Ciclistas fazem 11.500 entregas por dia apenas em Copacabana

Zé Lobo, diretor do Transporte Ativo, fala sobre a pesquisa realizada no Rio de Janeiro com entregadores de cargas. É a última reportagem da série Trabalhadores do Pedal

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Pedro Carrion / Mobilize Brasil  |  Postado em: 07 de novembro de 2012

Zé Lobo e o transporte de cargas com bicicletas

Zé Lobo e o transporte de cargas com bicicletas

créditos: ITDP

 

Em sequência à série Trabalhadores do Pedal, publicamos hoje entrevista com o especialista Zé Lobo, do Rio de Janeiro, que realizou um levantamento sobre o número de entregas com bicicletas no bairro de Copacabana.

 

Como surgiu o interesse do Transporte Ativo em pesquisar as "bikes de trabalho"?  

Tanto o blog quanto o site Transporte Ativo são apenas janelas para divulgar as atividades da organização e outros fatos/dados interessantes sobre as bicicletas e cidades mais humanas.

O interesse por contagens de ciclistas em geral surgiu em 2008, quando percebemos que os números aparentes não batiam com as pesquisas oficiais. Isto porque as pesquisas geralmente visam viagens diferentes daquela que são o grande potencial das bicicletas: os deslocamentos pequenos dentro dos bairros. Então fomos contar e descobrimos um mundo que passava despercebido de todos, e principalmente dos gestores da cidade. 

Os resultados e a receptividade foram muito bons. Afinal, dados são um item importantíssimo para um bom planejamento. A partir destes bons resultados criamos o guia para contagens de ciclistas, para que qualquer um possa realizar sua contagem, em seu bairro, em sua cidade, em qualquer lugar.

De seis contagens previamente realizadas em Copacabana, percebemos que aproximadamente 35% das viagens do bairro eram feitas por bicicletas em serviço. Outro mundo que passa despercebido - de onde vinham, para onde iam, levando o quê? Daí surgiu o interesse, descobrir mais sobre o tema, afinal 35% era uma boa parcela dos deslocamentos de bicicleta no bairro.

 

Por que razão foi escolhido o bairro de Copacabana como foco do estudo?

Copacabana é um bairro bastante denso e com muitas atividades diferentes, o que propicia um circulação intensa de mercadorias, facilitava nosso trabalho pois além de já existirem outras seis contagens no bairro, que nos mostravam que 35% da circulação de bicicletas ali eram em serviço, logisticamente era muito prático. Por ser um trabalho totalmente voluntário, era feito nas horas vagas, então o ideal era que fosse perto da casa ou do trabalho dos voluntários.

 

Existe o interesse de ampliar o estudo para outros bairros do Rio de Janeiro e até outras capitas do Brasil? 

Sim, este é um tema em alta, a circulação de mercadorias em seu “último quilometro” e as bicicletas e triciclos aí, caem como uma luva. A European Cyclists Federation lançou este ano na linha do projeto Cyclelogistics  para tratar do assunto. Por aqui, além do interesse em levar o estudo para outros bairros, para 2013 estamos planejando alguns manuais com metodologias contagens de carga, criação de ciclorrotas colaborativas, no mesmo esquema do guia para contagens que mencionei acima. Assim qualquer um, cidadão, empresa ou poder público, poderá realizar qualquer desta atividades em seus bairros ou cidades. Uma pesquisa paralela foi feita nos bairros de Copacabana, Tijuca, Taquara e Santa Cruz, nas zonas Sul, Norte e Oeste da cidade, para checar possíveis semelhanças e diferenças. (Obs: esta pesquisa está disponível no Anexo I da pesquisa principal, que pode ser encontrada aqui mesmo no Mobilize).

 

Quais as conclusões e resultados alcançados com o estudo?

Em primeiro lugar vieram números surpreendentes: Levantamos 372 estabelecimentos que com 732 veículos a pedal e 768 funcionários fazem 11.541 entregas por dia ou 23.082 viagens/dia. Lembrando que isso representa 35% dos deslocamentos a pedal no bairro. Se comparados a motos para as bicicletas e mini-vans para os triciclos, o espaço economizado no bairro é maior que um campo de futebol, isso fora redução de ruídos e outros benefícios para a saúde do cidadão e da cidade. Ou seja estes veículos são uma excelente opção para a entrega de mercadorias em curtas distâncias e podem ser facilmente integrados à ruas movimentadas das grandes cidades.

Os resultados e conclusões do estudo, foram apresentados no  18º Congresso Brasileiro de Transporte e Trânsito da ANTP em 2011 e podem ser vistos na integra no site Transporte Ativo. O estudo foi objeto de matéria publicada na cidade das bicicletas, Copenhague.

 

Pode-se ter uma noção também da quantidade de gás carbono que não é liberado na atmosfera com a utilização de bikes para entregas?

As emissões que deixam de ser geradas por estas viagens, se considerarmos que as viagens feitas de bicicleta fossem feitas por motos e as de triciclo por mini-vans, promovem uma economia anual de 286,5 toneladas de CO2. Isso em cálculos conservadores, uma vez que os motores das motos e vans normalmente estão desregulados, gerando ainda mais emissões.

 

E o que esse valor significaria, em melhoria de qualidade do ar, por exemplo, em grande escala para grandes cidades?

Qualquer redução de emissões e ruídos, somados a uma melhor e mais saudável ocupação do espaço serão muito bem vindos em qualquer grande cidade e este estudo mostra o grande potencial das bicicletas no deslocamento de mercadorias ao seu destino final.

 

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Comentários

eneas rente ferreira - 28 de Agosto de 2014 às 07:57 Positivo 0 Negativo 0

ze   lobo. aqui é  enéas ferreira.[rio claro-sp] estivemos juntos no rio  em um encontro da urbal em 2003.  solicito autorização para colocar seu artigo sobre copacabana em um livro digital que estou produzindo sobre bike na unesp. rio claro,  abraço

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