"Elétricas abrem um novo capítulo para a bicicleta no Brasil"

Em entrevista, Daniel Guth, executivo da Aliança Bike, responde a algumas dúvidas sobre a expansão do uso de bicicletas elétricas no Brasil

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa / Mobilize Brasil  |  Postado em: 12 de março de 2019

Daniel Guth: bikes elétricas compartilhadas

Guth: elétricas podem atrair novos ciclistas urbanos

créditos: towardsthehumancity.org


Como você e a Aliança Bike estão vendo a chegada das bikes elétricas aos sistemas de bicicletas compartilhadas aqui no Brasil? Algumas pessoas temem que o uso desses veículos mais rápidos possa provocar acidentes e conflitos com pedestres e outras bicicletas...
 

A ideia do comparilhamento é fantástica porque permite que as pessoas  - especialmente aquelas que querem sair do automóvel - possam experimentar as elétricas. Essa experiência não concorre com a indústria e com o comércio varejista e na verdade alimenta e fortalece esse setor da economia. Abre um novo capítulo na difusão da bicicleta no Brasil. Um dado recente, divulgado pelo sistema Citibike, de Nova York, mostra que nos últimos seis meses os usuários deram preferência às bicicletas elétricas em suas viagens pela cidade e redondezas (veja gráfico).

 

Uso de bicicletas do sistema Citibike em Nova York Fonte: Media Corporation

 

Mas, e os problemas de segurança?

Primeiro é necessário distinguir o que é uma bicicleta elétrica. É importante entender que o motor elétrico só é acionado quando a pessoa pedala e por isso o conceito da bike elétrica se aproxima daquele da bicicleta comum. A assistência elétrica é cortada quando a velocidade chega à velocidade máxima de 25 km/h e, a partir daí, ela se torna mais pesada. Com a assistência elétrica o ciclista ganha mais cadência, mais regularidade, e aumenta a capacidade de vencer subidas. Quem usa uma bike elétrica tem uma velocidade média mais alta, mas as velocidades máximas são menores do que as uma bicicleta comum. Já quando existe um acelerador e a potência ultrapassa 350 watts, a legislação brasileira considera que não se trata de uma bicicleta, mas um ciclomotor elétrico, e que não pode circular em ciclovias. 


Por que 25 quilômetros por hora? Não é muito para uma ciclovia?

Essa velocidade foi adotada no Japão e na Europa nos anos 2000 com base na experiência. Não é um número cabalístico. A velocidade de 25 km/h garante uma boa visão periférica e é adequada para uma frenagem com segurança. Se o Brasil adotasse um limite de velocidade diferente, a indústria teria que produzir bicicletas específicas para o país, certamente com custos mais altos.

 

Bicicleta elétrica para compartilhamento sem estações na Califórnia, EUA Foto: Spin

 

 Aqui no Brasil, com a infraestrutura cicloviária atual, com ciclofaixas estreitas, buracos e irregularidades, há locais onde não seria seguro circular nessa velocidade. E em certos locais há conflitos com a circulação de pedestres e até do tráfego motorizado...

Uma coisa é a regulamentação de velocidade da bicicleta, outra coisa é a regulamentação de velocidades no trânsito. Em trechos cicloviários onde haja interferências cabe ao poder público estabelecer a velocidade máxima para as bicicletas. Em locais como a avenida Sumaré, em São Paulo, onde a ciclovia é compartilhada com os pedestres, o limite de velocidade deve ser mais baixo. Já em uma ciclovia como a da Marginal do Pinheiros (separada das vias urbanas), a velocidade pode ser maior.

 

Mas, enquanto não há essa regulamentação, certamente teremos alguma confusão entre pedestres, carros, patinetes, skates, bicicletas comuns e bicicletas elétricas...Como você vê esse futuro?

Acho que devemos comemorar o grande movimento nas ciclovias da cidade, como acontece na avenida Faria Lima, em São Paulo. Como fizemos no passado, agora, temos que lutar por mais e melhores infraestruturas: alargar as ciclovias, estabelecer novas conexões e consolidar novas rotas nas cidades. Temos mais de 40 mil mortes no trânsito do país e as pessoas estão discutindo o excesso de bicicletas na Faria Lima. Temos que acabar com esse "farialimacentrismo" e trabalhar para ampliar os serviços de bicicletas compartilhadas para outras área da cidade. Tudo o que permitir a substituição dos carros por veículos com baixas emissões de poluentes deve ser estimulado. E devemos estimular a convivência e o compartilhamento dos espaços públicos. 

 

Há quem veja a bicicleta elétrica como um veículo elitista e, de alguma forma, um símbolo de status, tal como o carro foi no passado. Como quebrar esses preconceitos?

Num pais que produz mais de 5 milhões de bicicletas, 31 mil bikes elétricas é realmente pouca coisa. A bicicleta elétrica ainda é um produto pouco acessível, distante da maioria da população. Seu uso  é incipiente, especialmente pelo custo e pela alta tributação. Mas, considerando a experiência internacional, está claro que esse mercado vai crescer muito no país. Na Holanda, país onde existem duas bicicletas por habitante, as elétricas hoje são 409.400 unidades e representaram 40% das vendas em 2018. Os dados foram publicados no relatório da Associação Holandesa da Indústria (RAI)

 

Vendas de bicicletas na Holanda 2011-2018


Temos um potencial de crescimento para uma faixa de entrada de quem ainda não está na bicicleta. O mercado da elétrica vai começar pelas pessoas que vem do automóvel e não pelas pessoas que já utilizam a bicicleta em seus deslocamentos. A Aliança Bike vai realizar uma pesquisa sobre esse mercado, mas pelas sondagens preliminares já notamos que os novos usuários vem do automóvel. 

 

Saiba mais sobre bicicletas elétricas no livro Bicicletas elétricas - como e por que incentivá-las

 

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