Tarifa já era polêmica no tempo dos bondes

Avós dos VLTs, os bondes ocupavam as ruas brasileiras até meados dos anos 1960. A mídia já batia forte no preço da passagem, informa o boletim Energia e Saneamento

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Fonte: Energia e Saneamento  |  Autor: Da redação  |  Postado em: 29 de junho de 2013

Bonde na av. São João

Anos 1960: Bonde na av. São João, centro de SP

 
Já nos anos 1920, o preço das passagens de bondes já era alvo de protestos populares e críticas da imprensa paulistana. Os bondes elétricos, avós do atual VLT, foram implantados em São Paulo pela empresa canadense Light & Power para substituir os antigos veículos de tração animal. A palavra bonde, aliás, só existe no Brasil. Nasceu de "bond" (título), como os admnistradores da Light chamavam os bilhetes do sistema de transporte.


A cidade de São Paulo chegou a ter 350 km de trilhos que ocupavam o centro das ruas e avenidas. O reinado dos elétricos durou até os anos 1960, quando os bondes foram aposentados e seus trilhos cobertos pelo tapete negro do asfalto. Os trilhos, aliás, teimam em aparecer, aqui e ali, quando o asfalto cede ao calor do verão.


Algumas cidades da Europa, como Milão, na Itália, mantiveram os bondes, trilhos e redes de alimentação apesar das pressões da indústria automotiva. Hoje a cidade tem os velhos carros dos anos 50 circulando pelos mesmos trilhos onde passam os modernos VLTs.

Reproduzimos aqui trechos do boletim Energia e Saneamento, com imagens e informações sobre a fase áurea da Light em São Paulo. As fotos são do arquivo da companhia, que documentava em detalhes as obras para os relatórios enviados à sede, em Toronto.

 

 

Os bondes da Light e o início do transporte coletivo em SP

Em função da abolição da escravatura e do surgimento de novas atividades econômicas, como o setor imobiliário, durante a última década do século XIX a Capital viu nascer os bairros de Campos Elíseos, Higienópolis e a Avenida Paulista, entre outros. Com a ampliação da área urbana, surgiu a demanda por serviços de infraestrutura como energia, saneamento e transportes. Atentos a essa realidade, os canadenses da Light chegaram à cidade em 1899, e no ano seguinte começaram a implantar a rede de bondes elétricos. Os recursos para essa empreitada vieram de capitalistas que até então haviam investido nas ações das companhias de estradas de ferro, construídas para possibilitar o transporte do café do interior ao porto de Santos.




Obra para implantação de linha em 1932



Inauguração da linha Bom Retiro, em 1900


Por onde as linhas de bonde passavam, a valorização dos terrenos em seu entorno era certa: a companhia canadense mantinha relação estreita com a Cia. City, responsável por loteamentos como o atual bairro dos Jardins. Além disso, a empresa estendia suas linhas na direção dos novos extremos da cidade, permitindo−lhe cobrar passagens acumulativas em função da divisão tarifária por zonas.


Tração animal: antes da chegada da Light em 1900, São Paulo já possuía serviço de transporte coletivo. Desde 1870, algumas empresas percorriam as principais ruas da cidade com bondes movidos à tração animal.

Em 1899, estas transportadoras se fundiram para formar a Companhia Viação Paulista, que se tornaria a principal concorrente da Light. As primeiras linhas de bonde elétrico estabeleceram−se em áreas já ocupadas pela Viação, o que gerava brigas de rua entre assentadores de trilhos da Light e funcionários da Paulista.

Após diversas negociações e manobras, em 1901 a empresa canadense obteve a concessão da Companhia Viação Paulista.



Garagem de carros na al. Glete, centro de SP, em 1916




Charge do jornal Folha da Noite, em maio de 1933

Tarifas altas e carros lotados
Com tarifas superiores a Berlim e Buenos Aires, o transporte da Light sofria críticas. Em 1909, a companhia passa a incluir, em definitivo, os bondes operários, que custavam 100 réis, metade da tarifa regular. Mais tarde, na década de 1920, o bonde já se torna o principal meio de transporte da cidade, mas o número de passageiros não se equipara ao número de carros oferecidos. Com a superlotação, ônibus são inseridos na malha urbana da Capital e impõem concorrência à Light; no mesmo período, a companhia coloca em circulação os chamados “camarões”, bondes fechados que se tornam sucesso imediato. A partir dos anos 1930, a conjuntura política passa a beneficiar o investimento no transporte individual, levando a Light a se desinteressar pelo setor de transportes. A trajetória dos bondes da Light em São Paulo termina em 1947, quando o serviço de viação urbana é assumido pela Companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC).




Na década de 20, a Light tentou emplacar seu Plano Integrado de Transportes, que incluía o chamado “Metrô da Light”, com três linhas
duplas de alta velocidade. A iniciativa não se concretizou por falta de apoio político. O desenho mostra o projeto da linha subterrânea no Largo São Bento

 

 

 

 

 

  

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