Após 27 anos, obras do metrô de Fortaleza continuam inacabadas

População ainda espera o pleno funcionamento do transporte sobre trilhos para facilitar a mobilidade urbana

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Fonte: Diário do Nordeste  |  Autor: Thiago Rocha/Patrícia Holanda  |  Postado em: 29 de setembro de 2014

No bairro Edson Queiroz, a Linha Leste está no iní

No bairro Edson Queiroz, a Linha Leste está em construção

créditos: FERNANDA SIEBRA

 

Quando o Ministério dos Transportes e o governo do Estado criaram o consórcio ferroviário, chamado Metrofor, no dia 25 de setembro de 1987, a expectativa era que as obras fossem concluídas em até três anos. Hoje, 27 anos depois, os cearenses ainda não viram o Metrô de Fortaleza funcionando plenamente. A Linha Sul está há dois anos em operação assistida e a Linha Oeste precisa ser modernizada. Já as obras da Linha Leste, cujo projeto começou no ano 2000, tiveram início em fevereiro.

 

A dona de casa Maria Lucina dos Santos, 66, ainda sonha com a inauguração do equipamento. Residindo há quase 50 anos em uma pequena vila, a vista da janela é a Estação Porangabussu, que permanece inacabada. "Quero que essa estação funcione logo para eu poder visitar a minha filha mais velha, que mora bem próximo à Estação Vila das Flores (atual Carlito Benevides)", afirma.

 

Apesar de ter esperanças, Lucina não esconde a descrença na conclusão da obra. "Até os meus filhos já casaram. Daqui a pouco, verei meus netos casarem também, e nada do metrô ser concluído", reclamou.

 

A aposentada Teresinha Maia Farias, 58, relembra do tempo que foi morar no mesmo vilarejo, quando já se falava na construção do Metrofor. "Aqui, as casas ainda eram de taipa, não tínhamos nem luz direito. Mas, naquela época, a história de que Fortaleza teria um metrô já existia. Hoje, o meu neto já tem 21 anos e ainda não vimos nada funcionando direito", lamenta.

 

O professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Sales, que faz parte da elaboração do projeto, lembra que a concepção começou em 1986. "Originalmente, não era um metrô e, sim, a modernização das linhas Norte e Sul da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU)", explicou.

 

Sales acredita que a demora faz com que o projeto fique prejudicado, pois a população cria grandes expectativas. Até hoje, apenas parte da Linha Sul está em funcionamento, mas apenas simbolicamente, pois, como faz parte de uma operação assistida, é uma linha única com apenas quatro horas de trabalho.

 

O equipamento é necessário, ressaltou o urbanista, mas é preciso que ele tenha confiabilidade, horários corretos, bom atendimento e integração com outros meios de transporte. "Essa proposta metroviária nunca foi integrada ao sistema de transporte público. Isso leva ao seu isolamento. O metrô não pode ser um transporte que atua sozinho", comentou.

 

Defasado

Para o professor da Universidade de Fortaleza (Unifor) e conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-CE), Marcus Lima, em qualquer circunstância, o metrô é uma realização de alto alcance. No entanto, essa é uma ação tardia, na Capital, em comparação com outras cidades do Brasil. "Fortaleza está sempre defasada em relação à mobilidade e os problemas acabam crescendo", avalia.

 

Lima destacou que é consenso que uma obra não concluída se torna mais onerosa e os materiais, que têm uma vida útil determinada, são prejudicados. Dessa forma, a intervenção acaba sendo paga várias vezes. "Esse custo retorna para a sociedade de uma forma negativa", acrescenta o professor.

 

No caso do Metrofor faltou planejamento, concluiu o conselheiro do CAU-CE. Para o especialista, a demora nas decisões e a "miopia dos políticos em relação aos problemas urbanos" afetaram o projeto. "As dificuldades de 27 anos atrás ainda repercutem. Por isso, o metrô não pode ser uma peça única. São necessárias várias ações".

 

Operação comercial deve se iniciar neste ano

Construção de estações, escavação de túneis e modernização dos equipamentos são apenas algumas das intervenções que ainda precisam ser realizadas para que o Metrô de Fortaleza (Metrofor) possa finalmente ser totalmente concluído. Hoje, 15 anos depois do início da construção da Linha Sul, que liga a estação Chico da Silva até Carlito Benevides, apenas a operação assistida funciona, sem cobrança e somente durante quatro horas.

 

A operação comercial, entretanto, deve começar ainda neste ano, mas sem data definida. O valor total das licitações para que isso aconteça é de R$ 187 milhões. O horário de funcionamento será de 6h30 até às 21h, havendo um intervalo de 30 minutos de um trem para o outro. O valor cobrado será de R$ 2,85 a inteira e R$ 1,40 a meia.

 

Além disso, mais duas estações, Padre Cícero e JK, ainda estão sendo construídas e devem ser finalizadas apenas no próximo ano.

 

Hoje, a Linha Oeste, que vai de Fortaleza até Caucaia, faz viagens de 5h30 até as 20h30, durante a semana. Os investimentos do Estado, em 2010, não foram suficientes. Por isso, o governo federal vai destinar R$ 1,2 bilhão para a duplicação, eletrificação, modernização, eliminação das passagens de nível e aquisição de novos trens.

 

A Linha Leste começou a ser construída neste ano. O trajeto, que vai do Centro até o Bairro Edson Queiroz, será quase todo subterrâneo. O custo é de R$ 2,3 bilhões e deve ser finalizada em cinco anos.

 

Emboque

As obras seguem com a construção do emboque, túnel por onde entrarão as tuneladoras que farão a abertura do percurso do trem. Até agora, estão iniciadas as obras nas estações Colégio Militar, Nunes Valente - ambas na Av. Santos Dumont e a Edson Queiroz, situada no eixo da Av. Washington Soares, entre a Avenida do Contorno e a Av. Desembargador Floriano Benevides.

 

 

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