Urbanista critica atraso de obra para integrar aeroporto a trens em SP

Projeto do "people mover" se arrasta há anos. Mesmo com concorrência decidida há um ano, concessionária GRU Airport protela assinatura do contrato, diz Flamínio Fichmann

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Fonte: Mobilidade Sampa  |  Autor: Mobilidade Sampa  |  Postado em: 18 de fevereiro de 2021

People Mover de Guarulhos: projeto aguarda há mais

People Mover de Guarulhos: projeto aguarda há mais de 6 anos

créditos: AeroGRU

O arquiteto e urbanista Flamínio Fichmann criticou recentemente a demora no início das obras de integração do Aeroporto de Guarulhos à rede de trens e metrô da Grande São Paulo, projeto que se arrasta há pelo menos seis anos. Fichmann é consultor em transporte público, e também diretor de mobilidade urbana da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).

 

Segundo ele, a GRU Airport, concessionária do aeroporto, “desrespeita o governo federal, o governo paulista e a população em geral”, ao protelar a construção do Automated People Mover (APM), sistema que integrará os terminais de passageiros à Linha 13-Jade da CPTM.

 

“Esse atraso contraria os interesses dos passageiros que embarcam e desembarcam em São Paulo, e estamos falando de uma obra importante para a modernização do próprio aeroporto”, disse. “A GRU Airport parece que olha só para o próprio umbigo”.

 

O People Mover é um sistema usado para conectar terminais de passageiros ao sistema de transporte público em alguns dos mais importantes aeroportos do mundo.

 

Concorrência

O arquiteto voltou a defender a imediata assinatura do contrato e início da construção do People Mover de Guarulhos pelo consórcio liderado pela empresa gaúcha Aerom - responsável pelo aeromóvel de Porto Alegre -, vencedor da concorrência promovida pela GRU Airport há um ano e até agora não implementada.

 

Ele lamentou que a concessionária tente agora apresentar dificuldades para aceitar o resultado e iniciar as obras com o consórcio AeroGRU, vencedor incontestável com a melhor nota, pelos critérios de técnica e preço, num certame coordenado pela própria administradora do aeroporto com assessoria de empresas internacionais.

 

“A AeroGRU venceu por mérito; é um consórcio liderado por uma empresa brasileira com grande experiência em tecnologia de transporte e infraestrutura”.

 

“Por que a concessionaria quer mudar o resultado que ela mesma definiu em todas as etapas? O que ela ganha pagando mais”?, questiona o arquiteto.

 

Boicote

Segundo Fichmann, muitas empresas nacionais competentes em tecnologia enfrentam uma “estranha” dificuldade. “Elas, às vezes, são boicotadas pelos próprios brasileiros, e essa é uma obra que será feita por brasileiros, gerando emprego para brasileiros e pagando impostos no Brasil”.

 

Linha 13-Jade terá ligação com aeroporto de Guarulhos. Foto: Governo de SP/Divulgação

 

A conexão direta dos terminais 1, 2 e 3 do aeroporto à Linha 13-Jade da CPTM e à rede metroviária metropolitana é essencial para facilitar o fluxo de passageiros e funcionários do aeroporto, que assim evitariam o trânsito por automóvel nas congestionadas Marginal Tietê e rodovia Presidente Dutra.

 

A ligação é também importante para viabilizar a extensão da Linha 13-Jade até Guarulhos, que custou R$ 2,3 bilhões ao governo do estado de São Paulo.

 

Hoje, os passageiros da Linha 13-Jade que se dirigem ao aeroporto têm de descer numa estação construída perto dos terminais, fazer baldeação para uma linha de ônibus a diesel e percorrer um trecho de apenas dois quilômetros, mas que pode atrasar o percurso total em mais de 20 minutos.

 

Tecnologia nacional

O grupo Aerom já opera um sistema similar no Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, desde 2013, e num parque temático em Jacarta, na Indonésia, há cerca de 30 anos, com tecnologia totalmente brasileira e alto índice de nacionalização de componentes.

 

O grupo Aerom venceu a concorrência com mais quatro finalistas formados por empresas multinacionais estrangeiras, conquistando a maior nota, inclusive pelo critério de preço.

 

O resultado interessa especialmente ao poder concedente, o governo federal, pois o People Mover valorizará o aeroporto e será abatido do total da outorga a ser paga pela concessionária ao Fundo Nacional de Aviação Civil, conforme o contrato de privatização de 2012. Portanto, desde que atendidos os critérios técnicos, quanto mais barata a obra, melhor.

 

Nos últimos meses, tanto o governo federal quanto o governo estadual se movimentaram para acelerar o projeto. Em novembro de 2020, o ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, assinou uma determinação incluindo as obras do People Mover no rol de obrigações contratuais da concessionária do aeroporto.

 

No final de janeiro, reunião convocada pelo governador João Doria (PSDB) no Palácio dos Bandeirantes, com a presença do presidente executivo da GRU Airport, fixou prazo até final de março para a concessionária cumprir os termos de sua própria concorrência e iniciar as obras. Dirigentes da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) também participaram da reunião, por videoconferência.

 

Associações

O respeito aos resultados da concorrência e o início imediato das obras têm apoio das principais associações de empresas de engenharia e transporte do Brasil. Documento com esse teor foi enviado em janeiro ao Ministério de Infraestrura, Agência Nacional de Aviação Civil e Tribunal de Contas da União.

 

Assinaram o documento o Instituto de Engenharia, Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer), Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre), Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aeamesp), Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP) e Associação Latino Americana de Ferrovias (Alaf), além da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).

 

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