Para onde vai o Metrô

O que mudou no Metrô de São Paulo nos seus 37 anos?

Notícias
Fotos
 

 |  Autor: Ivan Ventura / Diário do Comércio  |  Postado em: 26 de outubro de 2011

Estação Sacomã do Metrô

Estação Sacomã do Metrô

créditos: Alex Ribeiro

O Metrô de São Paulo chegou aos 37 anos com pelo menos um discurso em comum entre seu presidente, Sergio Avelleda, especialistas em transporte público e, claro, entre seus usuários: o metrô mudou e mudou muito. 

Alguns sustentam que mudou para melhor, especialmente em razão das novas tecnologias que invadiram seus sistemas, trens e estações. Seus usuários mais assíduos, porém, lamentam a superlotação das cinco linhas em operação. Ao todo, elas transportam cerca de quatro milhões de passageiros/dia, com sensível declínio na oferta de conforto.

O DC visitou as 64 estações e os 74,3 quilômetros de vias do metrô paulistano para verificar como o mais importante meio de transporte público da cidade está se portando. Deparou-se com usuários ainda satisfeitos com o sistema, mas que a cada dia encontram mais motivos para criticá-lo.

O alerta foi dado no mês passado, quando o Instituto Datafolha divulgou que 47% dos entrevistados disseram que o metrô é ótimo ou bom. Um bom resultado, mas vale lembrar que essa foi a primeira vez, desde 1997, que o índice de aprovação ficou abaixo dos 50%. Algo a se pensar.

 

Superlotação

 

Quem, de segunda a sexta-feira, utiliza a estação Sé, a mais movimentada de todas (900 mil pessoas/dia) sabe como é difícil embarcar numa das composições nos horários de pico (das 6h às 8h e das 17h às 20h). Nesses momentos de maior demanda, estima-se que em cada metro quadrado de composição existam 10 pessoas. Tecnicamente, o recomendado é que, no máximo, seis pessoas ocupem esse mesmo espaço.

Para o arquiteto e urbanista Cândido Malta Campos Filho, a superlotação do metrô é consequência da falta de investimento na expansão do sistema. "Os problemas subsequentes derivam dessa superlotação", disse.

Para explicar a falta de investimento, Malta e outros especialistas citaram o exemplo do metrô da Cidade do México, que também transporta cerca de quatro milhões de usuários/dia. O metrô mexicano e o paulistano são praticamente contemporâneos: o primeiro surgiu em 1969; o segundo, em 1974. E as semelhanças param por aí.

O metrô mexicano não cessou seus investimentos e hoje possui uma rede de 202 quilômetros de vias, como 170 estações. São Paulo só retomou o investimento no transporte metroviário em meados da década de 1990, dispondo, hoje, de 74,3 quilômetros de vias e 64 estações - menos de um terço da rede mexicana.

Na tentativa de minimizar a superlotação, o metrô aposta em mais trens e na redução dos intervalos entre trens. Tais medidas dariam fôlego extra ao sistema, até a inauguração de novas linhas e estações. "Hoje temos 150 trens que circulam em um intervalo de 103 segundos. O objetivo é reduzi-lo para 87 segundos no horário de pico", disse Sérgio Avelleda.

Ele disse que a redução nos intervalos será feita por meio de um novo sistema de sinalização conhecido por CBTC (Communication Based Train Control), que reduz a distância entre os trens - hoje de aproximadamente 150 metros. Mas ele já falhou. Em julho, um problema no CBTC resultou no choque de dois trens-bala na China, provocando a morte de 39 pessoas.

A superlotação resulta ainda em problemas como o fechamento das portas das composições, o que impede o trem de andar. "Quando o passageiro ouve a mensagem 'estamos aguardando a circulação do trem à frente', quase sempre ela está relacionada ao fechamento das portas do trem", disse Ciro Moraes, diretor de comunicação do sindicato dos metroviários de São Paulo e operador de trem da Linha 1 - Azul, a Norte-Sul.

 

Menos assentos

 

Aos 37 anos, a quantidade de assentos disponíveis no metrô é cada vez menor. Dos primeiros trens da década de 1970 até os atuais, houve uma redução de quase 16 assentos por vagão.

A diferença é visível no cotidiano do passageiro, sendo que os dois modelos (novos e antigos) circulam nas mesmas linhas. Os primeiros trens da década de 1970, conhecidos como modelo A, tinham até 64 lugares sentados por vagão. Agora, os novos, como é o caso do modelo H, possui, no máximo, 48 lugares por vagão.

Segundo Ciro Moraes, operador de trens da Linha 1 - Azul desde 1989 e atual diretor de comunicação do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, a opção do metrô está relacionada ao crescente número de passageiros. "O espaço para usuários em pé aumentou para atender a atual demanda", disse.

O presidente Sérgio Avelleda admite um discreto aumento no número de passageiros, mas afirma que o motivo é outro. "Na verdade, são duas questões envolvidas. Tivemos de adaptar o metrô às novas regras de acessibilidade para deficientes. Além disso, o metrô melhorou a circulação de pessoas no interior dos trens", afirmou o presidente.

Com menos conforto, o déficit de assentos pode agravar um problema que ocorre há anos na Linha 3 - Vermelha: o empurra-empurra para conseguir um lugar sentado. Ele ocorre principalmente na estação Barra Funda. Há até casos de brigas, mostrados em vídeos na internet. "Sei que há desconforto, mas o metrô alivia o congestionamento da cidade", disse Avelleda.

 

Mais notícias sobre São Paulo-SP:
 

'Multa tripla' por calçada passa a valer
Ministério Público investiga lotação no metrô de SP
São Paulo terá em breve uma nova ciclovia
Mais de cem câmeras já multam desrespeito ao pedestre em SP

Comentários

Nenhum comentário até o momento. Seja o primeiro!!!

Clique aqui e deixe seu comentário