Palavra de Especialista

13
setembro
Publicado por Thiago Guimarães no dia 13 de setembro de 2011

Conceito central para o planejamento de transportes e para o urbanismo, mobilidade significa liberdade e capacidade de se movimentar e é uma pré-condição para a participação na vida social. Objetivo explícito do urbanismo da segunda metade do século passado consistia em aumentar os índices de mobilidade. Essa estratégia possibilitou uma expansão horizontal das cidades assim como um crescimento demográfico e econômico sem precedentes na história. Nos países industrializados ocidentais, o aumento da mobilidade também representou simbolicamente uma forma de expansão de liberdades individuais.

 

Nas cidades brasileiras, em consequência do aumento da renda de significativas parcelas da população, da crescente complexidade dos deslocamentos cotidianos, da individualização de estilo de vida e de outros fatores, crescem expressivamente os níveis de mobilidade. Mas é cada vez mais evidente a relação entre o aumento da mobilidade por meios motorizados e os congestionamentos, o barulho, os acidentes de trânsito, a poluição do ar e as mudanças climáticas. Transporte é um dos setores que mais contribuem para a emissão de CO2 e para a emissão de gases do efeito estufa.

 

A internacionalmente consagrada expressão “mobilidade sustentável” ressalta o caráter ambíguo da mobilidade, antes compreendida apenas por seu lado positivo. No entanto, “mobilidade sustentável” não é, rigorosamente, a expressão ideal para sintetizar um novo tipo de planejamento de transportes, cada vez mais perseguido em países desenvolvidos.

 

O planejamento de transportes e a política urbana devem permitir que os cidadãos consigam chegar ao local de trabalho, ao mercado, ao teatro etc. – e não necessariamente que eles realizem um grande número de deslocamentos por meios motorizados, que eles consigam ser “móveis”. Se as atividades desejadas encontram-se bem distribuídas espacialmente (em estruturas urbanas compactas, por exemplo), não é necessário deslocar-se em demasiado.

 

Em outras palavras: ser móvel não é uma virtude, ainda mais quando essa mobilidade se baseia em um praticamente irrestrito consumo de recursos energéticos não renováveis, até agora acessíveis a amplas parcelas da sociedade.

 

O que as pessoas desejam é, em primeiro lugar, realizar os atingir seus destinos no espaço. No discurso científico, o conceito de acessibilidade ganha proeminência, por explicitar a codependência entre transporte, uso do solo e consumo de recursos limitados. No entendimento de alguns estudiosos, mobilidade é um conceito subjacente ao de acessibilidade.

 

Efetivamente, o objetivo central do planejamento contemporâneo consiste em rearticular as estruturas urbanas, de forma a diminuir as necessidades de deslocamentos e, por conseguinte, reduzir ou mitigar os impactos sobre o meio ambiente. No Brasil, o poder público também tem adotado esse discurso, ao enfatizar a necessidade de maior integração entre as políticas de transporte e uso do solo.

 

Inadequada ou não, a expressão “mobilidade sustentável” se estabeleceu em diversos idiomas, inclusive no português. No entanto, é importante compreender a mudança de perspectiva e suas consequências práticas.
O segundo termo da expressão – sustentabilidade – tornou-se a palavra da moda. Hoje em dia, quase tudo pode ser “verde”, “sustentável”, “amigo do meio ambiente” etc. Utilizada abusiva e muitas vezes inconvenientemente, a palavra sustentabilidade frequentemente tem seu significado esvaziado ou distorcido com relação àquele expresso no Relatório Brundtland em 1987. Neste documento, o conceito sustentabilidade é introduzido para qualificar atitudes presentes que não comprometem as necessidades das gerações futuras. Mas no Brasil e no resto do mundo, o selo “eco” é estampado em produtos, serviços e processos não necessariamente gerados de modo sustentável. Produtos, serviços e processos ligados à mobilidade também são suscetíveis a esse tipo de “marketing verde” (“greenwashing”).

 

Indubitavelmente, a consciência ambiental e a sensibilidade para temas como o respeito à natureza, o consumo consciente e racional de recursos esgotáveis ganham espaço no Brasil. No presente momento, empresas repensam suas práticas e reestruturam tradicionais modos de produção, a sociedade se mobiliza em torno de causas ambientais, a política fica mais sensível para a temática ambiental. Com isso, a temática da mobilidade sustentável ganha muita importância.

 



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