Palavra de Especialista

15
maio
Publicado por Eduardo Barra no dia 15 de maio de 2012


Eduardo Barra
H
ouve uma época em que as estações do metrô carioca se comunicavam com a superfície através de escadas e pequenas aberturas no solo. Assim eram as estações Botafogo, Catete, Glória, Cinelândia, Uruguaiana e Presidente Vargas. Assim também eram (são) as estações dos metrôs de Londres, Paris e Nova York. Uma escada e um buraco no chão, lá no cantinho da calçada. Apenas as estações de conexão entre linhas ou entre diferentes modalidades de transporte exigiam instalações ligeiramente mais complexas na superfície.

 
Hoje, toda e qualquer estação de metrô precisa ser espalhafatosa, com muitos tubos retorcidos, vidros inclinados, telhados de múltiplas camadas e cabos de aço que nada sustentam.

 

Lembro que as praças cariocas eram apenas praças, lugar para deixar o tempo passar enquanto se pensa na vida. Depois, sob o pretexto de que precisávamos de educação, passaram a ser compreendidas como terrenos disponíveis para a implantação de escolas municipais, em troca de parte de sua arborização. É verdade, precisamos de educação (muita), mas também precisamos de praças. Exemplo máximo dessa “política educacional” pode ser apreciado na praça Cardeal Arcoverde, em Copacabana, que praticamente evaporou após receber escola e – demonstrando que os governantes também se preocupam com a cultura do povo – teatro. Viva o teatro, mas que sobrevivam as praças!

 

Mais tarde, as praças começaram a parecer locais ideais para a localização de estações de metrô, e a pobre da Cardeal Arcoverde tornou-se alvo de mais uma intervenção espetaculosa, desaparecendo por completo. É claro que queremos educação, cultura e transporte público eficiente, mas também necessitamos, como nunca, de praças. Mas nem todos pensam assim, tanto que todas as novas estações de metrô do corredor Ipanema-Leblon ocuparão o espaço de praças. Além da General Osório, que já ostenta os característicos tubos retorcidos, indiferentes ao clássico chafariz de Mestre Valentim, a Nossa Senhora da Paz, o Jardim de Alah e a Antero de Quental abrigarão estações de metrô, provavelmente com a mesma estética exagerada.

 

Estação Ipanema/General Osório ocupa a praça

Estação Ipanema/General Osório ocupa a praça (Foto: Divulgação Odebrecht)

A futura estação Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, roubará uma considerável fatia da aprazível praça de mesmo nome e exigirá a remoção de 113 árvores, sendo que 41 delas, segundo o jornalista Zuenir Ventura, morador do bairro, “têm o tronco tão volumoso que eu não conseguiria abraçar”. Além disso, ficará situada a apenas 850 metros da esquisito-tubular estação General Osório, distância que pode ser percorrida a pé em prazerosos 12 minutos, em região plana e repleta de meninos e meninas bonitos por natureza – mas que beleza!

 

Oitocentos e cinquenta metros entre duas estações férreas… Fazendo analogia com um automóvel, é como se o motorista tivesse que pisar no freio antes de engatar a segunda marcha. E isso significa que o passageiro precisará andar, na pior das hipóteses, 425 metros antes de mergulhar no metrô – os preguiçosos na certa aplaudirão.

 

Novecentos metros ou catorze minutos de caminhada adiante, chega a vez de estragar o belo Jardim de Alah, projeto exemplar do arquiteto paisagista Azevedo Neto. Mais 870 metros e atingimos a Antero de Quental, praça que o arquiteto paisagista Fernando Chacel tão bem redesenhou por ocasião do Projeto Rio Cidade, vinte anos atrás. Parece perseguição a praças, campanha contra os espaços livres da cidade, e é. Será que precisamos de tantas estações?


Porque nunca cogitam demolir alguns daqueles conjuntos maciços e contínuos de prédios horrorosos, blocos cinzentos com janelinhas tristes, para criar uma estação no local, com a vantagem de poder colocar uma nova praça na cobertura?

 

Corre na internet um abaixo-assinado de moradores e amigos de Ipanema contra a construção da estação Nossa Senhora da Paz. Conta com muitas assinaturas, inclusive de cidadãos notórios e respeitáveis. Mas o texto é preconceituoso e elitista, pois parte da hipótese de que o metrô tornará a nobre região acessível a pessoas que irão “anarquizar, sujar e depredar, (…) desvalorizando os imóveis”. Com argumentos desse quilate, acho que o metrô vai vencer essa parada. E as outras também.



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