SP: Moradores da Favela do Moinho se unem para construir parque

Negligenciada pelo poder público, população local é responsável pelas principais obras de melhoria na infraestrutura

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Fonte: Catraca Livre  |  Autor: Leonardo Blecher  |  Postado em: 24 de janeiro de 2014

Construção do parque faz parte do Projeto Comboio

Construção do parque faz parte do Projeto Comboio

créditos: Divulgação

 

“Posso ajudar, tio?”, perguntou o jovem Pedro Henrique, de sete anos, ao ver os adolescentes e adultos da Favela do Moinho trabalhando na construção do Parque Vermelhão. Diante da resposta afirmativa, o garoto pegou uma pá e se juntou ao grupo.

 

Pedro Henrique e as outras crianças da comunidade querem participar das obras do parque, pois sabem que aquele será um dos poucos espaços de lazer do local. Atualmente, só há bares e um campo de futebol, onde ocorrem as peladas dos mais velhos.

 

Todos os dias, os moradores se encontram na área destinada ao Vermelhão para preparar o terreno e discutir o que será feito ali. A ideia é que o espaço tenha diversas utilidades, como receber reuniões, apresentações, projeção de filmes, jogos de futebol das crianças, entre outras. O local será construído em formato de arena, com um tipo de arquibancada ao redor de uma área aberta rebaixada.

 

A obra faz parte do Projeto Comboio, de intervenção e pesquisa, tocado por Caio Castor e Flávia Lobo, que moram no Moinho há cerca de um ano. A iniciativa arrecadou R$ 800, em ferramentas e materiais de construção para possibilitar a ideia do parque.

 

“O objetivo é até mostrar para a Prefeitura que dá para fazer um bom trabalho com pouco dinheiro”, afirma Caio. “Queremos potencializar o que já está aqui, dar vida aos espaços subutilizados.”

 

Com as próprias mãos

Escondida entre duas linhas de trem e rodeada por grandes prédios residenciais, a Favela do Moinho é a última que restou no Centro de São Paulo. A pobreza de lá é destoante nos Campos Elíseos, terceiro bairro mais valorizado da cidade, segundo pesquisas.

 

Leonardo Blecher

A Favela do Moinho fica no terceiro bairro mais valorizado de São Paulo, Campos Elíseos, na região central (Leonardo Blecher)

 

Assim como o Vermelhão, todas as obras de melhoria estrutural na favela foram promovidas pelos moradores, sem apoio do poder público. Até mesmo os serviços mais básicos, como água, luz e esgoto, são resultado do trabalho da população.

 

“A canalização é feita dos encanamentos que a gente encontra”, conta Humberto Rocha, coordenador da Associação dos Moradores da Comunidade do Moinho. “A fiação foi feita com arrecadação nos moradores. Nada é legalizado”, completa.

 

Água, eletricidade e esgoto são algumas das muitas reivindicações ignoradas pelos órgãos responsáveis. “Já vieram fazer perícia das instalações aqui dentro, disseram que iam liberar as obras, mas não liberaram, nem vão”, disse Humberto, que mora com sua família há oito anos no Moinho e já se acostumou com as promessas de melhorias não cumpridas.

 

Durante a campanha de 2012, o prefeito Fernando Haddad propôs a urbanização da área e a regularização fundiária. No entanto, assim como as gestões anteriores do município e o Governo estadual, a atual Prefeitura dá mostras de que dificultará a permanência da população no Moinho.

 

Para os moradores, o descaso das autoridades é uma forma de pressioná-los a saírem do terreno valioso. A opinião é reforçada pelas frequentes incursões da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana.

 

Diante das adversidades, a forma que os moradores encontram para resistir no Moinho é trabalhar pela comunidade. “Quanto mais bem cuidado, com mais vida, mais forte fica”, opina Caio Castor.

 

 

Cultura é resistência

Em outubro de 2013, o Movimento Moinho Vivo, que defende os interesses da comunidade, realizou uma série de eventos para reivindicar a instalação da rede de luz e esgoto. Foram promovidos dois saraus, uma mostra de teatro e uma audiência pública, com presença de representantes da Prefeitura, da Secretaria de Habitação e da Sabesp.

 

Leonardo Blecher

A produção cultural ajuda os moradores a divulgarem os casos de violência policial que acontecem no Moinho (Leonardo Blecher)

 

 

Além das reivindicações, os saraus tiveram como mote a denúncia da violência policial na comunidade. Houve apresentações de rap e poesia. Estiveram presentes familiares de Amarildo Dias de Souza, ajudante de pedreiro morto pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, na Favela da Rocinha.

 

Além dos eventos culturais, o Moinho Vivo usa a produção audiovisual para registrar manifestações, reuniões com autoridades e incursões policiais. “O vídeo é uma importante ferramenta que estamos usando”, afirma Caio Castor.

 

Colabore!

Não há previsão para o término das obras do parque. A comunidade aceita doações de materiais, ferramentas e dinheiro. Os contatos podem ser feitos pelo e-mail projetocomboio@gmail.com, ou pelos telefones (11) 97229-1503 (Caio Castor) e (11) 99740-5409.

 

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