Bicicletas públicas começam a operar em Salvador, mas já há problemas

Teste mostra falta de respeito do motorista, e bicicletas já avariadas: das 8 bikes disponíveis, quatro estavam com retrovisor quebrado e três com pneus vazios

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Fonte: O Correio  |  Autor: Gil Santos  |  Postado em: 25 de setembro de 2013

Repórter tenta dividir espaço com os carros no Cen

Repórter tenta dividir espaço com os carros no Centro

créditos: Mauro Akin Nassor

 

Falta de respeito dos motoristas, pistas sem sinalização e alguns buzinaços. Quem quiser andar de bicicleta em Salvador terá que ter paciência e contar com a sorte. O jornal Correio testou, ontem, dar uma volta numa das bicicletas públicas do programa Salvador Vai de Bike — projeto da prefeitura em parceria com o banco Itaú que conta com 40 bicicletas distribuídas em cinco estações na cidade.

 

O repórter retirou a bicicleta às 10h43 na estação do Campo Grande e seguiu pela Rua do Forte de São Pedro, Avenida Sete de Setembro, Rua Chile, retornou na Praça da Sé e devolveu a bike na Praça Castro Alves. No trajeto, de cerca de 2,5 km, nem o laranjão da bicicleta, nem buzina, nem sinais com a mão... Nada disso foi suficiente para impor respeito sobre os motoristas.

 

Ainda no início do trajeto foi registrado o primeiro desrespeito. No cruzamento entre a Rua do Forte de São Pedro com a Ladeira da Fonte, ao lado do Teatro Castro Alves, um taxista quase atropelou o repórter. Não adiantou reclamar. “Vixe! Eles não respeitam mesmo”, disse uma senhora que se assustou com a cena.

 

Na Avenida Sete, o projeto prevê uma ciclofaixa aos domingos. Mas durante a semana, sem essa reserva de espaço, o ciclista sofre. É preciso se espremer entre a pista e a calçada — ora desviando dos carros, ora tentando não atropelar os pedestre. Os momentos de maior tensão acontecem no encontro entre as ruas de mais movimento. Na entrada da Rua Politeama, que faz cruzamento com a Avenida Sete, um ônibus fechou o repórter-ciclista e ainda finalizou com um buzinaço.

 

Acostumado a percorrer as ruas da cidade de ônibus, Valci Berreto, 63 anos, que faz parte do grupo de clicoativismo Jabutis Vagarosos, avalia que o maior vilão dos ciclistas é justamente o motorista de ônibus. “Eles tiram fino, buzinam e arremessam as bicicletas... Isso é uma questão de cultura e falta dela (cultura). É necessário uma campanha maciça de educação no trânsito”.

 

A gerente de Educação para o Trânsito da Transalvador, Mirian Bastos, disse que o órgão vem realizando trabalhos de conscientização. “Em agosto, fizemos um seminário com representantes das 18 empresas de ônibus. No dia 25 de outubro, teremos outro evento com o mesmo foco” , declarou.

 

O trajeto do repórter-ciclista mostrou que a educação no trânsito é um desafio também entre os motoristas de carros menores - dificilmente eles dão a preferência a quem vai de bike. A maioria parece ignorar o Código Nacional de Trânsito, que, no Artigo 58, diz que as bicicletas devem circular nas margens da pista, no mesmo sentido dos carros, “e com preferência sobre os veículos automotores”.

 

O Artigo 201 prevê ainda ser infração média, passível de multa, ultrapassar a bicicleta a menos de 1,5 metro de distância. Apesar de todos os perigos, ninguém ficou ferido.

 

Transporte

No primeiro dia útil do programa municipal Salvador Vai de Bike, algumas pessoas aproveitaram para usar a bicicleta como meio de transporte para chegar ao trabalho. Uma delas foi a estudante de Línguas Estrangeiras da Ufba Lívia Suarez(foto), 25 anos. Ela, que mora na Barra, às 9h40, pegou a bicicleta para ir ao Comércio. “Vou pegar a bicicleta aqui (Barra) e deixar no bicicletário da Praça Castro Alves. De lá eu pego o elevador (Lacerda) e vou para o Comércio”, disse.

 

Lívia chegou na Castro Alves 22 minutos depois. Ao contrário do que aconteceu com a equipe do Correio, ela disse não ter tido problemas com a falta de respeito. Mas também sem saber que o Código de Trânsito proíbe, ela pegou a contramão no Campo Grande, depois do Corredor da Vitória. “Eu não sabia que não podia. Tentei evitar a confusão daquela região”.

 

Já o estudante de Tecnologia da Informação, Hélio Silva, 26, pegou a bicicleta no Jardim Apipema e depois de 10 minutos de pedaladas deixou o equipamento na estação do Porto da Barra. “Sempre faço esse trajeto, mas caminhando. Agora tenho outra opção para fazer exercícios”, disse.

 

Avarias

Quando a reportagem passou na estação do Porto da Barra, ontem, às 9h40, havia oito bicicletas disponíveis: quatro delas tinham o retrovisor quebrado. Dessas, três tinham os pneus vazios.

 

Segundo Isaac Edington, secretário Municipal da Copa, o estado de conservação de algumas bicicletas não passa de mau uso dos condutores. “Isso não foi vandalismo. Faz parte do aculturamento do sistema. Salvador é a quinta capital a implantar o sistema. As pessoas ainda não têm habilidade para retirar o equipamento e, muitas vezes no afã, acabam danificando”, disse.

 

Cerca de 3 mil pessoas se cadastram no primeiro dia Até a manhã de ontem, 2.884 pessoas se credenciaram no programa informou a prefeitura. Foram registradas 509 viagens. Para usar serviço, primeiro é necessário fazer o cadastro no site www.bikesalvador.com. A taxa é de R$ 10 por ano. Uma vez na estação, a liberação das bicicletas pode ser feita através do telefone 4062-7024.

 

Hoje, há 50 bikes disponíveis, distribuídas em cinco estações: Campo Grande, Castro Alves, Jardim Apipema, Porto da Barra e Praça da Piedade. Segundo o Escritório Municipal da Copa (Ecopa), responsável pela iniciativa, até o final do ano a cidade contará com 40 estações. O serviço funciona de 6h às 22h, de segunda a sábado, e das 7h às 17h, aos domingos.

 

O usuário pode usar durante 45 minutos. Depois desse tempo, a cada 30 minutos é cobrada taxa de R$ 5. A cada devolução é preciso esperar 15 minutos para poder pegar outra bike. Após o uso, a bicicleta pode ser entregue em qualquer estação.

 

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