Belém do Pará: Uma cidade sobre duas rodas

De acordo com a Companhia de Transportes do Município de Belém (CTBel), na capital paraense existem seis ciclofaixas e apenas três ciclovias.

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 |  Autor: Diário Online  |  Postado em: 26 de março de 2011

Fotógrafo Miguel Chikaoka

Fotógrafo Miguel Chikaoka

créditos: Tarso Sarraf

Todos os dias, lá pelas 8h30, o fotógrafo Miguel Chikaoka sai de sua casa sem a ‘armadura’ que muitas pessoas costumam usar para se locomover: o carro. De bicicleta, ele percorre todo o caminho que o leva para o trabalho espremido entre os veículos nas estreitas ruas do bairro do Comércio, em Belém. Enquanto os carros ficam presos nos constantes engarrafamentos, ele segue pelos corredores com mais rapidez que qualquer motorista. “Há sempre um risco. A gente está mais exposto.”

 

Há três anos, Chikaoka, que já utilizava a bicicleta para o lazer, optou por fazer do veículo um meio de locomoção cotidiano. Durante seu deslocamento, exercita não só o corpo, mas também a mente. “Tenho que encontrar soluções diariamente, exercito a percepção. Quando estou de bicicleta, procuro sempre prever o que pode me acontecer a 30 metros”, explica.

 

Mas essa prática é, muitas vezes, desestimulada pela falta de estrutura física que a capital oferece para os ciclistas. Apesar da grande movimentação de bicicletas por diversos bairros de Belém, são poucas as ruas que oferecem espaço reservado para os ciclistas.

De acordo com a Companhia de Transportes do Município de Belém (CTBel), na capital paraense existem seis ciclofaixas e apenas três ciclovias. Dentre elas, a maior é a da rodovia Arthur Bernardes, que liga o distrito de Icoaraci à avenida Pedro Álvares Cabral, com 14 quilômetros de extensão.
“Eu inexisto como direito. Procuro exercitar o meu direito me deslocando nas brechas que encontro”, diz Chikaoka sobre a falta de faixas específicas para ciclistas na maior parte da cidade. “Há uma desigualdade evidente quanto às prioridades entre bicicletas e outros veículos. Nem sempre esse problema é culpa da gestão, mas também do cidadão. É tudo uma questão de convivência pacífica, de respeito ao outro”, acredita.

O agente de viagens Robinson Bahia também utiliza a bicicleta como principal meio de transporte, mas, como circula pelas ruas do centro da cidade, também não desfruta da possível sensação de segurança que as ciclovias podem proporcionar. Entretanto, ele atribui as dificuldades de locomoção dos ciclistas mais à falta de respeito dos condutores de outros veículos do que à ausência de ciclovias. “O respeito à vida vem acima de tudo. Apesar da falta de espaço para ciclistas, a falta de respeito ao compartilhamento do espaço da rua é pior”.

Há três anos, Robinson usa a bicicleta para ir a qualquer lugar num raio de cinco quilômetros. Apesar de ter carro, acha que a bicicleta é a melhor opção. “A bicicleta é a forma mais inteligente de se locomover. Não sou contra o carro. Sou a favor que se use o carro quando for realmente necessário.”
Mesmo já tendo experiência, ele ainda se sente desprotegido entre os carros que passam a poucos centímetros dele. “A gente se sente nu. Mesmo usando capacete, luzes, roupas coloridas, nos sentimos desprotegidos. As pessoas (motoristas) nos olham, mas não nos enxergam”.

Porém, para que esse meio de transporte possa ser usado de forma inteligente, como aponta Robinson, muito ainda precisa ser modificado em Belém. O arquiteto e urbanista especialista em Planejamento em Transporte Urbano, Paulo Ribeiro, avalia que Belém é favorável ao uso da bicicleta, mas falta estrutura física. “É uma cidade plana, com potencial muito grande para esse transporte, além do grande uso do veículo pela população de baixa renda. O volume (de bicicletas) é muito grande e Belém não tem estrutura adequada.”

Para ele, o principal problema é a falta de interligação das ciclovias que já funcionam. “Todo município que tem mais de 500 mil habitantes tem que ter um Plano Diretor de Mobilidade e Belém não tem isso. Quando pensamos em mobilidade, temos que pensar de forma ampla.”

Quem usa por necessidade sofre com falta de estrutura

Um exemplo dessa falta de estrutura apontada pelo especialista pode ser observado ao longo da rodovia Augusto Montenegro. O grande fluxo de veículos e a situação crítica em que se encontra a ciclofaixa colocam em risco os ciclistas que passam pelo local. “Não respeitam nada aqui. A gente tem que andar no meio da rua”, reclama o comerciante Luiz Carlos Barbosa, que usa a bicicleta para trabalhar há pelo menos dez anos.

Tendo que enfrentar problemas diariamente, ele lembra que uma ciclovia, que garantiria mais segurança aos ciclistas, começou a ser construída na rodovia, mas até hoje não foi concluída. “Não ajeitaram nada. Começaram a fazer e não terminaram”.

De acordo com o coordenador de Trânsito da CTBel, Isaías Reis, as obras de construção da ciclovia foram interrompidas em decorrência de outro projeto do governo do Estado. “A obra parou por causa da Ação Metrópole, porque se continuássemos as obras iam conflitar. O Ação Metrópole vai ser um grande projeto, seria um gasto desnecessário que ficaria por pouco tempo”, justifica.

Enquanto isso, os ciclistas que precisam passar pela rodovia são obrigados a se arriscar. A ciclofaixa cheia de buracos e lama dificultam a passagem de pessoas como o borracheiro Mário Alves de Oliveira, que depende da bicicleta para se locomover. “A gente tem que desviar dos buracos e corre o risco até de sofrer um acidente”.
Ele, que utiliza a bicicleta por necessidade, sofre com as condições de tráfego da rodovia. “Quando a gente não tem dinheiro para o ônibus, a gente anda de bicicleta, apesar do perigo”.

 


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