O Conselho Municipal de Trânsito e Transporte (CMTT) é uma das principais instâncias de participação social nas políticas de mobilidade da cidade de São Paulo. Criado como uma das respostas da Prefeitura de São Paulo às manifestações de 2013, o Conselho tem como objetivo aproximar a população das decisões públicas, reunindo representantes do poder público e da sociedade civil para discutir temas que afetam diretamente o cotidiano do paulistano, que vão do tempo de espera no semáforo às políticas de ônibus, ciclovias, caminhabilidade e segurança viária.
Apesar de ser um órgão apenas consultivo, a relevância do CMTT não se limita à mera formalidade. Para alguns dos conselheiros ouvidos pelo Mobilize, ele funciona como um termômetro da participação popular, permitindo que cidadãos voluntários contribuam para a fiscalização, o acompanhamento e a qualificação das políticas de mobilidade urbana. “Quando são bem pautadas, as reuniões oferecem informações detalhadas sobre questões que atravessam o nosso dia a dia - no caso do CMTT, isso se intensifica, porque fala de como nos movimentamos pela cidade”, pondera Mauro Calliari, ativista, doutor em urbanismo, professor e colunista do jornal Folha de São Paulo. Calliari acaba de ser eleito, pela terceira vez, para a cadeira de Mobilidade a Pé do Conselho.
A importância do CMTT para a democracia urbana
Em entrevista ao Mobilize, Mauro defende que “participar de um conselho municipal é uma forma concreta de atuar na micropolítica”, podendo influenciar decisões que, somadas, moldam a cidade. Assim como ocorre nos conselhos de política urbana ou de proteção à paisagem, o professor acredita que o CMTT cria um espaço de diálogo entre sociedade e gestão pública. “O caráter consultivo não é um problema em si”, defende o urbanista, já que “a efetividade do Conselho depende da disposição do poder público em considerar suas recomendações.”

Mauro Calliari assume pela terciera vez a cadeira de Mobilidade a Pé do CMTT
Trabalhar com dados, análises concretas e diagnósticos consistentes é visto por ele como caminho para ampliar o impacto das deliberações e qualificar o debate interno. “Se pautarmos temas importantes e garantirmos a presença dos técnicos, a gestão tende a se sensibilizar. Quando necessário, também é nosso papel levar o assunto para a sociedade”, completa.
A caminhabilidade na cidade
Calliari aponta a existência de pelo menos duas grandes variáveis que devem influenciar a melhoria da caminhabilidade em São Paulo nos próximos anos. “A primeira é a questão da segurança viária”, explica, “que ficou relegada a um segundo plano nas duas últimas gestões da prefeitura. Isso se reflete no aumento de mortes e atropelamentos de pedestres, mas também na sensação generalizada de insegurança em relação ao trânsito”, completa. Para o doutor em urbanismo, a falta de fiscalização contribui para que qualquer travessia seja acompanhada de medo e de incertezas diante do comportamento agressivo de motoristas de carros e motos.
“A outra variável é o aumento do número de viagens em modos individuais de transporte. O transporte público deveria ser a prioridade absoluta nos deslocamentos, mas o que estamos vendo é justamente o oposto, o incentivo ao automóvel e a moto. O resultado disso é uma cidade onde os fluxos se sobrepõe aos lugares, com perda evidente de urbanidade e da experiência mais importante da cidade, as trocas entre as pessoas. ”, finaliza o membro do CMTT, que já foi do Conselho Participativo, do Conselho de Política Urbana e atualmente integra o Conselho de Proteção à Paisagem Urbana da capital paulista.
Os idosos e a cidade
Para a cadeira do Idoso do CMTT foi eleita a ativista, mestra e doutora em Mobilidade Não Motorizada (FAU-USP), consultora em políticas públicas, planejamento e projetos de Mobilidade Sustentável e professora, Meli Malatesta. Com 35 anos de serviços prestados à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-SP), num ambiente até então dominado por uma lógica machista e tecnocrata, voltada quase que exclusivamente ao fluxo de veículos motorizados, Malatesta se tronou uma referência da resistência e luta pela mobilidade ativa, como na construção de cidades para pessoas.
“Essa experiência prévia me permite não apenas contribuir para que se faça uma boa gestão no CMTT, mas inclusive alertar os nossos representantes sobre argumentações técnicas tradicionalmente usadas como justificativa, para que venham a ser validadas ou não”, justifica a professora. “Troquei minha vida de praticamente engenheira de tráfego, apesar de ser arquiteta e urbanista, pra ser ativista, que é uma função na sociedade a qual me realizo muito.”
Objetivos para os idosos
“Meus objetivos na cadeira do idoso são fazer valer os direitos da pessoa com idade, a fruição da mobilidade e dos espaços públicos onde ela acontece”, destaca Meli. “Na parte da mobilidade em si, exigir que as calçadas da cidade se transformem em política pública prioritária, mesmo que não tenham vínculo direto à Secretaria de Mobilidade. Com a nossa pressão, acredito que possamos fazer valer os direitos da pessoa idosa junto à estas instituições”, defende a arquiteta e urbanista.
“Em relação ao transporte público municipal sobre pneus, que sejam garantidas as prioridades de idosos no uso do assento, com comprometimento das empresas de ônibus. Hoje só o que fazem é deixar os assentos em cor amarela, mas é comum que sejam usadas por pessoas que não estão no grupo prioritário, sem iniciativa da empresa fazer valer o direito do idoso, como também da mulher grávida, da pessoa obesa ou com deficiência. Vou exigir campanhas educativas na mídia, mas também que as empresas se comprometam mais em fazer valer o lugar preferencial”, defende a nova integrante do CMTT.

Meli Malatesta é arquiteta e urbanista, com mais de 35 anos de experiência na CET
“Outro ponto são as travessias. Precisamos tentar convencer os órgãos de trânsito a mudar urgentemente a norma que regulamenta a programação semafórica para pedestres”, defende a professora. Em um trabalho junto com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), a arquiteta e urbanista mostra que esta programação atual, não só tornou a vida do pedestre mais difícil e perigosa, mas também não favoreceu em nada a fluidez dos veículos. “Hoje ela não serve para nada, tendo sido calculada, muito provavelmente, por alguém que não é idoso e nem anda a pé”
O que falta?
“Falta um pouco de cidadania, uma educação de trânsito que ensine o cidadão desde criança, sobre seus direitos e deveres para viver em conjunto nas cidades. Isso se ensina nas escolas – cidadania para respeitar o idoso, contra o “idadismo” (SIC), como se tudo que fosse velho fosse ruim, atrapalhasse e devesse ficar em casa. Precisamos quebrar e superar estes paradigmas. O idoso não só deve ser aceito, mas valorizado pela experiência de vida quer traz consigo.”, conclui.
Desafios para 2026–2028
A nova legislatura do CMTT toma posse em fevereiro de 2026, um período que tende a ser estratégico para a mobilidade paulistana, uma vez que, entre as pautas que devem avançar nos próximos anos estão:
• A regulamentação dos mototáxis;
• A descarbonização da frota de ônibus;
• A integração de novas linhas e estações de metrô;
• A revisão e ampliação da malha cicloviária da capital;
• As obras de requalificação do Centro da cidade, incluindo calçadões e estudos sobre VLT;
• A política de segurança viária, hoje marcada pelo aumento de atropelamentos e mortes;
• O aumento significativo de viagens em modos individuais, pressionando a necessidade de priorizar o transporte público.
Destaca-se ainda nesta agenda, a pauta da caminhabilidade — eixo central da atuação da ONG Cidadeapé, que terá vários representantes na nova composição do CMTT, entre eles os nossos entrevistados, Mauro Calliari e Meli Malatesta. A entidade defende uma cidade mais acessível, segura e acolhedora para quem anda a pé, propondo intervenções sobre os tempos e espaços urbanos, que considerem calçadas adequadas, travessias seguras, urbanidade e qualidade do transporte público.
Eleitos para o CMTT, mandato 2026 –2028
Abaixo, segue a lista provisória dos candidatos eleitos para o biênio 2026-2028 do CMTT, que deverão tomar posse em 27/02/2026, nas cadeiras regionais e temáticas sobre Meio Ambiente; Juventude; Sindicato dos Trabalhadores; Organizações da Sociedade Civil; Ciclistas; Pessoas com Deficiência; Idosos; Movimento Estudantil Secundarista; Movimento Estudantil Universitário; Movimentos Sociais e Mobilidade a Pé.
Fonte: Diário Oficial
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