Pé de Igualdade

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May
Publicado por admin no dia 12 de May de 2016

Calçadas e ciclovias exigem projetos completos e técnicas adequadas de construção. O custo inicial pode ser alto, mas a segurança para os usuários e a durabilidade das obras será muito maior

 

É recorrente o questionamento sobre valores investidos na construção, manutenção e recuperação da infraestrutura voltada à Mobilidade Ativa, sempre no sentido de considerá-los elevados demais às funções que se prestam.

 

Assim, quando se fala em recursos que ultrapassam de três dígitos o quilômetro construído, seja calçada ou ciclovia, é conceito geral que há algo errado e desonesto com os gastos, sejam órgãos públicos ou instituições privadas. É de conceito geral e equivocado que devem sempre ser obras baratas destinadas a formas de deslocamento simples e por este motivo dispensam maiores estudos, projetos e métodos construtivos sofisticados. Afinal não demandam grandes esforços.

 

Assim, o bom senso recomenda economizar quando se constrói calçadas, ciclovias e ciclofaixas, certo? Não, totalmente errado!!!!!!

 

Quando se economiza para construir uma calçada, sem se preocupar com a qualidade do material e a regularidade da superfície, método construtivo, drenagem, arborização correta, ela logo vai ceder ao impacto das intempéries da natureza (chuva, erosão, sol excessivo). Vai trincar ao impacto dos outros usuários da via, principalmente se forem veículos de grande porte, como ônibus e caminhões e rachar pelo afloramento de raízes.

 

Assim, em pouco tempo a calçada “baratinha” estará toda danificada, o investimento jogado fora e o que é pior: fazendo vítimas em decorrência de quedas e tombos. Pode não parecer importante porque raramente matam, mas são responsáveis por atingir mais gente que atropelamentos, numa média aproximada de dois para um, de acordo com estudos já realizados pelo Hospital das Clínicas de São Paulo. O mais incrível é que essas quedas não são contabilizadas como acidentes de trânsito, muito embora ocorram na via. Da mesma forma o custo social despendido com esse tipo de acidente é muito maior em relação ao que seria utilizado, por exemplo, com a elaboração de um bom projeto, utilização de material e execução de obras adequadas.

 

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Calçada construída de forma inadequada e danificada por raízes de árvores
Foto: notícias.r7.com

 

Com obra destinada à infraestrutura de circulação de bicicletas a situação se repete, mas intensificada uma vez que traz a reboque o equivocado argumento de sua inutilidade por se destinarem a um número menor de usuários, e portanto justificando valores ainda mais baixos. “Tinta vermelha sobre uma calçada” é o que pensa muita gente sobre o que é uma ciclovia. Mas uma pista para circulação de ciclos exige revestimento regular, antiderrapante, traçado de desenho geométrico que favoreça o desempenho da pedalada e a boa visualização do ciclista, além de outros componentes de espaços públicos de mobilidade como placas, semáforos, paisagismo e iluminação apropriados.

 

2

Ciclovia implantada com técnica inadequada
Foto: noticias.terra.com.br

 

Quando a infraestrutura de circulação para os Modais Ativos envolve soluções mais complexas não apoiadas no solo ou em estruturas viárias já existentes, exigem soluções mais complexas, suportadas em apoios próprios como passarelas, calçadas e ciclovias elevadas. Assim as estruturas envolvidas para sua sustentação e permanência devem ser tão sofisticadas e onerosas como qualquer outra obra de arte viária e, portanto, com custo final elevado .

 

Se houver pressão em relação ao questionamento do total dos custos por parte do meio técnico, da sociedade e do poder público no sentido de cobrar soluções “baratinhas” corre-se o risco de haver sucessivos acidentes que se acumulam no cotidiano das cidades como tabuleiros de passarelas levados por veículos de altura elevada, ciclovias serem derrubadas pela força das marés e outras tragédias que envolvem o preço mais caro do mundo: o da perda de vidas humanas, sem contar os custos necessários para reconstrução do que foi danificado, como o caso da Ciclovia Tim Maia no Rio de Janeiro, onde o pouco cuidado com a importância do projeto certamente levou ao esquecimento da força das marés.

 

Portanto é mais do que hora de ser levado a sério o tratamento das infraestruturas voltadas para a Mobilidade Ativa, custe o que custar.

 

3

Ciclovia Tim Maia:- RJ: taxada como caríssima, a obra não resistiu ao impacto da maré
Foto: G1.globo.com

 



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Pe-de-igualdade Meli Malatesta (Maria Ermelina Brosch Malatesta), arquiteta e urbanista formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e com mestrado e doutorado pela FAU USP. Com 35 anos de serviços prestados à CET – Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, sua atividade profissional foi totalmente dedicada à mobilidade não motorizada, a pé e de bicicleta. Atualmente, ministra palestras e cursos de especialização em Mobilidade Não Motorizada além de atuar como consultora em políticas, planos e projetos voltados a pedestres e ciclistas.
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