Lições de Nova York: menos carros, mais pedestres, ciclistas e ônibus

Janette Sadik-Khan veio a SP, fez duas palestras e mostrou que mudar a cidade exige principalmente decisão. Por que nós brasileiros não conseguimos?

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa  |  Postado em: 27 de setembro de 2013

Projeto para transformação no cruzamento das ruas

Projeto para o cruzamento das ruas Old Fulton com Water St.

créditos: Reprodução DOT

 

Uma moça lépida e quase saltitante subiu ao palco do Auditório Ibirapuera, nesta quarta-feira (25), em São Paulo, para falar sobre cidades e transformações na mobilidade urbana. A palestra, a mais esperada do evento Arq. Futuro, começou sem grandes salamaleques: a secretária de Transportes de Nova York Janette Sadik-Khan iniciou sua apresentação, de forma simples, objetiva, e mostrou que para mudar uma cidade é preciso querer mudar. E ter coragem para enfrentar a inércia dos apoiadores e a eventual má fé dos detratores. 

 

Ela lembrou que hoje a maioria da pessoas do mundo vive em cidades: no mundo são 70% e no Brasil já são 87% das pessoas vivendo em centros urbanos. "Todos querem viver nas cidades e, portanto, o desenho dos espaços urbanos vai ser fundamental para o futuro da humanidade", disse a gestora. 

 

Mostrou, por exemplo, uma foto da Times Square em 1950 e outra por volta de 2002 para explicar que nada havia mudado na infraestrutura urbana. "As pessoas mudaram, os costumes se alteraram, a cultura mudou, e as ruas continuavam as mesmas. Noventa por cento dos espaços estavam ocupados por veículos, mas 90% das pessoas queriam mais espaço para caminhar e conviver. Daí decidimos começar a mudança. E deixamos 90% dos espaços para o pedestre", disse Janette. 

 

Tudo foi realizado com soluções de baixo custo, porque a prefeitura não tem dinheiro para grandes obras, explicou Janette. As intervenções foram feitas de forma rápida - em algumas horas - basicamente com sinalização: pintura das pistas e colocação de algumas placas, tudo para reorganizar os fluxos e reduzir o espaço dos carros.

Como exemplo, mostrou uma esquina no Brooklyn, que tinha um espaço central usado como estacionamento informal de veículos: bastou o trabalho de uma noite para converter a área em uma praça de convívio. Materiais usados: imaginação, tinta, cones de sinalização, algumas mesas e guarda-sóis. Em outros pontos, a prefeitura implantou placetas (quick plazas), com deques de madeira, mesas e cafés, que se tornaram concorridos pontos de encontro na cidade. 

 

Pedestres, ciclistas e ônibus saíram ganhando e a resposta foi tão positiva que ninguém teve coragem de voltar atrás. Foi um desafio, reconheceu a secretária, ao lembrar a forma fria como suas ideias foram recebidas pela equipe do então candidato à prefeitura. "Somente Bloomberg aceitou minhas propostas e me deu carta branca para colocá-las em prática", lembrou.


Bingo, sucesso, e Janette planejou a expansão das mudanças por toda a Big Apple. E daí nasceram novas ciclovias, que devem chegar a 600 km em 2013, e que foram estratégicas durante a passagem do furacão que devastou a cidade em 2012: elas foram a única forma de transporte urbano viável durante a crise.



                              Ciclofaixa implantada com simples pintura de solo


E daí, o perfil médio do ciclista novaiorquino se alterou profundamente: senhores de terno, senhoras idosas e crianças passaram a usar suas bicicletas diariamente. Mudou mais ainda com a recente (e aqui São Paulo e Rio estão na frente) criação do sistema de bicicletas compartilhadas, o CityBike, que já ganhou a adesão de 85 mil usuários e gerou 3,5 milhões de viagens com as 6 mil bicicletas dispostas em toda a cidade.


Nasceram também faixas exclusivas de ônibus - 3 milhões de pessoas viajam neles diariamente, disse a secretária - e um novo tipo de abrigo para os passageiros, com design moderno, que sinaliza a mudança no transporte urbano.


E ainda, o Departamento de Transportes decidiu alterar a velocidade máxima de circulação de veículos na cidade, que foi reduzida de 40 para 30 milhas por hora, além da criação de zonas com velocidade de 20 milhas (cerca de 30 km/h). Para "acalmar" ainda mais o trânsito, criaram-se ilhas de travessia e uma forte sinalização de advertência e orientação aos motoristas e pedestres. Com isso, a cidade colheu uma redução importante no número de acidentes e mortes no trânsito.

WalkNYC sign
           Tótens para orientação dos pedestres: estímulo ao caminhar

 

Resultado dessa operação entre 2006 e 2013 são uma série de manuais com orientações para o redesenho das ruas. Os documentos estão disponíveis no site do Departamento de Transporte de New York. Basta acessar e fazer o download.


E nós, quando começaremos, senhores prefeitos?


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