Pé de Igualdade

26
September
Publicado por admin no dia 26 de September de 2018

Aumentados em 20%, tempos semafóricos ainda são insuficientes para travessias seguras das ruas e avenidas paulistanas

Travessia na av. Tiradentes, em São Paulo: tempo c
Travessia de avenida em São Paulo: tempo curto para idosos
Foto: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil

Acordamos ontem (24) com uma promissora notícia para os caminhantes paulistanos: em doze avenidas problemáticas por terem constantes registros de atropelamentos os tempos semafóricos destinados às travessias de pedestres iriam ser aumentados.  Que boa notícia numa cidade onde a maior vítima do trânsito é o pedestre!

Entretanto nossa animação logo foi cortada: o tal aumento do tempo de travessia se limitava à concessão de mais 20% de tempo aos atuais míseros 12 segundos, tempo adotado na maioria das ruas semaforizadas de São Paulo, passando então de 12 para 14,4 segundos.

Na prática do cotidiano dos deslocamentos a pé essa “benesse” certamente vai passar desapercebida.  Ainda mais depois que  a CET,  responsável pelo planejamento das fases dos semáforos  adotou em boa parte deles uma sequência de cores nos focos destinados aos pedestres que tem prejudicado e muito as travessias.  Ela é formada por 4 segundos de verde e o restante em vermelho piscante até ficar vermelho.  Este tempo  da travessia  com o foco em vermelho piscante é  responsável por  apressar  pessoas a terminarem suas travessias quando do exercício de seu direito de atravessar.  Ao mesmo tempo impede de iniciar a travessia  quem não conseguiu a façanha de fazê-lo nos 4 segundos iniciais apontados pela cor verde. 

Infelizmente esse código de cores para lidar com  travessia de Conselho Nacional de Trânsito – Resolução 483/2014.  Mesmo confrontando ao direito que pedestre retardatário tem  de completar sua travessia, garantido pelo Parágrafo Único do Artigo 70 do Código de Trânsito Brasileiro: “Nos locais em que houver sinalização semafórica de controle de passagem será dada preferência aos pedestres que não tenham concluído a travessia, mesmo em caso de mudança do semáforo liberando a passagem dos veículos”  nada pode atrapalhar a prioridade dada aos veículos no direito ao uso do espaço e do tempo destinados à mobilidade em nossa cidade e garantida por esta resolução do Contran.

Portanto  se um dia realmente houver intenção e  vontade política de uma gestão que ocupe a Prefeitura de São Paulo por colocar em prática o  exercício legítimo da  prioridade ao pedestre  em seu direito básico  de atravessar ruas com segurança e dignidade, este direito certamente  não será exercido concedendo míseros segundos ao tempo de travessia  já exíguo e longamente esperado.  Deve ser garantido por ações  muito mais expressivas  do que esta

O esperado e necessário é a adoção de uma mudança na forma de dividir o direito de passagem no espaço e tempo públicos entre o veículos e pedestres por  formato que não seja o atual, já comprovadamente ineficaz. Não a busca por um tempo mínimo  necessário ao pedestre para atravessar de um lado a outro da via, mas sim o tempo necessário para que todos os pedestres consigam  atravessar ruas da cidade com segurança e dignidade. 



E assim prosseguirem o exercício cidadão de sua mobilidade mais primordial entre todas, a Mobilidade a Pé.

Veja um vídeo do programa Bom Dia Brasil (TV Globo), que foi ao ar no dia 25 de setembro de 2018. Eu sou uma das entrevistadas.

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Pe-de-igualdade Meli Malatesta (Maria Ermelina Brosch Malatesta), arquiteta e urbanista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e com mestrado e doutorado pela FAU USP. Com 35 anos de serviços prestados à CET – Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, sua atividade profissional foi totalmente dedicada à mobilidade não motorizada, a pé e de bicicleta. Atualmente, ministra palestras e cursos de especialização em Mobilidade Não Motorizada além de atuar como consultora em políticas, planos e projetos voltados a pedestres e ciclistas.
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