Bicicleta e máscara: o jeito mais seguro de se locomover

Antes e depois da pandemia, caminhar e pedalar continuam sendo a melhor solução, afirma o médico patologista Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Regina Rocha/ Mobilize Brasil  |  Postado em: 27 de maio de 2020

Ciclista protegida com máscara na região do Ibirap

Ciclista protegida com máscara na região do Ibirapuera

créditos: Governo de SP/ Divulgação

Caminhada e bicicleta foram os modos abraçados por várias cidades do mundo para promover a mobilidade sustentável, durante e no pós-pandemia. No Brasil, algumas organizações vêm sugerindo a mesma política pública, que evitaria o uso excessivo do carro e os riscos de contaminações no transporte público. 

 

Para saber se essa alternativa deveria estar sendo considerada nas cidades brasileiras, e quais os cuidados que os ciclistas precisam ter para proteger-se contra o coronavírus, o Mobilize conversou com o médico patologista Paulo Saldiva, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP. 

 

Ciclista convicto, Saldiva diz que não tem carro, e que desde a adolescência adotou a bike nos seus deslocamentos. Ele hoje pedala cinco quilômetros diariamente para ir de sua casa até a faculdade; ou até um pouco mais, revela, já que inclui umas voltinhas a mais no seu trajeto, para completar o exercício físico. 

 

Saldiva e  sua bicicleta Foto: Arquivo pessoal

 

Leia a seguir a entrevista com Paulo Saldiva: 

 

Pedalar e caminhar são soluções que deveriam estar sendo adotadas nas cidades brasileiras, agora ou em outro momento da crise da saúde? 
Sim, sem dúvida. Se a pessoa está de máscara, está ao ar livre, então a bicicleta e a caminhada são, disparado, os modos mais seguros de se locomover. No meu caso, que faço autópsias em pessoas que contraíram a covid-19, pedalar é também uma forma de cuidar da minha saúde mental. 

 

Que cuidados são obrigatórios ou desejáveis para quem opta pela mobilidade ativa?
Máscara, principalmente. Também lavar as mãos e as faces com água e sabão, já que o vírus pode ficar na superfície e inadvertidamente a pessoa vai coçar o olho, a boca... Mas é importante dizer: a contaminação por superfície é muito pequena - ela acontece mais com os profissionais da saúde, nos ambientes fechados. Na população nas ruas, o mais frequente é a transmissão por aerossol. E, para evitar que o vírus penetre desse modo em nosso corpo, isso se resolve com máscara. Sabemos que, sob poluição atmosférica, o vírus pode pode "pegar uma carona" no resíduo fino do aerossol urbano. Mas, em primeiro lugar, vale dizer que o uso da bicicleta diminui o aerossol urbano. E agora, neste momento em que a poluição urbana caiu de 30 a 40% devido à restrição ao tráfego, a bicicleta é mais recomendada ainda. Lembro que a poluição atmosférica causa inflamação e enfraquece nosso pulmão.


Então, a solução é esta mesma: bike e caminhada, os meios de transporte de mais baixa emissão

 

Com a pandemia, não houve um desestímulo ao uso da bicicleta?
Sem ter aqui comigo as estatísticas, o que noto é que vinha tendo um aumento significativo no número de bicicletas em São Paulo, e que agora, mesmo com a infecção, muita gente continua andando de bike por aí. Estou convencido de que a bicicleta será acoplada a um sistema de transporte coletivo, e no futuro será o meio alternativo adotado por boa parte da população. Por ora, ainda se faz muita associação da bicicleta com um grupo de gente descolada, que mora em bairros centrais; mas é preciso lembrar que no interior e nas periferias a bike é parte constitutiva da cultura das pessoas. Basta ver como ficam lotados os bicicletários nas estações de trem. Isso só não é maior por causa do receio de roubo, ou porque os bicicletários vivem cheios, e ainda devido à falta de segurança viária, que desestimula a bicicleta. Com uma estrutura melhor, certamente haveria um aumento no número de ciclistas, para fazer trajetos ponto a ponto, o meu caso, e também como modal articulado ao sistema de transporte coletivo. 

 

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