Acessibilidade: o maior problema é como chegar ao ponto de ônibus

Para usar o transporte público, os dilemas da pessoa com deficiência começam nos degraus, passam pelos buracos, barreiras e também na qualidade dos pontos de espera

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Fonte: The Conversation  |  Autor: Ainsley Hughes  |  Postado em: 03 de abril de 2023

Acessibilidade: barreiras começam antes do embarqu

Acessibilidade: barreiras começam antes do embarque

créditos: Imagem: Matheus Leal/Sul21


Pessoas com deficiência são continuamente excluídas do direito de circular por causa de sistemas de transporte que ainda não estão adaptados às suas necessidades, conforme exige a lei. E não é só no Brasil.


Na Austrália, uma em cada seis pessoas com deficiência tem dificuldade em usar alguns ou todos os meios de transporte público. E uma em cada sete não consegue mesmo acessar o transporte. Os dados, do jornal australiano The Conversation, contrastam com as expectativas da Lei de Discriminação por Deficiência, de 1992, que indicava o prazo de dezembro de 2022 para que o transporte público de todo o país estivesse plenamente acessíveis. Ou seja, em trinta anos a meta da lei não foi alcançada. Agora, em 2023, os padrões de acessibilidade estabelecidos em 2002 estão novamente em discussão pela sociedade.

 

Para os sistemas de ônibus, os desafios se concentram principalmente nos próprios veículos, que devem ter piso baixo, rampas para cadeiras de rodas, assentos prioritários, corrimãos e espaço suficiente para manobras. Mas, lembra o texto, um veículo acessível não significa necessariamente que uma viagem de ônibus seja acessível.

 

Existem dificuldades para ir e vir do ônibus, frequência limitada de serviços acessíveis, treinamento deficiente de motoristas, conflito de passageiros, ansiedade em viagens e falta de planejamento para a diversidade. De todas essas maneiras, as viagens de ônibus excluem as pessoas com deficiência.

 

Veículos acessíveis são apenas o começo
Tornar os veículos acessíveis é apenas a ponta do iceberg e desconsidera dois pontos principais:

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As viagens de transporte público começam antes de embarcar no serviço e continuam depois que o deixamos;

lAcessibilidade significa oferecer às pessoas experiências de transporte de qualidade, não apenas acesso a recursos.


Vamos imaginar uma típica viagem de ônibus suburbano. Um conceito comum entre os técnicos do setor é o de que os passageiros geralmente estariam dispostos a caminhar até 400 metros para chegar a um ponto de ônibus. Isso se baseia, é claro, na suposição de que os passageiros são fisicamente aptos, jovens, quase semideuses.

 

Crédito de foto: Quantron AG

 

Mas, pesquisas realizadas nos Estados Unidos (onde a infraestrutura é seguramente melhor do que a encontrada nas cidades brasileiras) mostram que 30% das pessoas com deficiência não conseguem circular mais do que 60 a 100 metros até um ponto de ônibus. Longas distâncias, ladeiras íngremes, vias mal cuidadas, poucas rampas de acessibilidade e abrigos de ônibus mal projetados muitas vezes impedem que pessoas com deficiência, idosos, mães e país com crianças consigam chegar até os pontos de ônibus.

Em 2020, no relatório Pessoas com Deficiência na Austrália, do Instituto Australiano de Saúde e Bem-Estar, mais de um em cada quatro entrevistados com deficiência disse que “ir e voltar das paradas” era um grande obstáculo para o uso do transporte público.


Mas existem outras barreiras, ainda mais difíceis de ver. As pessoas com deficiência são forçadas a planejar extensivamente quando sair, como e com quem viajar, e quais recursos precisam para completar a jornada. Mesmo os planos mais bem elaborados envolvem energia emocional adicional ou uma certa “ansiedade de viagem”.


E, na visão dos especialistas australianos, a infraestrutura por si só não pode superar esses problemas. Qual seria a solução? Uma das alternativas apontadas é o transporte sob demanda, como alguns existentes no Brasil, mas agora numa versão mais avançada, com apoio da tecnologia.


A tecnologia, segundo essa análise, poderia reduzir a necessidade de os clientes reafirmarem constantemente suas necessidades de mobilidade. Depois que um cliente cria um perfil, o tempo extra de embarque e desembarque é aplicado automaticamente a todas as reservas futuras. Isso elimina o processo exaustivo de planejamento adicional e permite que os motoristas ofereçam um serviço melhor para todos os passageiros. A proposta está incluída como sugestão para as novas Normas de Transportes da Austrália, abertas para discussão até junho de 2023, no link Transport Standards.


*Publicado originalmente no site The Conversation com o título "How on-demand buses can transform travel and daily life for people with disabilities." Tradução e edição de Marcos de Sousa/Mobilize Brasil

 

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