Palavra de Especialista

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novembro
Publicado por Nilson Nunes no dia 07 de novembro de 2011

Nos últimos anos tem sido recorrente a reclamação de usuários dos transportes por ônibus em áreas urbanas brasileiras. As principais reclamações são relativas ao não cumprimento de horários e a superlotação dos ônibus.

 

Mas existem outras, como a beligerância de motoristas e cobradores em relação aos usuários, principalmente quanto aos idosos ou com aqueles com deficiência de locomoção, além do valor da tarifa que, como consta, tem expulsado do sistema uma grande quantidade de usuários.

 

Em face das constantes reclamações dos usuários, nos preocupa em alto grau a postura de operadores de ônibus bem como dos nossos dirigentes públicos, que frequentemente respondem às demandas com sofismas e falsas promessas, sem apontar medidas que vislumbrem, pelo menos no médio prazo, a solução do problema.

 

A comunidade técnica, tanto quanto os operadores e dirigentes públicos, conhece a muito a origem dos problemas e como enfrentá-los. No entanto, todos preferem, assim como o avestruz, esconder a cabeça em um buraco.

 

Como na fábula “O Lobo e o Cordeiro” de Esopo, só falta veicular que a culpa é do usuário (ou da quantidade deles), que insistem em viajar nas horas de pico, pelo desejo fútil de trabalhar ou estudar, ou quem sabe, para ir ao médico.

 

Como ousam esses usuários intrometidos a causar problemas para operadores e dirigentes públicos? Melhor seria se ficassem resignados em suas casas, e como aquela música: “com a boca escancarada esperando a morte chegar…”

 

Ironias a parte, melhor seria se os nossos dirigentes públicos cobrassem das casas do legislativo e do ministério público, ações mais efetivas para o estabelecimento de políticas públicas de transporte do que apoiar medidas perfunctórias como “o dia do orgasmo”.

 

O que a população precisa é de transporte público de qualidade. Para tanto é fundamental a introdução na matriz de transportes públicos de outros modos (tecnologias) que propiciem maior regularidade, conforto e segurança para os usuários. Também o desenvolvimento de uma política tarifária na medida da capacidade de pagamento dos usuários, principalmente os de menor renda.

 

Estas ações requerem que as cidades adotem um planejamento estratégico ancorado em sistemas de transporte de massa, principalmente em modos que operem sobre trilhos como Veículos Leves sobre Trilhos – VLT, Trens Urbanos/Regionais e Metrôs.

 

Somente assim os ônibus poderiam retornar para a sua faixa de eficiência e prestar um serviço útil como outrora.

 

Prof. Nilson Tadeu Ramos Nunes, Ph.D.

Chefe do Departamento de Engenharia de Transportes e Geotecnia – DETG

Escola de Engenharia da UFMG

nilson@etg.ufmg.br

 

A FÁBULA DE ESOPO

O LOBO E O CORDEIRO

Estava bebendo um Lobo encarniçado em um ribeiro de água, e pela parte de baixo chegou um Cordeiro também a beber. Olhou o Lobo de mau rosto, e disse, reganhando os dentes: – Porque tiveste tanta ousadia de me turvar a água onde estou bebendo?

Respondeu o Cordeiro com humildade:

– A água corre para mim, portanto não posso eu turvá-la. Torna o Lobo mais colérico a dizer: – Por isso me hás-de praguejar? Seis meses haverá que me fez outro tanto teu pai. Respondeu o Cordeiro: – Nesse tempo, senhor, ainda eu não era nascido, nem tenho culpa. – Sim tens (replicou o Lobo) que todo o pasto de meu campo estragaste. – Mal pode ser isso, disse o Cordeiro, porque ainda não tenho dentes. O Lobo, sem mais razões, saltou sobre ele e logo o degolou, e o comeu.

 



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