família que perde um ente. Este não diminuirá se souberem que o condutor que matou seu filho querido tomou só uma latinha de cerveja ou só uma caipirinha de Vodka, ou que ele nunca teve pontos na carteira de habilitação e somente naquela noite desobedeceu às leis do Código de Trânsito.

 

A mudança de cultura está relacionada, entre outras variáveis, com a expansão da consciência.

 

A ampliação da percepção é uma possibilidade contínua em todas as pessoas. Porém, algumas percepções têm mais emergência para serem ampliadas, a exemplo deste assunto “álcool e direção veicular”.

 

Como mudar o que é a “verdade” para alguns? Ou, como mudar a crença de que “posso beber e dirigir” para: “se eu beber não posso dirigir”?

Os avanços tecnológicos sobre saúde são amplamente divulgados e enfatizados, por exemplo quanto à prevenção das doenças cardiovasculares e câncer. No mesmo sentido, a doença acidente de trânsito também poderia ser mais esclarecida. Porque o acidente de trânsito é mostrado por vezes como tragédia, e raramente como doença e suas possíveis prevenções.

 

Os vários profissionais do trânsito devem estar unidos para comunicar e contribuir na educação para a mudança cultural contra essa doença. Laços familiares e os projetos educativos das escolas deverão andar de mãos dadas com a legislação.

 

Ações conjuntas e controle efetivo do Estado, onde não falte a fiscalização, são fundamentais para a obtenção de melhoria na segurança de trânsito.

 

Por quê é importante informar constantemente à população sobre álcool e direção veicular?

Por que o risco de “beber e dirigir” não é óbvio, e muitos consideram normal beber e dirigir.

 

A mudança de cultura do beber e dirigir salvará muitas vidas. Mas essa mudança de cultura NÃO cairá do céu! Há muito que o álcool é o reconfortante químico mais utilizado no mundo.

 

Há necessidade, sim, de informar e educar, assim como fiscalizar a lei.

 

Como já foi dito, em 2008, após a implantação da lei 11.705 em muitos estados brasileiros, a exemplo do Rio de Janeiro, houve um decréscimo significativo na estatística de acidentes de trânsito e felizmente da mortalidade no sistema viário.

 

Os impactos dos custos financeiros para o país são mensuráveis; e o sofrimento da família na falta de um ente, como medi-lo?

Nas estratégias de redução de acidentes de trânsito, temos que nos incluir como cidadãos conscientes e comprometidos com a própria vida e a do outro.

 

Caso contrário, cada um de nós poderá morrer ou matar no trânsito e, assim sendo, deixar uma marca humana (ou “desumana”?) no asfalto ou mesmo na calçada.

 

Quando beber álcool, o melhor é se locomover de táxi ou carona, evidentemente com quem não bebeu, e descer na porta de casa. No caso de ser o meio de transporte coletivo, ônibus ou metrô, lembrar que mesmo como pedestre estará com alterações psicomotoras mínimas e poderá ser atropelado no percurso.

 

Com muito afinco e perseverança, a sociedade está construindo uma mudança de cultura. E deve saber que, com isso, declinará efetivamente a mortalidade por acidentes de trânsito.

 

Sobre bombom com licor, deve-se saber que, após bochechos e gargarejo com água, feitos de dez a quinze minutos aproximadamente, não será detectado álcool na cavidade oral pelo etilômetro.

 

A Vida é o bem mais precioso que temos. Certezas são raras! Penso que esta é uma delas: buscar o sentido mais profundo da Tolerância Zero da alcoolemia para dirigir.



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Olímpio Alvares Olímpio Alvares
escreve e convida especialistas em mobilidade urbana a compartilhar opiniões e comentar os assuntos em destaque no noticiário nacional e internacional. Olimpio é engenheiro mecânico pela Escola Politécnica da USP, diretor da L'Avis Eco-Service, especialista em transporte sustentável, inspeção técnica, emissões veiculares e poluição do ar. Atuou durante 26 anos na área de controle de emissões veiculares da Cetesb, concebeu o Projeto do Transporte Sustentável do Estado de São Paulo, o Programa de Inspeção Veicular e o Programa Nacional de Controle de Ruído de Veículos. É fundador e secretário executivo da Comissão de Meio Ambiente da ANTP; diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Sobratt; assistente técnico do Proam; consultor do Banco Mundial, do Banco de Desenvolvimento da América Latina, (CAF) e entre outros órgãos públicos e organizações da sociedade civil, como o Mobilize Brasil..

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