Ciclistas se arriscam em ponte sem infraestrutura na zona oeste de SP

Contagem da Ciclocidade revela que os mais de mil ciclistas que usam a ponte Eusébio Matoso não têm ciclofaixa, sinalização nem qualquer item de segurança para pedalar

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Fonte: Mobilize/ Ciclocidade  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 18 de outubro de 2018

Área para pedalar é precária sobre a ponte Eusébio

Área para pedalar é precária sobre a ponte Eusébio Matoso

créditos: Ciclocidade/ Divulgação

A Ciclocidade - Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo divulgou hoje (18) uma contagem* inédita de ciclistas sobre a Ponte Eusébio Matoso, no Butantã, zona oeste da capital. Essa ponte é uma importante estrutura de conexão com a região de Pinheiros, em São Paulo.  

Durante a contagem, passaram pelo local totais 1.164 ciclistas, sendo que os horários de pico das bicicletas foram entre às 6h e 8h da manhã e das 16h às 18h da tarde. O grande fluxo é de trabalhadores que saem do Butantã com destino ao centro da cidade e, entre eles, 11% são mulheres! 

A coordenadora geral da atividade, Tais Balieiro, explica o sentido desta ação: “A contagem é importante para dar início ao que chamamos de série histórica, quando é possível acompanhar os dados a partir de novas contagens e fazer comparações futuras". Ela lembra que há a previsão de entrega de uma ciclopassarela ao lado da Ponte Eusébio Matoso e "esses dados agora vêm corroborar a necessidade urgente de uma infraestrutura assim no local", ressalta a ativista. 

Conexões
A área está dentro dos limites da Operação Urbana Faria Lima, que desde 1994 prevê conexões cicloviárias entre a Cidade Universitária e a Avenida Faria Lima. Hoje, a ciclovia nessa avenida tem uma média diária de mais de 7 mil viagens de bicicleta. Mas a conexão com a Eusébio Matoso e outras duas pontes (Bernardo Golfarb e Jaguaré) ainda não saiu do papel.  

A entrega da ciclopassarela estava prevista para 2017, com a verba já publicada no Diário Oficial, mas uma nova atualização do cronograma jogou a obra para 2021. Até lá, os ciclistas precisam se "equilibrar" entre pedestres e, muitas vezes, entre os carros. 

Do lado norte da ponte, já em direção ao centro da cidade, falta espaço para a mobilidade ativa, e por isso os ciclistas utilizam (em 70% dos casos) a calçada para pedalar, observa o coordenador local Sasha Hart. 

A contagem revelou também outras particularidades dos ciclistas que utilizam a Ponte Eusébio Matoso, por exemplo as faixas etárias e os tipos de bicicleta. Destaque para as bikes compartilhadas sem estação, que nessa região são usadas por 9% de quem pedala por ali. 

A contagem também chama atenção para a desproporcionalidade de infraestrutura frente ao grande número de ciclistas e pedestres. No local, não há nem mesmo sinalização adequada para garantir a segurança dos que vão a pé ou de bicicleta. Isso em uma via onde a velocidade máxima é de 50 km/h, com direitas livres. 

“A cidade de São Paulo, de modo geral, é mal sinalizada e quem morre mais são os pedestres e ciclistas. Em pontes como a Eusébio Matoso, a preocupação deveria ser ainda maior”, lamenta Tais. 

Ciclovia da Marginal
Localizada próxima à estação Butantã do metrô (Linha 4-Amarela), à estação intermodal (metrô/CPTM/ônibus) Pinheiros e estação Rebouças-Hebraica da CPTM, a ponte Eusébio Matoso recebe ainda o tráfego intenso do corredor exclusivo de ônibus. Num ambiente tão cercado pela mobilidade urbana, o ciclista que passa pela ponte não encontra conectividade com a ciclovia próxima da Marginal Pinheiros.  

"Esta ponte passa por cima da ciclovia da Marginal Pinheiros, porém elas ainda não estão conectadas. Isto seria possível através de uma obra relativamente pequena e simples. Ela criaria uma opção sustentável para quem usa a saturada linha de trem da CPTM ou sofre com o trânsito de carros na Marginal Pinheiros e de bicicletas na ciclovia da Avenida Faria Lima”, argumenta Sasha. 

A contagem traz ainda observações sobre usos do solo, infraestrutura cultural e de lazer e trata de aspectos de arborização e conservação das calçadas. Por fim, o relatório elenca demandas urgentes como “instalação de lombofaixa, redutor de velocidade ou outras formas eficazes de acalmamento, em alças de acesso da ponte”. 

Metodologia
O método utilizado para a contagem foi desenvolvido pela Associação Transporte Ativo, do Rio de Janeiro. Trata-se de uma planilha com um desenho esquemático do local, com espaços a serem preenchidos com a origem e destino do ciclista, além de informações complementares como acessórios, faixa etária, gênero, tipo de bicicleta etc. 

*Colaboraram nesta contagem: Jô Pereira; Fernando de Abreu; Rachel Schein; Fellipe Rinco; Lucas Hart; Thais Oewel; Aline Cavalcante; Paulo Alves; Manuela; Adriana Marmo; Fabio Miyata; Luiz Andrade; Bosco; Ronaldo Reina; e Theresia-Louise. 

Clique aqui para acessar o relatório da Ciclocidade.

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