Pé de Igualdade

19
January
Publicado por admin no dia 19 de January de 2017

Uma cartinha da pedestre Meli Malatesta ao novo prefeito paulistano e sua equipe

 

Senhor Prefeito João Dória,

 

Apesar de não ter votado no senhor, reconheço-o e respeito-o como prefeito eleito pela maioria dos votos válidos de São Paulo e quero colaborar para ajudá-lo e à sua equipe a tornar nossa cidade cada dia melhor.

 

Como pedestre, primeiramente, gostaria de informá-lo, ou melhor, reforçar uma informação que o senhor já deve ter: as pessoas que caminham nesta cidade são verdadeiros heróis ao enfrentarem  diária e obstinadamente uma infraestrutura de péssima qualidade que forma uma legítima prova de obstáculos. São constituídos por toda a sorte de problemas como a má qualidade do revestimento, má conservação e invasões de espaços públicos.  Estas últimas são consequência de problemas que deveriam ter sido equacionados e solucionados no interior dos lotes. Mas algumas formas de invasão são até permitidas pela legislação municipal, por mais bizarro que isto possa parecer.

 

Mais fácil do que descrever os problemas é mostrá-los através de fotos.  Não vou indicar a localização exata, pois se tratam de exemplos de situações que se repetem pela cidade.

 

 lIBERDADE
Calçada no bairro da Liberdade em péssimo estado de conservação Foto:  Associação Cidadeapé

 

 eSCADA
Rua formada por degraus decorrentes das rampas para acesso de autos aos lotes acaba transformando uma simples calçada de uma ladeira numa verdadeira escadaria .  Deficientes físicos e pessoas com mobilidade restrita são obrigados a caminhar na pista
Foto:  Folha de SP

 

 

sETE Calçada da rua 7 de Abril: a largura remanescente da ocupação das mesas atende à legislação
mas não é suficiente para acomodar os fluxos a pé  Foto: Meli Malatesta

 

Investir no resgate destes espaços públicos que foram roubados da população pelo descaso,  falta de fiscalização, manutenção ruim e pelo uso irregular é uma ação urgente, de baixo custo  e que trará um enorme benefício.  Acho que o senhor sabe que 2/3 dos paulistanos se deslocam diariamente a pé (cerca de 8 milhões de pessoas)[1], metade deles fazendo da caminhada seu único modo de deslocamento. E o que é mais importante: pertencem a  todas as camadas sociais e todas as idades, uma vez que andar a pé é a mobilidade mais imediata e democrática que existe.

 

Com o esforço da sua equipe focado no programa de retomada e requalificação da rede pública do deslocamento a pé por meio da melhoria das calçadas, certamente serão colhidos resultados que em muito extravasam  políticas de mobilidade:  se mais pessoas deixarem seus automóveis e motos parados em casa e passarem a caminhar,  todos respirarão um ar melhor,  serão mais saudáveis pela prática de exercício físico e ocuparão menos as redes de saúde pública.  Desfrutarão de melhor qualidade de vida ao perder menos tempo em congestionamentos.  Também serão economizados recursos públicos em aparatos de segurança públicas porque os espaços  da cidade serão ocupados pelos cidadãos para se deslocarem e principalmente para conviverem, como lembra o urbanista Jan Ghel em seu livro “Cidade para Pessoas”.

 

Enquanto a prefeitura investir nesse programa poderá ganhar tempo para refletir melhor sobre outros programas-promessas de campanha que são mais polêmicos e que não tem a unanimidade dos paulistanos como a remoção da arte de rua e, principalmente, sobre o aumento das velocidades nas marginais.

Alô, alô prefeito: caminhe pela cidade e bastante.  Garanto que melhorará a qualidade das suas decisões, pois já foi comprovado que caminhar ajuda a refletir melhor.

 

______________
[1] De acordo com a última pesquisa OD do Metrô (2007), 1/3 dos paulistanos se desloca diariamente a pé e mais 1/3 das viagens são feitas a pé para uso do transporte público = 2/3 da população da cidade de São Paulo que é de quase 12 milhões.



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Pe-de-igualdade Meli Malatesta (Maria Ermelina Brosch Malatesta), arquiteta e urbanista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e com mestrado e doutorado pela FAU USP. Com 35 anos de serviços prestados à CET – Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, sua atividade profissional foi totalmente dedicada à mobilidade não motorizada, a pé e de bicicleta. Atualmente, ministra palestras e cursos de especialização em Mobilidade Não Motorizada além de atuar como consultora em políticas, planos e projetos voltados a pedestres e ciclistas.
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