Este artigo apresenta o quadro de injustiça na mobilidade urbana como pano de fundo para analisar a acessibilidade e a própria mobilidade urbana, mirando revelar injustiças críticas, que muitas vezes são esquecidas ou passam desapercebidas, no sistema de mobilidade.
Ao reavaliar dados e informações de transporte, os autores distinguem os regimes de (i)mobilidade, expondo a interdependência opressiva entre eles, que refletem e reforçam as injustiças entre grupos sociais distintos.
Usando dados empíricos do transporte público em São Paulo como prova de conceito, o estudo mostra como as condições de transporte em termos de tarifa e superlotação são moldadas por indicadores sociais, como classe e raça. Áreas predominantemente inabitadas por pessoas brancas apresentam menores índices de superlotação nos transportes (menos de 6 passageiros por metro quadrado) e tarifas reduzidas (menos de 9 reais)
enquanto as zonas ocupadas principalmente por residentes negros de classe baixa sofrem com a superlotação e tarifas mais altas (mais de 18 reais), que subsidiam inadvertidamente as menores tarifas para as classes mais altas.
Esta dinâmica demonstra o quanto as condições de precariedade e privilégio podem estar profundamente intrincadas num sistema público de transportes.
O argumento e as descobertas do estudo defendem uma mudança de paradigma na pesquisa sobre transporte urbano, enfatizando a opressão entre grupos sociais dentro dos sistemas de mobilidade urbana.