O risco de atropelamentos que ronda o BRT Transoeste

Pedestres são flagrados arriscando a travessia fora das faixas e ciclistas pedalam no corredor do BRT. Motivo: falta de opção, já que não há calçada ou ciclovia no local

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Fonte: O Globo  |  Autor: Rafaella Barros  |  Postado em: 24 de julho de 2012

BRT Transoeste, no Rio

BRT Transoeste, no Rio

créditos: Paulo Alvadia

 

Isoladas no meio do canteiro central da Avenida das Américas e distantes das faixas de pedestres dos sinais de trânsito, algumas estações do BRT Transoeste (Barra-Santa Cruz) passaram a ser um convite ao risco de atravessar a perigosa avenida em qualquer ponto.

 

A equipe de reportagem de O Globo percorreu todo o corredor expresso, inaugurado há pouco mais de um mês, e constatou que pelo menos quatro estações - Guignard, Gelson Fonseca, Pedra de Itaúna e Santa Mônica, todas no trecho entre a Barra e o Recreio - estão mais distantes dos sinais do que as demais. Da estação Santa Mônica até a faixa de pedestres mais próxima, por exemplo, o passageiro dos "ligeirões" tem que caminhar 120 metros.

 

A reportagem flagrou não só pedestres arriscando a travessia fora das faixas como ciclistas pedalando no corredor exclusivo dos ônibus, também por falta de opção: não há ciclovias. A empregada doméstica Marilene Coelho, que trabalha próximo à estação Nova Barra, admite que, quando está com pressa, atravessa fora da faixa: "Os pontos de ônibus tinham que ser mais perto da faixa. Essa distância acaba incentivando as pessoas a atravessarem longe do sinal", declarou.

 

Desde a sua implantação, o sistema de ônibus articulados registrou nove acidentes, sendo três atropelamentos. No último dia 6, o jardineiro Paulo Sérgio de Macedo foi atropelado quando caminhava na faixa exclusiva do BRT, no sentido Recreio. Atingido por um ônibus próximo à estação Novo Leblon, chegou a ser levado para o Hospital municipal Lourenço Jorge, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. No dia 26 de junho, Marlon Martins Barbosa, de 23 anos, caminhava sobre a divisória da pista exclusiva, também na altura da estação Novo Leblon, no sentido Alvorada, quando foi atingido por um dos ônibus articulados. O rapaz foi levado para o Lourenço Jorge com ferimentos leves. No dia seguinte, um operador da CET-Rio que estava numa motocicleta foi atingido por um coletivo em Mato Alto, em Guaratiba. Ele orientava motoristas no momento do acidente.

 

A svenida das Américas ocupa o primeiro lugar no ranking das vias da cidade com mais acidentes. Só entre 17 de maio e 12 de julho, ela registrou 232 casos, com cinco mortes.

 

Para o professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ Paulo Cézar Ribeiro, o ideal seria que as faixas de pedestres ficassem o mais próximo possível das estações do BRT, de modo a não encorajar as pessoas a atravessarem fora delas: "O sujeito dificilmente vai andar cem metros, o que é quase um quarteirão, até o sinal de trânsito"

 

Para o corretor Raul Cardoso, os atropelamentos são uma questão de educação no trânsito, mas alguma medida deveria ser tomada para minimizá-los. "O acesso a todas as estações poderia ser por uma passagem subterrânea, igual à da estação Novo Leblon", sugere.

 

Para a Secretaria Municipal de Transportes, as distâncias de caminhada entre as faixas de pedestres e os acessos às estações estão dentro das normas de conforto e acessibilidade.

"Não há registro de atropelamento no acesso às estações, ou seja, as vítimas não são usuárias do BRT. Vale dizer que ninguém foi atropelado acessando ou saindo dos ligeirões", alega o secretário Alexandre Sansão.

 

Ele explicou que não é permitida a instalação de passarelas em vias arteriais com cruzamentos, como a Avenida das Américas. O Plano Lúcio Costa não permite passarelas na via. Além disso, Sansão acredita que passarelas não eliminariam o problema da travessia irregular. Ele destacou que não houve variação no número de acidentes na via, incluindo atropelamentos, após a implantação do BRT.

 

Em vez de gradis, plantas espinhosasA secretaria, no entanto, informou que serão plantadas mudas de coroa-de-Cristo, com espinhos, nos canteiros centrais da avenida, para impedir a travessia irregular. A vegetação formaria uma cerca viva, alternativa melhor do que a instalação de gradis, que costumam ser depredados. A medida já está em fase de execução pela Fundação Parques e Jardins.

 

A CET-Rio informou que intensificará a campanha de esclarecimento ao público lançada antes da implantação do BRT. O objetivo é fazer com que as normas de trânsito sejam respeitadas também por pedestres e ciclistas.

 

Com relação à ausência de ciclovia no trecho, o secretário municipal de Meio Ambiente, Altamirando Moraes, disse que a prefeitura não tem planos de instalar um sistema paralelo ao BRT para não concorrer com ele. A ideia é incentivar o tráfego de bicicletas nas áreas internas do bairro, alimentando o BRT. Ele adiantou que o serviço Bike Rio para a Barra e o Recreio já está em fase de licitação e será implantado até o fim do ano.

"Há ciclovia no trecho da Grota Funda porque ali é uma região mais rural. Não vamos instalar na Avenida das Américas, antes do túnel, porque vamos fazer ciclovias nas ruas transversais, para que haja conexão entre os dois sistemas", explicou.

 

Na falta de uma ciclovia na avenida, muitas pessoas preferem correr o risco de usar a faixa exclusiva dos ônibus articulados a encarar o tráfego pesado nas pistas laterais. Apesar de pedalar corretamente pelo meio-fio da pista comum, Sandro Conceição, escapou por pouco de um atropelamento: "Eu tenho medo, mas não vou me arriscar e andar na faixa do BRT. Ali, com certeza, é mais perigoso".

 

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