Dirigir usando celular: a terceira causa de morte no trânsito no Brasil

Quando o motorista está ao celular, mesmo com dispositivo em viva voz, o tempo de percurso e a resposta de reação a obstáculos à sua frente sofrem alterações, diz estudo

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Fonte: Mobilize Brasil / Perkons (Ass. imprensa)  |  Autor: Giovana Chiquim/ Perkons  |  Postado em: 17 de maio de 2018

Desatenção durante a conversa é pior que dirigir c

Desatenção durante a conversa é pior que dirigir com uma mão

créditos: Shutterstock

 

Celular e direção são uma combinação perigosa. A Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet) revelou que o uso de celular é a terceira maior causa de mortes no trânsito no Brasil – atrás apenas do excesso de velocidade e do consumo de álcool pelos motoristas. 

 

São cerca de 150 óbitos por dia no país e quase 54 mil por ano provocados pela utilização indevida do aparelho na hora de dirigir. A entidade promoveu um estudo para avaliar a interferência causada pelo ato de falar ao telefone celular, com o dispositivo em viva voz, e constatou que fatores humanos como a distração e a falta de concentração, ocasionadas pelo uso do celular, podem motivar o aumento de acidentes.

 

Na ocasião, com a ajuda de um simulador de direção, foi verificado o desempenho de oito voluntários, sendo quatro homens e quatro mulheres, com idades entre 23 e 52 anos. 

 

A pesquisa observou que os tempos de percurso e reação, além do número de infrações e acidentes de trânsito se elevaram quando os voluntários falavam ao celular no mecanismo viva voz, durante a direção simulada. 

 

Em condições normais, os motoristas levariam uma média que varia de 3 minutos e 1 segundo a 3 minutos e 48 segundos para percorrer determinado percurso. Para realizar o mesmo trajeto, falando ao celular com o viva voz, demorariam entre 3 minutos e 14 segundos a 4 minutos e 17 segundos.

 

Os tempos de reação apresentados pelos voluntários variaram de 60 a 66 segundos em condições normais e de 62 a 74 segundos quando foram testados usando o aparelho. 

 

O número médio de infrações de trânsito cometidas pelos motoristas testados em condições normais foi de 2,5 e passou para 4,75 quando falavam ao celular. Já o número de acidentes provocados aumentou de 0,5 para 1,5 em razão da distração provocada pelo aparelho.

 

A Abramet calculou também, usando dados internacionais, que gastamos entre 8 e 9 segundos para atender a uma chamada telefônica – entre ouvir a chamada, localizar o celular, pegar, desbloquear e atender. Se o motorista estiver a 80 km/h, por exemplo, ele vai percorrer quase duas quadras desatento em relação ao trânsito. 

 

No caso de mensagens de texto, a entidade calculou que levamos de 20 a 23 segundos para responder uma mensagem básica. Se o condutor estiver a 60 km/h, vai percorrer quase quatro quadras dividindo a atenção entre o trânsito e o celular. Dificilmente não vai encontrar um obstáculo pela frente.

 

Conscientização

O médico especialista em trânsito Aly Said Yassine explicou à assessoria da Perkons quais são os fatores que interferem no comportamento dos motoristas quando eles dirigem usando o celular, mesmo com o dispositivo em viva voz. 

 

O primeiro deles é o conteúdo das conversas. “O que prejudica os condutores não é o fato de estarem com apenas uma mão no volante. O pior é dividir a atenção entre a via e o conteúdo da mensagem. Imagine a concentração de uma mãe na direção, se está falando com alguém da escola do filho, avisando que ele está com febre, por exemplo”, observa o especialista.

 

O segundo fator é o tempo de resposta do motorista frente a um obstáculo, que é mais lento. “Com a atenção desviada para o celular, o tempo de frenagem para desviar de um pedestre ou para respeitar o semáforo é mais lento. Para se ter uma ideia da gravidade da situação, a desatenção causada pelo ato de falar ao celular é maior em comparação à falta de concentração que acomete um motorista sob o efeito do álcool”, ensina Yassine.

 

A visão periférica é o outro fator que sofre prejuízo quando o condutor conjuga a direção e a conversa no celular. “Em condições normais, o motorista consegue perceber o que acontece nas laterais, como a aproximação de um ciclista, mas quando desvia sua atenção para o telefone, não consegue perceber o que acontece no entorno”, comenta o médico.

 

Ele acrescenta que dirigir embriagado ou falar ao celular é uma catástrofe anunciada. “Como tudo na vida, tem hora para tudo. Não vamos de sunga no banco e nem de terno na praia. Com a tecnologia é a mesma coisa: é preciso saber utilizá-la. Precisamos diminuir o excesso de velocidade, a incidência de motoristas que bebem e dirigem e aqueles que usam o celular no trânsito para conseguir diminuir as mortes causadas por acidentes nas vias públicas”, salienta Yassine.

 

Retrocesso

Para Eduardo Biavati, mestre em sociologia e consultor em educação para segurança no trânsito, o grande problema no Brasil é o retrocesso na legislação e nas medidas de trânsito, que deveriam ser mais severas no que diz respeito ao uso de celulares e ao excesso de velocidade, segundo ele os grandes causadores dos acidentes de trânsito no país. 

 

No entanto, na opinião do sociólogo, o que se vê, por parte dos órgãos públicos, é a preocupação com medidas pouco efetivas, como multar pedestres que atravessam fora da faixa e ciclistas que adotem comportamento arriscado nas ruas (essa lei entra em vigor em abril de 2019, conforme Resolução 706/2017).

 

“Não conseguimos nem fiscalizar o uso de celulares na direção e agora pretende-se fiscalizar pedestres e ciclistas?! O grande problema é que estamos olhando para as vítimas e não para os motoristas, que são os causadores de mortes no trânsito quando colocam a vida das pessoas em risco ao falar no celular quando dirigem ou excedem o limite de velocidade, principalmente nas rodovias”, conclui Eduardo Biavati.

 

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