Recife se preocupa com as grandes obras e esquece as pequenas intervenções que facilitariam o trânsito

É como se as gestões não tivessem dimensão do crescimento da cidade

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Fonte: Jornal do Commercio  |  Autor: Roberta Soares  |  Postado em: 16 de abril de 2012

Obstrução no Cordeiro

Obstrução no Cordeiro

créditos: Divulgação

O Recife é uma cidade que não se pensa, não se planeja. E, quando o faz, não consegue finalizar o que propõe ou leva décadas para executar. Vive mais tempo inerte do que em movimento. Raramente tira do papel um ou outro projeto, a maioria pensada há mais de 20 ou 30 anos. É como se as gestões não tivessem dimensão do crescimento da cidade. Ignorassem o fato de o Recife possuir 1,6 milhão de habitantes, uma frota registrada de 600 mil veículos e recebesse, em suas vias, mais de 400 mil carros vindos de outras regiões. Muito tem se falado da mobilidade das cidades, que é a capacidade das pessoas de se moverem, mas é comum encontrar na capital pernambucana exemplos de imobilidade. Por toda parte, em vários bairros, nobres ou da periferia. A impressão é de que o sistema viário vai sendo implantado e ampliado aos trancos, em pedaços, muitas vezes sem conexão entre uma obra e outra. São ruas que acabam no nada, ligações que terminam simplesmente porque há imóveis instalados irregularmente no caminho.

 

Com a preparação para a Copa do Mundo de 2014, financiada quase que integralmente pelo governo federal, projetos começaram a sair do papel. Mas a prioridade tem sido dada às grandes obras, que custarão milhões. Muitas, até por exigência condicionante à liberação de recursos, priorizam o transporte público, o que é bom para a cidade. Exemplos são os Corredores Norte-Sul e Leste-Oeste, que cortarão não só o Recife, mas toda a Região Metropolitana, nos seus dois principais eixos. A Via Mangue, hoje a maior obra viária executada pela Prefeitura do Recife e totalmente destinada ao automóvel, também não pode ser esquecida. Só que a cidade precisa do olhar micro, das pequenas obras, das pequenas ligações. Intervenções baratas, se comparadas com as mega obras, que poderiam facilitar a circulação viária e demonstrar que a gestão está presente, ativa.

 

O Jornal do Commercio foi às ruas para apontar algumas dessas pequenas intervenções que influenciariam positivamente o tráfego de veículos na cidade, desafogando corredores viários saturados e beneficiando não só os carros, mas também o transporte público, que por não ter prioridade nas vias, briga diariamente por espaço com os automóveis. A reportagem andou por ruas sem continuidade, em avenidas interrompidas por imóveis, conversou com moradores que convivem com ruas parcialmente pavimentadas e identificou que, na maioria dos casos, a espera por melhorias é antiga. E mais: mesmo sem as condições ideais, muitas dessas ‘soluções’ já são utilizadas, mesmo que informalmente, como rotas de fuga e caminhos improvisados por muitos motoristas.

 

Veja alguns exemplos:

1) Rua improvisada nas Graças
Trecho de 150 metros da Avenida Beira-Rio, nas Graças, Zona Norte, foi aberto à força pela população. Os motoristas começaram a usar a via improvisadamente como rota de fuga ao tráfego pesado da Avenida Rui Barbosa e Rua Amélia. Fazem retorno por ela. Há um ano e meio, a prefeitura desocupou a área com o pretexto de que faria mais uma etapa da Beira-Rio, mas nada aconteceu. Mesmo esburacada, sem iluminação e localizada no pé da Ponte da Torre, a via já tem tráfego constante.

 

2) Prolongamento em Casa Amarela
A Avenida Professor José dos Anjos, que margeia o Canal do Arruda, na Zona Norte, não precisaria morrer ao chegar à Avenida Norte. Poderia seguir até a Rua da Harmonia, em Casa Amarela, retirando veículos da Avenida Norte. Mas as invasões tomaram conta dos dois quilômetros da futura ligação. A prefeitura planeja o prolongamento, mas segura a obra por causa das desapropriações.

 

3) Binário como solução em Campo Grande

A Rua São Caetano, em Campo Grande, na Zona Norte, poderia compor um binário com a Rua Odorico Mendes, passando a receber parte do tráfego da via, que vive congestionada até a Estrada de Belém, nos horários de pico. Paralela à Odorico, a rua já é utilizada como rota de fuga por quem conhece a região. A CTTU tem projeto para implantar o binário, mas a mudança não agrada aos moradores. O barman Pedro José Paiva, 24, revela que lombadas físicas têm sido instaladas para forçar os veículos a reduzir a velocidade.

 

4) Obstrução no Cordeiro

O Canal do Cavouco, entre o Cordeiro e a Iputinga, Zona Oeste do Recife, foi urbanizado e, além de duas marginais pavimentadas, ganhou ciclovia. Mas apenas até a Avenida Caxangá. A partir daí, ele permanece obstruído por invasões. Poderia ter continuidade, servindo como semiperimetral.

 

 

5) Via que termina no nada na Ilha Joana Bezerra
A continuação da Avenida Beira-Rio, na Ilha Joana Bezerra, área central do Recife, facilitaria o acesso de motoristas que saem das Zonas Oeste e Sul para o Centro. Poderia se ligar à Avenida Central, desafogando vias estreitas da região. Mas a Beira-Rio acaba no nada, logo após o Fórum do Recife. A obra chegou ali e parou. Hoje, sem continuidade, serve apenas para as auto-escolas e para o encontro de vândalos e viciados.

 

6) Asfalto só em um lado da via na Encruzilhada
A Rua Professor Gerônimo Gueiros, na Encruzilhada, Zona Norte, é emblemática. Dividida por um canal, tem a pista oeste pavimentada e a leste ainda em terra. Com um quilômetro de extensão, poderia funcionar como uma semiperimetral, retirando veículos da Avenida Beberibe. O prolongamento da via é impedido por uma favela e a única pista pavimentada é usada como mão dupla.

 

7) Via sem continuação no Poço da Panela
Outro exemplo de que o sistema viário do Recife é implantado a conta gotas pode ser encontrado nos bairros de Santana e Poço da Panela, Zona Norte. A Rua Astério Rufino Alves, conhecida como Beira-Rio, foi pavimentada, mas ficou sem continuação até o Poço. Os veículos são obrigados a voltar para a Avenida 17 de Agosto, um dos corredores mais problemáticos da região. A auxiliar de gabinete Rosseline Feitosa, 39 anos, torce para que a via seja prolongada. “Só assim, teríamos o ônibus passando perto”, defende.

 

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