SP: desemprego faz diminuir número de passageiros no transporte público

Número de passageiros transportados em ônibus caiu 15 milhões em 2 anos. O desemprego tira gente da rua e dinheiro de circulação da economia

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Fonte: Jornal Hoje  |  Autor: José Roberto Burnier e Renata Ribeiro  |  Postado em: 16 de junho de 2016

Metrô de SP também teve redução de passageiros

Metrô de SP também teve redução de passageiros

créditos: Reprodução/TV Globo

 

Os efeitos da diminuição de vagas no mercado de trabalho atingem em cheio uma quantidade enorme de atividades econômicas. Os repórteres do Jornal Hoje mostram as consequências do desemprego no comércio, nos serviços, na vida do trabalhador e até no trânsito.

 

Os congestionamentos continuam em São Paulo, mas os motoristas já perceberam que tem menos carros circulando. De acordo com a Companhia de Trânsito, de manhã houve uma redução de 13% e à tarde de 14% nos congestionamentos nos últimos dois anos.

 

Claro que essa redução não é só por conta do desemprego, mas tem muito desempregado que está deixando o carro em casa. E, como a crise está forte, também tem menos gente comprando carro. O número de emplacamentos caiu 35% de 2014 pra cá.

 

Também tem menos gente circulando. Os números oficiais mostram que nos últimos dois anos, quando o desemprego em São Paulo cresceu de 11,6% para 16,8%, a quantidade de passageiros transportados nos ônibus caiu 15 milhões.

 

Essa situação tem um reflexo. É passageiro que não vai descer do ônibus e lembrar de deixar o sapato para consertar na sapataria, ou se encantar com a roupa nova na vitrine, entrar no restaurante para almoçar. Como o desemprego gera uma reação em cadeia, porque tira gente da rua e dinheiro de circulação da economia.

 

Metalúrgico desempregado Marcos Amadeu, fez o mesmo caminho por 20 anos, de casa, no extremo da Zona Sul de São Paulo até o trabalho, na região do ABC. Ele almoçava perto da empresa e quando fazia hora extra, comia na padaria próxima: “Eu gastava R$ 7 por dia com duas conduções, ida e volta. O almoço era, em média, R$ 17 por refeição. A empresa tinha convênio com a padaria próxima e eles forneciam lanche para quem fazia hora extra”.

 

A empresa onde Marcos trabalhava entrou em crise e foi para o interior. Quem não quis mudar, foi demitido. “A empresa não pagou a demissão de uma vez porque não tinha condição. Foi dividida em 15 vezes. Recebi a primeira esses dias atrás. Tá complicado, porque só minha esposa trabalha”, relata.

 

Faz seis meses que Marcos está mandando currículo para todo lado, mas não tem muita esperança de voltar para o mercado: “Tem muita gente jovem entrando no mercado e, para mim, não teria mais espaço. Teria que procurar algo que não tenha que disputar vaga com pessoa mais jovem”.

 

A solução que ele encontrou para ganhar dinheiro, sem precisar gastar nada, foi trabalhar no atelier caseiro da família, que faz peças de marcenaria para decoração. O que antes era só um complemento da aposentadoria dos pais, agora vai ter que sustentar a família toda. Marcos acabou se tornando um empreendedor, sem querer. Hoje está só com os clientes do pai, mas quer investir na fabricação de brinquedos educativos.

 

Marcos parou de andar de ônibus e muita gente parou de andar de metrô. Comparando janeiro a maio de 2014 com o mesmo período desse ano, a queda é de 96 mil passageiros por dia. Os pedidos do bilhete do desempregado, que dá direito a 90 dias de viagens gratuitas, cresceram 69% nesse período.

 

Outro reflexo da diminuição no número de passageiros é o movimento nas lojas que ficam ao lado das estações do metrô. Salvador é gerente de uma dessas lojas: “É uma queda de 20%, 30% em relação ao ano passado”.

 

O professor e economista José Pastore, um dos maiores especialistas em mercado de trabalho, diz que os reflexos do desemprego são visíveis também no transporte de cargas: “Nessa recessão que estamos agora não tem o que transportar. Isso afeta economia de modo dramático. É um setor que emprega bastante e é um setor que alimenta outros setores, que por sua vez, não tendo insumos, passam a entrar em dificuldades. O que há com o transporte urbano, há também com transporte de carga”.

 

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