O pequeno Pedro Ricardo Alves, de cinco anos, já aprendeu que pedestre deve andar na calçada. E carros, somente na pista. “Também não pode brigar na rua”, dá a lição. O colega, Guilherme Vall, de quatro, reforça e acrescenta: “Pedestre tem que andar na faixa de pedestre”. Os ensinamentos foram aprendidos durante o passeio pela Escola de Educação para o Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito do Ceará (Detran-CE).
Para modificar a postura de quem anda e trafega pelas ruas da capital cearense, os órgãos de trânsito apostam em educação e fiscalização. Escolas de trânsito, para ensinar as crianças, e campanhas, para alertar os adultos, estão entre as principais formas de abordar a educação, conforme apontam Detran e Autarquia Municipal de Trânsito (AMC). Para inibir as atitudes negativas, presença de agentes nas ruas.
“As crianças aprendem, desde cedo, a ser pedestre, motorista, ciclista... Aprendem a respeitar o outro”, aposta a coordenadora da Escola de Educação para o Trânsito, Ana Cláudia Reis Sales. O chefe do núcleo de Trânsito da AMC, Arcelino Lima, reforça a importância das campanhas e diz que só não estão sendo realizadas, por causa do período eleitoral. “Ficamos impedidos de circular panfletos”, justifica.
Só multar não adianta
Especialistas de trânsito, no entanto, questionam os órgãos de trânsito por adotarem também alguns métodos como a simples aplicação de multas. Será que a forma como os órgãos compreendem a educação e a fiscalização podem modificar posturas no trânsito? Para a professora do curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Gislene Macêdo, pesquisadora em Mobilidade Humana, a fiscalização e a aplicação de multa, por exemplo, não são educativas, não modificam posturas.
“O agente simplesmente age, executa a ação num determinado espaço. Não há reflexão”. A diretoria do Instituto de Mobilidade e Educação Plano (Imep), Maria da Penha Pereira Nobre, acredita que a fiscalização pode transformar comportamentos. Mas não sozinha. Para ela, é “um conjunto” de iniciativas que envolve desde a educação das crianças nas escolas até a formação dos condutores nas autoescolas.
Arcelino Lima reforça a importância da fiscalização. Segundo ele, apesar dos poucos agentes para cobrir a Capital – cerca de 300, divididos em quatro turnos -, há relação com mudanças de comportamento. No entanto, ele confessa que ainda há quem não respeite. “Tem multa com valor baixo. Alguns motoristas preferem ser multados do que cumprir o que manda a lei”.
Solução a longo prazo
A aposta das especialistas para modificar posturas no trânsito é tratar o tema como prioridade. Gislene Macêdo critica, por exemplo, o fechamento das duas escolinhas de trânsito da AMC. Segundo Arcelino Lima, a escolinha que ficava no Parque Adahil Barreto passa por reforma e deve ser reinaugurada na primeira quinzena de setembro. A outra, no José Walter, foi fechada.
Maria da Penha acredita que as mudanças vêm em longo prazo. “Sou favorável a uma integração disciplinar, a usar o tema trânsito no dia a dia nas atividades da escola”. Ela lembra também das modificações nos cursos preparatórios das autoescolas. “O candidato tem uma preparação focada em decorar os temas. Mas ele precisa entender como funciona o trânsito, o porquê das regras para poder saber a importância de praticar isso”.
Entenda a notícia
Falta uma postura educada e gentil a muitos que passam diariamente pelas ruas de Fortaleza. Órgãos de trânsito apostam em educação e fiscalização para modificar atitudes negativas. Escolas de trânsito, campanhas e agentes nas ruas seriam os meios para se chegar a uma mudança de comportamento.
Resumo da série
Uma postura diferente na rua pode ajudar a aliviar o trânsito. No primeiro dia, O POVO apontou 20 atitudes que deixam o trânsito menos caótico. Hoje, mostrou o que o poder público tem buscado fazer para incentivar uma mudança de postura dos cidadãos.
Saiba mais
Educação
No Código de Trânsito Brasileiro (CTB), um capítulo é destinado só para educação no trânsito. A educação para o trânsito, segundo o CTB, “é direito de todos e constitui dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito”.
Em maio deste ano, O POVO mostrou que os gastos da AMC com educação eram os menores da planilha de valores aplicados pelo órgão anualmente em Fortaleza.
Fiscalização
Além da AMC, o Detran mantém equipes de fiscalização nas ruas da Capital. De segunda a quarta-feira, são duas equipes pela manhã, duas à tarde e dez à noite.
De quinta-feira a domingo, são duas equipes pela manhã, duas equipes à tarde e 15 à noite. Sábado e domingo há acréscimo de oito equipes pela manhã e tarde e mais sete equipes à noite.
Serviço
Escute a entrevista com o psicólogo Wagner Paiva sobre cidadania no trânsito: http://bit.ly/NBc3MG.