Cidades devem adaptar soluções para seus desafios particulares

A população mundial chegou em 31 de outubro aos sete bilhões de habitantes e a maioria destas pessoas está morando em cidades

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 |  Autor: Cezar Taurion  |  Postado em: 09 de dezembro de 2011

Cidades Inteligentes

Cidades Inteligentes

créditos: IBM

A urbanização é crescente e pelo período da vida de uma criança de hoje a população das cidades passará dos atuais 3,5 bilhões para mais de seis bilhões. O crescimento urbano é um fenômeno inevitável, pois as cidades são pólos atrativos de crescimento econômico. Só para lembrar, há 200 anos Londres era a única cidade do globo com população de um milhão de habitantes. Hoje, temos mais de 400 cidades com pelo menos um milhão de habitantes.

 
Entretanto, esta concentração urbana já dá claros sinais dos imensos desafios que temos pela frente. Por exemplo: as cidades já produzem 80% das emissões mundiais de carbono.
 

Por outro lado, as cidades podem e devem desenvolver estratégias e soluções que unam progresso econômico com sustentabilidade. Um dos fatores positivos é que as cidades podem criar estas soluções mais facilmente do que os próprios países, pois não precisam de leis nacionais ou acordos internacionais para agirem.
 

As cidades dos países emergentes, como o Brasil, têm desafios diferentes das cidades dos países desenvolvidos. Nestas últimas, a infraestrutura foi construída ao longo de dezenas ou mesmo centenas de anos e hoje precisa ser modernizada. Já nos países emergentes a infraestrutura muitas vezes precisa ser criada, até mesmo para coisas básicas, como saneamento.
 

Melhorar a qualidade de vida dos seus habitantes já começa a ser internalizada na agenda dos gestores públicos. Em um mundo cada vez mais globalizado, a competição já começa a sair do plano da competição entre países para competição entre cidades. Uma cidade de um determinado país pode ser mais atrativa para os negócios que o próprio país.
 

Mas, para ser competitiva, a cidade tem que enfrentar e vencer seus desafios. A tecnologia é um fator alavancador de extrema importância. Com ela podemos interconectar em tempo real sistemas antes isolados, como energia, transporte e segurança. Os resultados desta interconexão são sistemas muito mais eficientes. Um sistema interconectado pode criar uma “zona verde”, abrindo todos os sinais de trânsito para facilitar o deslocamento de uma ambulância em atendimento emergencial. Sistemas de tarifação de uso de centros urbanos começa ser adotado em algumas cidades, com resultados bastante expressivos. Estocolmo, na Suécia, é um bom exemplo. Após adotar a solução, a cidade viu que o congestionamento foi reduzido significativamente como também mediu cerca de 15% de redução na emissão de gases de efeito estufa.

 
Outra tendência, que está acelerada, será a adoção de prédios inteligentes. Hoje cerca de 40% do consumo de energia das grandes cidades vem dos prédios. Incentivar o uso de tecnologias para torná-los mais inteligentes e, portanto, mais eficientes começará a ser política pública.

 
Melhorar a mobilidade urbana é outra prioridade urgente para a imensa maioria das cidades. Alguns casos de sucesso podem e devem ser compartilhados. Curitiba, no Brasil, é um deles. Singapura é outro caso exemplar. Eles transformaram a cidade em 20 anos, direcionados por um plano estratégico em que o transporte de massa foi um dos seus principais pilares. Nestes últimos 20 anos a população dobrou, mas o congestionamento se manteve em níveis mínimos e o trânsito flui adequadamente. A maioria da população (entre 65% e 70%) usa o transporte público. O governo incentiva seu uso, ao mesmo tempo que desestimula o transporte privado.
 

Entretanto, não existe uma solução padrão. Cada uma tem prioridades diferentes. As cidades no Oriente Médio não se preocupam com eficiência energética pois os custos dos combustíveis (fósseis, é verdade...) são muito baixos, mas desperdício de água é crítico, devido a sua escassez.

 
E quanto ao Brasil?  A importância da urbanização está se tornando capa de revistas de grande circulação como a Veja, que na edição de 2 de novembro publicou um especial sobre as cidades brasileiras. O país está em um crescente processo de urbanização. Nos anos 50, 64% da nossa população vivia nas zonas rurais. Hoje os brasileiros que vivem nas cidades são 84% da população. A reportagem mostra que muitas cidades do interior estão fazendo bonito diante dos desafios provocados pelo seu crescimento urbano. Por exemplo, 106 cidades com mais de 200 mil habitantes, excetuadas as capitais, respondem por 27,7% do PIB nacional e abrigam 20,4% da população do país. Destas, 46 estão no chamado polígono da riqueza, na região sudeste, concentrando 16% do PIB e 10% da população do Brasil. O PIB deste conjunto é maior que o de países como Portugal, Colômbia e Finlândia.
 

O que a análise destas cidades mostra? Primeiro, que as que mais progrediram foram as que mais investiram em educação. Um exemplo é Paulista, em Pernambuco,  que investiu na qualificação de mão de obra de nível técnico e atraiu negócios. Outras entenderam que universidades de qualidade teriam capacidade de transformar a cidade, tornando-as centros de referência, como São Carlos. Acesso a banda larga é outro pilar de crescimento econômico. Este é um problema que temos que enfrentar. Comparando o Brasil com a Coréia do Sul, que tem a melhor média do mundo, vemos que lá é possivel baixar dados 20 vezes mais rápido que a nossa média nacional.
 

Por outro lado, o estudo mostrou que ainda existem muitos gestores públicos que não aprenderam a lição e muitas cidades brasileiras convivem com problemas de desemprego, educação, saneamento básico e outras mazelas.

 
Diante deste quadro fica a lição: as cidades podem por sua escolha se tornar pólos atraentes para negócios e prosperar ou ficar para trás. A urbanização tem efeitos positivos como a economia de escala. Os custos derivados da instalação de redes de coleta de esgotos, abastecimento de água e mobilidade urbana só é possível em concentrações urbanas. Nos centros urbanos floresce a educação, saúde e lazer. Mas é indispensável que a própria população se mobilize para pressionar a gestão pública a tornar sua cidade inteligente. Uma cidade inteligente atrai riqueza e riqueza atrai mais riqueza.

 

 

*Cezar Taurion é economista, mestre em Ciências da Computação e gerente de Novas Tecnologias da IBM

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