Acidentes envolvendo ciclistas aumentam 100% em Volta Redonda (RJ)

O Ciosp (Centro Integrado de Operações e Segurança Pública) funciona desde maio de 2010 e um dado vem assustando o setor: o número de acidentes envolvendo ciclistas

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Fonte: Diário do Vale  |  Autor: Angélica Arieira  |  Postado em: 03 de abril de 2012

Ciclista em Volta Redonda (RJ)

Ciclista em Volta Redonda (RJ)

créditos: Divulgação

Para se ter ideia, de janeiro a março de 2011 foram registrados pelo centro de operações 21 chamados para atendimentos de situações de acidentes e atropelamentos envolvendo ciclistas. E este ano o número dobrou no primeiro trimestre: até o dia 29 de março já haviam sido registradas 42 ocorrências com ciclistas - número que corresponde a mais da metade de todos os atendimentos realizados este ano pela unidade.

 

O aumento de 100% no número de casos chama a atenção para o fato de que, no geral, estes acidentes causam vítimas muitas vezes fatais. Para a Guarda Municipal, a principal causa de atropelamentos é a falta de cuidado.

 

O Código Brasileiro de Trânsito estabelece que a melhor conduta no tráfego é o respeito, mas, segundo o comandante da GM, major Luiz Henrique, é justamente pela falta deste quesito que acontece a maioria dos acidentes.

 

Ele explicou que percebe-se que a orientação do código de trânsito é desrespeitada, principalmente, em atropelamentos de pedestres e ciclistas.

 

- Pelo que rege nosso código, os veículos maiores sempre devem zelar pela segurança dos menores e do pedestre, mas, por falta de respeito e principalmente negligência e imperícia, não se vê isso ocorrendo nas vias, o que acaba gerando tantos problemas e acidentes neste sentido - explicou.

 

O comandante explica que o que se percebe hoje nas principais vias é uma disputa por espaço e agilidade - o que, na maioria das vezes, acaba afetando diretamente os veículos menores e condutores de motos, bicicletas e pedestres, os mais vulneráveis.

 

Disputando um lugar

 

Não é somente o comandante da GM que reconhece haver nas vias uma disputa por "território" que, no geral, causa acidentes e ceifa vidas. Para a motorista Vivian Bernardi, as ruas estão repletas de preconceito tanto em relação ao tipo de veículo, quanto ao sexo do condutor.

 

- Quanto menor o veículo, maior o preconceito. Sou motorista de carro de passeio, mas observo que condutores de caminhões e ônibus, principalmente, não têm o menor respeito com veículos muito pequenos, pedestres e ciclistas. Além disso, quando veem que é uma mulher dirigindo, aí é que há desrespeito mesmo. Eles dirigem de maneira agressiva, jogam o caminhão para cima. Os ônibus não ficam atrás, entram do nada na frente - reclamou ela, lembrando que também existe, em alguns casos, imprudência por parte de ciclistas e pedestres, mas menos danosa.

 

A pedestre Bruna Muniz, que mora no Vila Rica, tem uma opinião parecida quanto à má conduta de motoristas de veículos grandes. Para ela, o fato de estarem guiando carros pesados faz com que alguns condutores acreditem ter preferência no tráfego.

 

- Por serem maiores os caminhões e ônibus trafegam na maior parte das pistas e talvez, por esse motivo, sintam que as elas são exclusivamente deles, não dando o espaço que é definido por lei para os pedestres e ciclistas. Estes, que são menores e mais desprotegidos, acabam sendo vitima de imprudências por conta disso - avaliou.

 

Punições

 

O comandante da Guarda Municipal reconhece que possa haver - e muitas vezes há - conduta inadequada de pedestres e ciclistas, mas, embora entenda que deva haver punição para quem desrespeitar as determinações, a lei não as estabelece e deixa a orientação por conta dos municípios.

 

- Fica por conta da Guarda Municipal orientar pedestres e ciclistas. Temos feito trabalhos neste sentido. Em relação aos ciclistas nos focamos nos pontos da cidade em que existe via exclusiva para eles, a exemplo da Avenida Adalberto de Barros Nunes (Beira-Rio). Lá temos um grupo de Guarda que, vendo qualquer conduta inadequada, está orientado a abordá-los e fazer a orientação. Trabalhos com a prevenção - explicou.

 

Ciclistas afirmam que condutores de carros ignoram segurança de quem usa bicicleta

 

João Carvalho da Costa usa a bicicleta todos os dias para ir ao trabalho e, mesmo destacando os benefícios desta prática, admite que esta tem se tornado uma atividade cada vez mais perigosa em Volta Redonda.

 

- Passo geralmente pela Avenida Beira-Rio, que tem uma ciclovia, mas até chegar lá tenho que usar as vias sem espaço para ciclistas. É um perigo danado, principalmente, pelo fato de que o motorista se revolta e acha que estamos ali para atrapalhá-lo. Tem gente que joga o carro em cima de nós a troco de nada. Uma falta de respeito - afirmou ele.

 

O major Luiz Henrique afirmou que, apesar de não haver um estudo estatístico sobre os locais de maior incidência de acidentes envolvendo ciclistas, as experiências do grupamento apontam que são justamente nas vias que dão acesso à Avenida Almirante Adalberto de Barros Nunes que ocorrem grande parte dos chamados de atendimento.

 

- Não há locais específicos, mas as vias que dão para a Beira-Rio costumam sempre apresentar acidentes neste sentido e, por isso, sempre estamos atuando por ali com estratégias de conscientização - esclareceu.

 

Motoristas de grandes veículos questionam falta de repressão

 

Em contraponto à opinião de pedestres e motoristas de veículos menores, o condutor Luiz Mariano da Silva, que trabalha com transporte de cargas em Volta Redonda, explica que há uma dificuldade muito grande ao se transitar em vias em que não há faixa exclusiva para ciclistas.

 

- É muito complicado colocar a culpa em quem dirige carreta ou ônibus. Por mais que queiramos frear em determinadas situações, o peso do veículo impede que evitemos acidentes. O que falta é um pouco de conscientização por parte dos ciclistas de que é preciso mais prudência ao cortar grandes veículos, principalmente pela direita - argumentou.

 

Marciano da Silva Oliveira, que dirige ônibus há 30 anos, alega que a mesma cobrança que há sobre os motoristas deveria haver em relação a qualquer pedestre ou ciclistas que usem vias de tráfego intenso.

 

- É fácil colocar a culpa na gente. Eles usam os equipamentos de segurança? Não. Avisam que vão entrar na via? Também não. Não fazem quase nada e sequer são punidos por isso. Sou a favor de que se criem regras para eles e que, se não forem cumpridas, sejam duramente punidos como todos os motoristas - finalizou.

 

Confira os dados do Ciosp sobre acidentes envolvendo ciclistas

 

2010
Total geral de atendimentos: 147
Mês  Com ciclistas
Maio 5
Junho 7
Julho 6
Agosto 4
Setembro 4
Outubro 5
Novembro 8
Dezembro 6
Total  44


2011
Total de geral de atendimentos: 294
Mês  Com ciclistas
Janeiro 2
Fevereiro 10
Março 9
Abril 7
Maio 6
Junho 16
Julho 8
Agosto 17
Setembro 13
Outubro 11
Novembro 8
Dezembro 8
Total  115


2012
Total de geral de atendimentos: 83
Mês  Com ciclistas
Janeiro 18
Fevereiro 10
Março 14
Total  42

 

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