Ciclistas pedem passagem no ABC

São pouco mais de 32 km de ciclovias e 824 km² de ciclofaixas que compõem o ABC, proporção que deixa a desejar na avaliação de ciclistas e especialistas

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Fonte: Repórter Diário  |  Autor: Da redação  |  Postado em: 11 de março de 2013

Os ciclistas preferem a bicicleta pois é mais econ

Os ciclistas preferem a bicicleta pois é mais econômica

créditos: Pedro Diogo

 

Além das poucas opções de espaço para pedalar, os usuários de bicicletas reclamam da falta de interligação entre as ciclofaixas e do desrespeito de motoristas de carros, caminhões e ônibus nas vias comuns. Apesar da deficiência no modal, os ciclistas ainda preferem a bicicleta por questões econômica e saúde.

 

Para o professor do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana), Creso de Franco Peixoto, a ciclovia passa a ser efetiva na questão do trânsito quando serve ao trabalhador. "Deve haver ligação entre locais próximos à moradia e pontos de transporte público eficazes", afirma. Para tornar o sistema viável, também deve haver bicicletários nestes pontos.

 

Em Mauá, o encarregado de ferragem Acassio de Almeida adota a magrela como meio de transporte no dia a dia. "Uso bicicleta para tudo, principalmente para trabalhar", conta Acássio, que leva 45 minutos até o trabalho em Santo André. Acassio não reclama do tempo de deslocamento ou de sair de casa mais cedo para conseguir passar ducha no corpo. A crítica é sobre a falta de ligação para ciclistas entre os dois municípios. "Não há ligação entre a ciclovia de Mauá e a de Santo André. Neste espaço sem ciclovia, há muito desrespeito do motorista e não dá para competir", afirma.

 

Já Carlito Fernando de Sá diz que não se atreve a pedalar na avenida Castelo Branco. "Procuro sempre ir pela ciclovia, com calma. Se não tem ciclovia, prefiro usar a calçada, porque na avenida os motoristas não respeitam", reclama o morador de Mauá, que usa bicicleta há 15 anos.

 

Segundo Silvana Zioni, professora de Engenharia Ambiental e Urbana, Planejamento Territorial e Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC, a organização do espaço viário privilegia o automóvel. "Ninguém discute sobre os malefícios do transporte individual motorizado e os benefícios do transporte coletivo ou não motorizado. É uma forma de acomodação", critica.

 

Errado

Silvana entende a construção de ciclovias como etapa para o ciclista ganhar espaço, mas não como a solução para o problema de mobilidade. "A imposição de faixas é quase uma manifestação política de que aquele espaço está reservado. Estamos tentando administrar vias públicas - que são da sociedade - nos apropriando individualmente. Se for ver a ciclovia também é uma apropriação", analisa a professora. Para a especialista, o ideal é que a bicicleta ganhe espaço nas vias, que haja convivência e até equilíbrio a favor dos transportes coletivos e não motorizados.

 

Para o professor Creso, a possibilidade é ideal, mas ainda está longe de ser realidade. "Acredito na ciclovia para hoje, na ciclofaixa para amanhã e na convivência entre os veículos para um futuro". O engenheiro é resistente à implantação da ciclofaixa atualmente por questões de segurança e desrespeito frequente às leis de trânsito.

 

Preço elevado da tarifa estimula novos adeptos

Outra reclamação latente é sobre a tarifa de ônibus. "Eu não tenho condição de pagar R$ 6,60 [preço de duas passagens] para ir e voltar do centro, trajeto que levo 20 minutos de bicicleta", afirma Carlito.

 

Anderson de Melo Barros adotou bicicleta para ir ao trabalho há dois anos, desde quando começou a trabalhar de garçom no Mauá Plaza Shopping. "Pagar R$ 3,30 diariamente por 10 minutos até o Centro é inviável e hoje gasto apenas R$ 5 por mês com estacionamento", conta Anderson, que gasta 15 minutos de pedaladas entre sua casa e o trabalho.

 

Patrick Souza adotou a bicicleta por causa da saúde há três anos. "Tenho hipertensão e quando passei a ir de bicicleta para o trabalho, diminui consideravelmente a quantidade de medicamentos", afirma o manobrista também de Mauá.

 

Ampliação de vias ainda está no papel

Ainda em fase de projeto, o Consórcio Intermunicipal Grande ABC segue com três frentes na formulação do Plano Cicloviário Regional: ciclofaixa de lazer, ciclovias e bicicletas de aluguel, como complemento ao transporte público.

 

"A ideia da bicicleta de aluguel é que, nos deslocamentos rápidos, o usuário possa pegar a bicicleta numa das estações e devolver em outra, sem custo, e complementar a viagem com trem, metrô, ou mesmo ônibus", explica Andrea Brisida, integrante do Grupo de Trabalho Mobilidade do Consórcio.

 

Na opinião do professor Creso, o aluguel das bicicletas deveria exigir um valor simbólico do usuário. "Assim como para os bicicletários, deve haver um custo baixo para a população valorizar o serviço", analisa.

 

Santo André pretende implantar ao todo 13,66 km de ciclovias, sendo que 5 km seriam só na avenida Lauro Gomes. As outras rotas passariam pelas avenidas marginal ao Córrego Taioca e Firestone, além da Estrada do Pedroso no trecho do parque e a via projetada paralela à linha férrea, entre a rua Itambé e a avenida Presidente Roosevelt.

 

Já em São Bernardo se encontra em estudo a implantação de ciclofaixa de lazer aos domingos, num total de 4 km, entre as avenidas Aldino Pinotti e Lauro Gomes até a rua Sérgio Vieira de Melo. Outro projeto é a instalação de ciclofaixa de lazer na avenida Kennedy.

 

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Comentários

Hellen Haga - 30 de Abril de 2013 às 18:51 Positivo 2 Negativo 0

Ciclofaixa de lazer é esporte de rico. Pobre (e hipsters) usam a bicicleta como transporte. Estou cansada de políticos que acham que ciclofaixa de domingo é solução para qualquer coisa.

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