Poluição por combustíveis fósseis causa 1 em cada 5 mortes no mundo

Estudo publicado hoje (9) mostra região Sudeste do Brasil entre as mais afetadas. Padrão Proconve 8 reduziria emissões dos veículos a diesel, mas segue fora da legislação

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Fonte: Mobilize/ Climainfo  |  Autor: Mobilize Brasil  |  Postado em: 09 de fevereiro de 2021

Montadoras relegam uso de tecnologias limpas nos t

Montadoras relegam uso de tecnologias limpas nos transportes

créditos: Idec

Mais de 8 milhões de pessoas morreram em 2018 devido à poluição por queima de combustíveis fósseis, como o diesel e o carvão. Isto significa que 1 em cada 5 mortes no mundo teve como causa essa modalidade de contaminação do ar - estimativa significativamente superior à de pesquisas anteriores. 

 

A informação é de um estudo publicado hoje (9) na revista Environmental Research por cientistas da Universidade de Harvard, em colaboração com a Universidade de Birmingham, a Universidade de Leicester e o University College London (UCL). 

 

Os pesquisadores descobriram que a exposição a partículas provenientes de emissões de combustíveis fósseis foi responsável por 21,5% do total de mortes em 2012, caindo para 18% em 2018 devido a medidas mais rigorosas de qualidade do ar na China.

 

Na América Latina, o estudo identificou que, em 2012, quase 6% das mortes de crianças (747 falecimentos) e cerca de 8% das mortes de adultos (cerca de 180 mil falecimentos) tiveram como causa a poluição atmosférica, percentual semelhante ao de adultos mortos no Brasil por essa razão. 

 

As regiões com as maiores concentrações de poluição do ar por combustíveis fósseis - incluindo o Leste da América do Norte, Europa e Sudeste Asiático - têm as maiores taxas de mortalidade, de acordo com o estudo publicado. Nessas regiões, o problema está relacionado, sobretudo, às usinas termelétricas movidas a carvão. O Brasil como um todo não aparece como um dos países mais afetados, mas a região Sudeste se destaca (ver mapa abaixo). 

 

Mapa realça diferenças por regiões das concentrações de particulados por emissões de combustível fóssil

 

"Quando esses estudos olham para o Brasil, eles observam todo o território, o que pode dar a falsa impressão de que os brasileiros não estão expostos a altos índices de contaminação do ar, mas mais de 80% da população brasileira vive em cidades, que é onde está concentrada a poluição por material particulado oriunda da queima de combustível fóssil", explica o físico ambiental e professor da USP Paulo Artaxo. 

 

O professor ressalta que essa contaminação é gerada principalmente pelos veículos pesados, como os ônibus movidos à diesel. "Já existe tecnologia para coletivos com baixa emissão ou até emissão zero, como é o caso dos ônibus elétricos, mas o lobby das empresas de transporte junto às câmaras de vereadores tem impedido que o ar das nossas cidades se torne mais seguro." 

 

Para Artaxo, os legisladores não agem de acordo com a gravidade do problema no país. "As montadoras querem adiar por ainda mais tempo o Proconve 8, um padrão tecnológico que reduz a poluição gerada pelos veículos salvando milhares de vidas e que já foi adotado nos países desenvolvidos uma década atrás. Nós temos que nos questionar: a legislação é feita para proteger as pessoas ou as indústrias?" 

 

Nova metodologia

Como os pesquisadores chegaram a um número tão alto de mortes — 8,7 milhões em 2018 somente por combustíveis fósseis —, se o mais recente Global Burden of Disease Study (o maior e mais abrangente levantamento sobre as causas da mortalidade global) coloca em 4,2 milhões o número total de mortes globais por material particulado no ar, incluindo poeira e fumaça de incêndios florestais e queimadas agrícolas? 

 

As pesquisas anteriores dependiam de observações de satélite para estimar as concentrações médias anuais globais de partículas em suspensão no ar, conhecidas como PM2,5. O problema é que essas observações não conseguiam distinguir entre as partículas provenientes de emissões de combustíveis fósseis e aquelas de outras fontes, como poeira e queimadas. Para superar este desafio, os pesquisadores de Harvard se voltaram para GEOS-Chem, um modelo global 3D de química atmosférica com alta resolução espacial. Com isso, foi possível dividir o globo em uma grade com caixas de até 50 km x 60 km e observar os níveis de poluição em cada caixa individualmente. 

 

Outra inovação foi o modelo de avaliação da ligação entre os níveis de concentração de partículas e os resultados em saúde, desenvolvido pelos professores de Epidemiologia Ambiental de Harvard, Alina Vodonos e Joel Schwartz. Este novo modelo encontrou uma taxa de mortalidade mais alta para exposição às emissões de combustíveis fósseis a longo prazo, inclusive em concentrações mais baixas. 

 

"Com dados de satélite, você está vendo apenas peças do quebra-cabeça", disse Loretta J. Mickley, co-autora do estudo e pesquisadora sênior em Interações Químico-Climáticas da Harvard John A. Paulson School of Engineering and Applied Sciences (SEAS). "É um desafio para os satélites distinguir entre os tipos de partículas, e pode haver lacunas nos dados". 

 

"Em vez de depender de médias espalhadas por grandes regiões, queríamos mapear onde está a poluição e onde as pessoas vivem, para podermos saber mais exatamente o que as pessoas estão respirando", disse Karn Vohra, estudante de pós-graduação da Universidade de Birmingham e primeira autora do estudo. 

 

"Muitas vezes, quando discutimos os perigos da combustão de combustíveis fósseis, ficamos no contexto do CO2 e das mudanças climáticas e ignoramos o potencial impacto na saúde", disse Schwartz. 

 

"Nosso estudo dá novas evidências de que a poluição do ar pela contínua dependência dos combustíveis fósseis é prejudicial à saúde global", disse Marais. "Não podemos, em boa consciência, continuar a depender dos combustíveis fósseis, quando sabemos que existem efeitos tão severos sobre a saúde e alternativas viáveis e mais limpas". 

 

Para ler o estudo "Global mortality from outdoor fine particle pollution generated by 2 fossil fuel combustion: Results from GEOS-Chem" na íntegra, clique aqui.

 

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