Acessibilidade ainda é desafio para a Copa de 2014

A exceção dos estádios, em 2014 as cidades não estarão prontas para receber turistas com qualquer tipo de deficiência

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Fonte: Portal 2014  |  Autor: Marcos de Sousa / Mobilize Brasil*  |  Postado em: 14 de junho de 2012

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Cadeirantes no estádio P.V., em Fortaleza

créditos: Laboratorio de inclusão

Desde agosto de 2009 o Brasil é signatário da Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência. Na prática, isso significa que as autoridade brasileiras se obrigam a respeitar a dignidade, a autonomia, o direito ao trabalho e de acessbilidade para todas as pessoas com alguma deficiência física. Enfim, é lei e deve ser cumprida.

 

No entanto, os preparativos do Brasil para a Copa de 2014 mostram que, a exceção dos estádios, as cidades não estarão prontas para receber turistas e torcedores que tenham algum tipo de deficiência. Esse panorama ficou evidente durante o evento Copa for All, realizado nesta semana no Auditório Vivo, em São Paulo, com a participação de arquitetos, engenheiros, especialistas na legislação sobre deficientes e dezenas de representantes de empresas e organizações que trabalham com o tema.

 

No primeiro dia de trabalhos, os arquitetos responsáveis pelas arenas de Brasília (Eduardo de Castro Mello), Porto Alegre (Maurício Santos) e Salvador (Marc Duwe) apresentaram suas propostas para garantir a acessibilidade nos estádios. Aqui um primeiro desafio: leis e normas divergem quanto ao número mínimo de lugares acessíveis obrigatório em cada estado. Se aplicada a visão mais conservadora, o Estádio Nacional Mané Garrincha, por exemplo, teria pouco mais de 1.400 pontos para deficientes; ou quase 3.000 lugares adaptados, se prevalecer a norma técnica que preconiza um mínimo de 4% de lugares para esse público.

 

A questão também foi objeto de debate à tarde, com a participação de três especialistas em direito aplicado ao deficiente físico, os advogados Marcio Marcucci (Procon/SP), Luiz Alberto David Araujo, e Luiz Ricardo Modanese. Para os especialistas, em caso de dúvida, deve ser aplicada a norma que prevê a melhor situação para o deficiente.

 

Os advogados também mostraram a grande disparidade ainda existente entre o que a legislação prevê e a vida prática nas cidades, em ambientes de trabalho, escolas, transporte público e também na conservação das calçadas públicas, ainda distantes de um padrão mínimo de conforto e segurança. O professor Araujo, lembrou que todas as conquistas já obtidas foram resultado de vários anos de lutas na Justiça e insistiu na necessidade de que os brasileiros acionem com mais frequência o poder judiciário e cobrem insistentemente seus direitos das autoridades.

Turismo Adaptado / Divulgação

Ambulift: demora de até duas horas

créditos: Turismo Adaptado / Divulgação

 

Aeroportos e calçadas

 

A acessibilidade nos aeroportos também mobilizou a plateia após a exposição do arquiteto Carlos André Kuniyoshi, sobre as ações da Infraero para melhorar o conforto dos passageiros deficientes nos embarques e desembarques nos aeroportos brasileiros. Kuniyoshi mostrou várias intervenções de adaptação em banheiros, pontes de embarque, saguões e balcões, e explicou que essas alterações são relativamente recentes na maior parte dos aeroportos do país.

 

O representante da Infraero esquivou-se de responder sobre a acessibilidade nos ônibus que atendem aos aeroportos, "por se tratar de serviços administrados por autoridades municipais ou estaduais". Alguns cadeirantes presentes ao debate relataram casos de demoras de até duas horas para a chegada de um equipamento de desembarque (ambulift) em aeroportos brasileiros. Outros lembraram a recente criação da Secretaria Nacional de Aviação Civil, que teoricamente deveria cuidar de todos os aspectos do transporte aéreo, incluindo a integração dos serviços de transportes e acesso aos aeroportos.

 

O tema das calçadas foi abordado por Fábio Batista, Julie Nakayama e Ricardo Sigolo, que representaram a ONG Guardiões de Calçadas. Eles mostraram o trabalho que realizam há alguns para avaliar as calçadas da capital paulista, observando a qualidade dos pisos, a manutenção das rampas de cadeirantes e a existência de sinalização adequada. Sigolo lembrou que são raríssimos os cruzamentos com sinalização sonora, para orientar pessoas com deficiência visual, como é seu caso. Fábio e Julie relataram o resultado de sua campanha para a melhoria das calçadas da av. Paulista, que se tornaram referência em todo o país.

 

Na quarta-feira (13), os debates foram centrados em programas e tecnologias que facilitam o chamado turismo adaptado, que permite viagens de pessoas com deficiência, com conforto e segurança.

 

O evento Copa for All foi organizado pela Mandarim Comunicação, editora do Portal 2014, e pelo ITS - Instituto de Tecnologia de Software, com apoio do CNPQ, da Abridef, da Vivo Telefonica, e da Unip - Universidade Paulista.

 

* Publicado originalmente no Portal 2014

 

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