Ciclistas reclamam da interdição total da Ciclovia Tim Maia

Decisão sobre liberação da pista continua pendente na Justiça. Ongs defendem que ao menos o trecho não afetado, entre São Conrado e Barra da Tijuca, seja reaberto

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Fonte: Jornal do Brasil  |  Autor: Maria Luisa de Melo  |  Postado em: 24 de julho de 2018

Na contramão, pelo acostamento do Elevado das Band

Na contramão, pelo acostamento do Elevado das Bandeiras

créditos: Marcos Tristão

 

Ir do Leme ao Pontal sobre duas rodas, em pista exclusiva e segura, é uma reivindicação dos ciclistas cariocas desde 1992. Naquele ano, foram construídas ciclovias isoladas nas orlas de Copacabana, Ipanema, Leblon, São Conrado e Barra da Tijuca, mas sem conectividade entre elas. A grande conexão entre o Leme e o Pontal só foi concluída mais de 20 anos depois, em janeiro de 2016, quando foi inaugurada a ciclovia Tim Maia, construída para ligar, em intervalo de quase 4 km, o Leblon à Barra da Tijuca. 

 

Mas a população usufruiu do equipamento por apenas três  meses. Com o desabamento de um trecho da via num dia de ressaca em fevereiro daquele ano, que resultou em duas mortes, a pista exclusiva foi interditada. Mais de dois anos depois do fechamento, ciclistas da cidade cobram a reabertura de trecho que não foi afetado pela tragédia, de São Conrado à Barra da Tijuca. Mas a decisão de reabertura está nas mãos da Justiça. 

 

“Dois anos não é pouco tempo. Falta vontade de resolver o problema. Se fosse uma via destinada aos carros, certamente tudo já estaria solucionado. Pelo que temos visto, o trecho de São Conrado à Barra não oferece risco. É um pedaço sem problemas que poderia estar sendo usado pela população. Além do uso da ciclovia para o lazer, nos fins de semana, muita gente passava por ali para trabalhar. Com o fechamento, muitos se aventuram em meio aos carros e ônibus”, defende José Lobo, da Ong Transporte Ativo. 

 

Reabrir ou não?

O presidente da Comissão de Segurança do Ciclismo da Cidade do Rio de Janeiro, Miguel Lasalvia, também é defensor da reabertura do trecho São Conrado- Barra da Tijuca. “É um pedaço que não foi afetado em nada. E o pior: a população é impedida de usar, enquanto as peças do guarda-corpo estão sendo roubadas. É um completo absurdo”, indigna-se o ciclista. 

 

Já o presidente  da CPI da Ciclovia, da Câmara de Vereadores do Rio, Renato Cinco, reclama a reabertura de toda a via, desde que a ciclovia seja fechada em dias de ondas acima de dois metros de altura. “Independentemente da estrutura, esse fechamento é importante porque as pessoas não podem ser atingidas por ondas”, justifica, em referência à Gruta da Imprensa, na Avenida Niemeyer, onde a ação da água é mais agressiva e ocorreu o fatídico acidente em 2016. 

 

Questionado sobre a ausência de um estudo completo de impacto das ondas na via, Cinco alega que a análise do trecho que caiu era a mais necessária, e já foi feita. “A origem dos problemas da ciclovia é que ela foi construída sem análise de risco. Agora, temos análise do impacto das ondas na vertical, pelo menos no trecho que desabou. Pelos relatos de diversos técnicos, sabemos que aquele pedaço do desabamento é o mais crítico de toda a extensão. A prefeitura já nos apresentou um sistema de monitoramento das ondas. O protocolo para garantir que a via seja, efetivamente, interditada quando necessário é que ainda é insatisfatório”, admite. 

 

Para Ana Tereza Nadruz, do Movimento “Não vamos esquecer”, criado para acompanhar as investigações depois do desabamento da via, a reabertura de toda a ciclovia é uma completa irresponsabilidade. Apesar de concordar com a reabertura do trecho São Conrado-Barra, ela condena a liberação do percurso entre Leblon e São Conrado. 

 

“Não concordo com a rebertura total. No pedaço do Leblon a São Conrado, a ciclovia não tem rotas de fuga, tem vários precipícios pelos dois lados, é estreita demais para ser compartilhada com pedestres, cheia de curvas reversas que impedem a visão de quem vem do outro lado, podendo causar acidentes diversos. Por fim, não foi validada por órgãos de engenharia como Coppe e Crea em toda a sua extensão”, critica Nadruz. 

 

Ela também ressalta aspectos arquitetônicos-patrimoniais, que estariam sendo negligenciados.  “Lembrando também que o Morro Dois Irmãos é tombado, assim como o Pão de Açúcar e o Corcovado, e não poderia ter havido nenhuma intervenção lá. A vista da Niemeyer é considerada patrimônio imaterial da cidade e foi totalmente descaracterizada pela tubulação de esgoto da Cedae e pela ciclovia. Tal tubulação deveria ser rebaixada ficando na mesma posição que era antigamente, e não exposta. Assim, a ciclovia poderia ser alargada e colar na avenida Niemeyer, diminuindo riscos”, afirma. 

 

Justiça

Um estudo parcial sobre a situação da via, já apresentado pelo Crea, não convenceu o juiz da 9ª Vara de Fazenda Pública a desinterditar a via. Em maio, a Justiça pediu que o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ) desse um novo parecer sobre as condições da ciclovia. O Conselho listou, em ofício, tudo o que precisava ser feito, e indicou que não tinha condições de atender tal demanda. A Justiça, então, determinou que as indicações fossem realizadas pela Prefeitura do Rio e pela Fundação Instituto de Geotécnica (Geo-Rio). 

 

Procurada, a Prefeitura informou que “todos os reparos exigidos foram feitos e o relatório do Crea-RJ cumprido”. Agora, “cabe à Justiça decidir a reabertura do trecho” onde houve o desabamento. Enquanto isso, ciclistas como o paulistano Emilio Teixeira preferem se aventurar, para admirar a beleza da cidade. 

 

“Se houver segurança, a liberação pelo menos de um trecho da ciclovia é fundamental. É um equipamento que poderia estar sendo usado, sobretudo, pela população. Pedalar do Leblon até a Barra é um passeio incrível. Admito que, apesar das interdições, me arrisquei”, reconhece o publicitário, que pedalou ao lado de sua namorada.

 

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