Cananeia: Como assegurar mobilidade, história e proteção ambiental?

Ciclistas e pedestres devem ser privilegiados no planejamento urbano da tranquila,pequena e bela cidade histórica do litoral paulista, defende o autor deste artigo

Notícias
 

Fonte: Via Trolebus  |  Autor: Lucas Chiconi*  |  Postado em: 20 de junho de 2016

Balsa, bicicletas e pedestres na singela cidade hi

Balsa, bikes e pedestres na singela cidade histórica

créditos: Lucas Chiconi

 

No extremo sul do litoral de São Paulo, Cananeia se funde ao estado do Paraná através de uma imensa reserva de Mata Atlântica tombada pela Unesco, como um dos sete sítios do Patrimônio Natural da Humanidade existentes no Brasil. Com 484 anos, sendo fundada em 1531, é dita como a cidade mais antiga do Brasil, com suposta fundação anterior à de São Vicente, na Baixada Santista – atualmente a segunda menor do litoral paulista. Porém, por falta de registros oficiais, São Vicente é oficialmente a mais antiga cidade brasileira. Com aproximadamente 12 mil habitantes, Cananeia é o segundo município menos populoso do litoral do estado, sendo maior apenas que a vizinha, Ilha Comprida.

 

Bicicletas em Cananeia. Foto: Lucas Chiconi

 

Sua economia é baseada na pesca e no turismo, com destaque para as praias, trilhas, cachoeiras e sítios arqueológicos. A Ilha do Cardoso é o reduto mais procurado para o ecoturismo e a descoberta arqueológica da região. Em meio a uma paisagem deslumbrante e puramente nativa, quase intocada, imensas serras e rios se encontram num imenso lagamar que concebe os estados de São Paulo e do Paraná. É em meio a esse cenário, dos mais imponentes do continente, que está a cidade de Cananeia, formada por uma pequena área urbana de aproximadamente 3,5 km² – menor que o distrito do Bom Retiro, no Centro de São Paulo.

 

Ao adentrar a cidade, uma questão chama muita atenção: a quantidade de bicicletas circulando e estacionadas em boa parte das vias. A planície e as pequenas distâncias a serem percorridas incentivam o uso desse meio de transporte. Na Avenida Independência, conexão do Centro Histórico com a Avenida Washington Luís, que por sua vez se conecta com a balsa para o continente, notamos a presença de duas ciclofaixas ao redor do canteiro central, mas sem nenhuma proteção ou cor para diferenciar o espaço das bicicletas e dos carros. Diferente das grandes cidades, a questão aqui é outra, pois são menos veículos e um ritmo urbano diferente.

 

Planejamento e patrimônio histórico

Porém, ainda sim é uma cidade e que recebe uma grande quantidade de turistas na temporada de verão, o que eleva a população de sua área urbanizada. Com isso, o planejamento é necessário, ainda mais se tratando de uma região de rígida proteção ambiental. A mobilidade precisa se aliar ao seu crescimento urbano e priorizar os pedestres e ciclistas.

 

Por mais que seja um centro urbano pequeno e de menor intensidade do automóvel, suas calçadas seguem a cultura carrocrata do país, com despadronização dos passeios e má conservação. Não é porque não estamos em grandes metrópoles que as pessoas naturalmente sejam obrigadas a caminhar no leito carroçável (termo técnico – urbanístico para a área asfaltada, onde circulavam as carroças e hoje, os carros). Calçadas qualificadas e com mobiliário urbano adequado geram maior conforto, valorizando o espaço público e até mesmo proporcionando ganhos econômicos ao comércio de rua.

 

Carros tiram o pouco espaço do pedestre nas calçadas. Foto: Lucas Chiconi 

 

Outra preocupação é com o patrimônio histórico da cidade. A poluição veicular, quando em excesso, causa danos às edificações mais antigas e o uso excessivo dos veículos aliado às calçadas estreitas, acaba por deteriorar a dinâmica urbana de um determinado local, como ocorre em cidades maiores. O espaço urbano se torna desagradável para o caminhar ou pedalar, ocasionando na escolha do carro para se deslocar. Cananeia é uma cidade turística e poderia apostar na melhor conservação de seus espaços públicos, calçadas, praças e largos, aliando bairros, acesso às balsas e à natureza. 

 

As curtas distâncias não sugerem ônibus ou transportes de massa, mas talvez um VLT de menor capacidade possa ser interessante. Talvez uma ferrovia que conecte os municípios próximos? Poderia acarretar em desenvolvimento social, aproximando equipamentos públicos de educação e saúde, e também econômico, já que o fluxo populacional fixo e flutuante da região iria se beneficiar de viagens mais rápidas e, portanto, aumentando as relações comerciais existentes.

 

A metrópole mais próxima é Curitiba, que dista aproximadamente 200 km, seguida de São Paulo, a mais de 250 km. Não há cidades médias ou grandes entre elas, o que torna a região um tanto “isolada”, se comparada ao restante do estado de São Paulo, sempre altamente urbanizado. A questão é que urbanização é algo complexo, situação que aumenta diante da escala urbana, mas todas são cidades e devem ser pensadas infraestrutura. Em tempos de grandes e intensas conurbações (união física entre áreas urbanizadas/cidades), precisamos pensar na conexão entre pequenas cidades e até mesmo no caminhar tranquilo por essas singelas localidades que, muitas vezes, tem importância a nível nacional para a história e a conscientização ambiental de todo um país, como Cananeia.

 

*O paulistano Lucas Chiconi é estudante de Arquitetura e Urbanismo e fotógrafo especializado em paisagens urbanas. 


Leia também:

Ponte de dois andares é proposta para a travessia no litoral do Paraná 

Passagem de ônibus é reduzida na temporada de verão em Ilhabela (SP) 

Ciclovias do Guarujá (SP) precisam de melhorias 



  • Compartilhe:
  • Share on Google+

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário