Árvores são vítimas das mudanças climáticas

Prefeituras precisam intensificar cuidados com a arborização urbana. Elas são fundamentais para o conforto de quem caminha ou pedala nas cidades

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa / Mobilize Brasil  |  Postado em: 10 de janeiro de 2024

Árvore arrancada pela raiz na região da Luz, em Sã

Árvore arrancada pela raiz na região da Luz, em São Paulo

créditos: Mobilize Brasil

Hoje pela manhã, pedalando até um centro esportivo, encontramos vários trechos do caminho bloqueados por galhos e árvores inteiras derrubadas pelo temporal que afetou alguns bairros de São Paulo na tarde ontem, quarta-feira, 9 de janeiro. Além das árvores, havia placas, pedaços de lona, revestimentos de edifícios e muito lixo espalhado pela ventania, que alcançou 90 km/h no aeroporto Campo de Marte, zona norte da cidade. E desde dezembro esses vendavais - antes raros - têm se repetido na capital paulista e em outras cidades do país.


Não por acaso, um relatório divulgado ontem mesmo pelo observatório europeu Copernicus revelou que o planeta ficou em média 1,48°C acima do nível pré-industrial (estabelecido entre 1850 e 1900), quase no chamado "limite seguro" de 1,5 ºC definido no Acordo de Paris para ser atingido até o final do século 21.  A expectativa era que esse limite não seria atingido até 2030, mas o crescimento das emissões de gás carbônico e outros gases de efeito estufa acelerou esse processo, que provoca os tais fenômenos climáticos extremos.

 

E o que isso tem a ver com mobilidade urbana?

1. A circulação de veículos com motores a combustão continua crescendo. Um automóvel pequeno, movido a gasolina, emite cerca de 1 kg de carbono a cada 10 km rodados. Durante a pandemia de Covid 19, o trânsito de veículos foi reduzido e o ar ficou visivelmente mais limpo. Passada a crise sanitária, o "novo normal" trouxe mais carros e motos para as ruas, com sua conhecida poluição atmosférica e acústica.


2. Baixa atratividade do transporte público.
No setor de transportes coletivos, as frotas de ônibus diesel continuam majoritárias nas cidades, com tímidos avanços da "transição elétrica". As tarifas são relativamente altas e a qualidade dos serviços continua muito ruim, com longas esperas, viagens demoradas e desconfortáveis.


3. Mobilidade ativa continua esquecida.
Redes cicloviárias pouco avançaram e em alguns casos foram reduzidas, em evidente retrocesso nas políticas de estímulo ao uso de bicicletas nas cidades. A pior situação é a dos pedestres, que são obrigados a caminhar aos trancos, em calçadas esburacadas, cheias de obstáculos, e a enfrentar um trânsito perigoso nas trevessias das ruas. Com tantas dificuldades, as pessoas acabam optando pelo automóvel mesmo que seja para percorrer trajetos bem curtos.

 


Árvore derrubada pelo vento bloqueia ciclovia na av. Santos Dumont, em São Paulo Foto: Mobilize Brasil

 

4. Ambientes urbanos hostis. Aqui voltamos às árvores, que são importantes para o controle das condições ambientais: oferecem sombra, proporcionam mais umidade no ar e controlam o calor, mantendo a temperatura mais baixa do que em áreas sem arborização. Mas há outros aspectos, como a ausência da segurança pública, para evitar agressões, assaltos, e depredações no mobiliário urbano, na sinalização ou na iluminação pública.


Ainda em relação às árvores, raríssimas prefeituras mantêm equipes de técnicos especializados no manejo arbóreo. Árvores deveriam ser observadas, catalogadas e monitoradas ao longo dos anos para acompanhamento de sua saúde, aplicação dos tratamentos necessários e, eventualmente, realizar as podas de galhos doentes.


Enquanto pedalávamos ao lado dos galhos caídos, lembramos do cuidado adotado na região da Flórida (EUA), quando se aproxima a temporada dos tornados e furacões. Todas as árvores são cuidadosamente reforçadas com tirantes de aço, que evitam suas quedas durante as tempestades. Considerando os ventos cada vez mais fortes que virão, talvez seja o momento de adotar essa mesma prática por aqui.

 

Amarração de tirantes para proteger árvores, prática comum nos Estados Unidos Foto: Oconnor Tree Services


PS.: Chegamos ao centro esportivo, mas o edifício estava sem energia elétrica por causa da ventania, que derrubou galhos de árvores sobre as fiações . Felizmente, graças às nossas bicicletas, já havíamos feito um exercício bastante eficiente.


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