Há um ano, quando entrevistamos o secretário paulista de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, ele explicou que não tem mais sossego por conta das centenas de mensagens (e fotos) que chegam diariamente ao seu celular informando panes ou falhas nos sistemas de metrô e trens urbanos de São Paulo.
Ontem, conseguimos conversar com Adilson de Paula Silva, um dos articuladores desse movimento virtual de pressão para a melhoria dos transportes sobre trilhos. Morador no bairro da Penha, Adilson chega todos os dias à estação do metrô por volta de 6h e sempre encontra as filas, plataformas cheias e os empurrra-empurra cotidianos provocados pelos passageiros mais afoitos. "Uso o metrô desde 2002, e a linha vermelha desde 2006", lembra.
Em agosto de 2011, Adilson criou o perfil @usuariosmetrosp e passou a registrar, em tempo real, tudo o que acontecia nas estações, trens e bilheterias do metrô paulistano. "A ideia era compartilhar situações engraçadas, às vezes dramáticas, para que as pessoas possam ver o 'deus nos acuda' diário de quem pega o metrô nos horários de pico... Como o sujeito, que entra empurrando todo mundo na estação Brás e se diverte com isso...", lembrou o twitteiro.
Mas, logo depois de lançar o perfil, ele percebeu uma enorme demanda de pessoas que também desejavam trocar informações sobre a situação das linhas, lotação dos trens, falhas no sistema de ventilação, ou rotas alternativas. Rapidamente, o canal do twitter passou a registrar dezenas e centenas de mensagens entre usuários, com a visão do passageiro, diretamente do local.
Por exemplo, em maio de 2012, quando aconteceu o acidente inédito entre dois trens no metrô, o canal do twitter foi o primeiro veículo de comunicação a registrar o choque. "Nesse dia, tivemos mais de 1.500 interações e nos tornamos uma fonte para as emissoras de rádio e jornais. Por isso, temos que tomar muito cuidado para não divulgar notícias falsas ou brincadeiras de usuários", explica Silva, hoje quase um olheiro profissional da rede, das 5h até a meia-noite.
Na verdade, Adilson é da área de tecnologia e trabalha como supervisor de helpdesk em uma empresa de internet. E seu serviço de informações sobre o metrô é absolutamente voluntário, sem qualquer apoio financeiro, avisa ele.
Após seis meses do lançamento do perfil, Adilson e outros twitteiros foram convidados pela direção do metrô para conhecer o sistema de controle. "Hoje temos reuniões trimestrais com a equipe técnica da companhia e tenho uma linha direta com a direção; posso me comunicar com o pessoal das redes sociais lá de dentro sempre que surge algum imprevisto. O metrô hoje procura ter uma postura de transparência conosco", explica.
Campanha educativa
Adilson lembra também que há alguns meses a companhia criou a campanha "Espalhe respeito", que tinha o objetivo de melhorar as relações entre os passageiros, em um quadro de crescente superlotação. "Nós apoiamos a campanha, mas acho que o metrô não manteve a força inicial, necessária para aumentar a conscientização dos passageiros".
Ato contínuo, ele e outros "reclamões", como os do perfil @SardinhaExpress, lançaram a campanha #PenseColetivo justamente para estimular as boas práticas na rede: ceder o lugar a quem precisa, deixar as portas livres, não segurar as portas etc.
Quer saber mais? Acesse os perfis:
@UsuariosMetroSP
@UsuarioCPTM
@ Sardinha Express
@UsuarioMetroRio
@UsuariosMetroBH
E tem também o perfil oficial dos metrôs:
@metrosp_oficial
@metro_rio
@Metrofor
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