VLT de Santos (SP) não tem protocolo para casos de emergência

A EMTU, responsável pelo sistema, diz que o documento está em análise

Notícias
 

Fonte: A Tribuna  |  Autor: Maurício Martins  |  Postado em: 24 de julho de 2016

 
A EMTU diz que o documento do VLT está em análise (Foto: Carlos Nogueira)

 

O Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) opera entre Santos e São Vicente sem um protocolo para situações de emergência, como acidentes. Trata-se de um conjunto de procedimentos que normatiza as ações que devem ser tomadas pelas autoridades municipais e estaduais em casos emergenciais.

 

Após mais de um ano de funcionamento do VLT, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), órgão estadual responsável pelo sistema, diz que o documento está em análise.

 

O objetivo do protocolo é dar socorro rápido a possíveis vítimas e normalizar o tráfego do VLT com agilidade após um evento adverso. Em casos mais graves, como colisão, descarrilamento, incêndio, entre outros; bombeiros, polícias, agentes de saúde e de trânsito atuariam de forma integrada. A questão foi levantada por A Tribuna após um homem ser atropelado por um vagão no último sábado, perto do Canal 1.

 

Embora não seja obrigatório por lei, o protocolo facilita o trabalho de resgate e diminui os riscos para as equipes e pessoas que necessitarem de socorro. Por ser um meio de transporte novo no Brasil, o protocolo é ainda mais importante, afirma o professor de Logística do Unimonte, Rafael Alves Pedrosa, especialista em transportes.

 

“Quando falamos de protocolo, verificamos que essa (a falta dele) é uma falha em projetos logísticos por todo o País. Pelo mundo, nos países desenvolvidos onde há o VLT, os planos de contingência são disponibilizados e noticiados para a população antes do início das obras”, ratifica o professor.

 

Para o especialista, não há como imaginar a falta de planejamento dessas ações em projetos da extensão do VLT Baixada Santista. “Até porque é um projeto inovador. Na Suíça, por exemplo, o protocolo de emergência é concebido antes de um projeto ser instalado. As autoridades passam por treinamento e os moradores são comunicados”, cita.

 

De acordo com Rafael Pedrosa, o funcionamento do meio de transporte na região sem o protocolo, pode trazer problemas em ocorrências maiores.

 

“Claro que se pode recorrer aos bombeiros, polícias, mas que vão atuar de forma isolada. Isso é um atraso, o VLT já deveria ter um plano de contingência pronto. Porque numa situação de emergência pode acontecer um grande transtorno. Mas aqui só atendemos as leis de trânsito para transporte de passageiros”, comenta.

 

Área aberta

O professor, que publicará um livro a partir de uma pesquisa sobre o sistema público de transporte na região, argumenta que os riscos do VLT são maiores do que outros tipos de trens, porque ele está em área urbana de grande movimento, dividindo espaços com carros, caminhões, ônibus, motos, pedestres e ciclistas. Diferentemente do metrô, por exemplo, que está em área isolada, feita especificamente para ele circular.

 

“Apesar de estar no trilho, o VLT faz cruzamento com ruas e avenidas. Ou seja, um problema com ele ocasionará impactos em outros modais, como o rodoviário. No metrô o problema fica isolado, não traz impactos à via pública. Então, ter um plano aprovado para não retardar a solução de uma ocorrência é fator primordial”.

 

Medida importante

Embora a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU) ainda não tenha finalizado o protocolo de emergência para o VLT, o próprio presidente do órgão, Joaquim Lopes, ressalta que a medida é fundamental. Porém, afirma que o documento ainda deve demorar 90 dias, porque está em avaliação jurídica.

 

“É o protocolo para tratamento das situações de urgência e emergência. Precisamos trabalhar com as eventualidades, com os acidentes de pequena e de grande monta, até porque, estamos entrando com um modelo novo em um sistema viário preexistente”, diz.

 

Ainda conforme Lopes, a EMTU se esforça para montar esse conjunto de normas e procedimentos para que se trabalhe “de maneira correta”.

 

O presidente explica que foram feitas 12 reuniões com bombeiros, polícias e setores de saúde e segurança das prefeituras de Santos e São Vicente. A ideia é que o documento seja encaminhado para a Secretaria Estadual de Transportes Metropolitanos e se transforme numa resolução a ser seguida em todos os locais onde o VLT foi implantado no Estado.

 

Joaquim Lopes vai além na defesa do protocolo que ainda não existe. Exemplifica que nos casos de acidentes com ônibus, o veículo para na rua, os passageiros desembarcam e passam para outro coletivo, enquanto o motorista fica para registrar a ocorrência.

 

“Mas e no VLT? Se parar o veículo após um evento eu paro o sistema todo, então precisamos trabalhar isso. E quem pode colocar a mão na vítima? Como articular os procedimentos? Tudo isso precisa ser costurado, o protocolo é fundamental”, provoca.

 

A Tribuna questiona, então, o motivo pelo qual o protocolo de emergência não foi pensado antes, na fase de projeto do VLT. “Como trataríamos de uma situação hipotética, sem ter sequer o veículo? Tomar tempo de autoridades com uma coisa hipotética. O mundo real é esse”.

 

A reportagem novamente indaga o presidente se não houve tempo durante as obras do VLT, lembrando que os trabalhos foram prorrogados diversas vezes e até paralisados. “Não é isso que resolve os acidentes. O nosso grande desafio é trabalhar a orientação e familiarização, o aculturamento dos outros atores com a presença desse sistema”.

 

Segurança

O presidente da EMTU ressalta ainda que o VLT opera cumprindo todas as exigências previstas no Conselho Nacional de Trânsito (Contran) para esse tipo de veículo, como identificação, câmeras, espelhos retrovisores, habilitação dos condutores e sinalização viária.

 

“Nós contribuímos para editar essa primeira norma, então, em relação à segurança, tudo que a legislação vigente prevê o VLT tem. Desse ponto de vista estamos cobertos, eu diria, tranquilamente, que o que temos aí é tudo de bom. Tem todas as características e cuidados para que opere de maneira harmônica”. 

 

Leia também:

Futuro promissor para o VLT, avalia estudo 

Na França, um VLT que anda a até 100 km/h 

No Rio, primeira viagem do VLT da rodoviária ao Santos Dumont 


  • Compartilhe:
  • Share on Google+

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário