Palavra de Especialista

05
agosto
Publicado por admin no dia 05 de agosto de 2014

Alexandre Pelegi é editor da Revista dos Transportes Públicos da ANTP

 

 

 

 

 

Há alguns anos a ANTP realiza estudos e levantamentos para quantificar os custos envolvidos na mobilidade urbana. É o SIM – Sistema de Informações da Mobilidade, que faz a análise dos dados coletados em cidades com população acima de 60 mil habitantes. Este banco de dados permite o acompanhamento das várias facetas de caráter econômico e social envolvidas na dinâmica do transporte e trânsito urbanos das cidades brasileiras que, juntas, respondem por 61% da população do país e 71% da frota de veículos.

 

O mais recente relatório do SIM, com informações referentes a 2012, nos permite conhecer, com profusão de dados, indicadores importantes para a compreensão da atual situação da mobilidade urbana no país. O custo da mobilidade nas 438 cidades abrangidas pelo relatório chegava, naquele ano, ao valor de R$ 184,3 bilhões. Este custo resulta da soma dos custos pessoais (arcados pelos usuários ou por empregadores quando há uso de vale transporte) mais os custos públicos (manutenção do sistema viário, arcados pelo poder público).

 

Dentre os muitos dados coletados e analisados pelo SIM, há resultados que nos permitem entender melhor a justeza de ações públicas que visam priorizar o transporte coletivo. Refiro-me ao custo do patrimônio envolvido na mobilidade urbana das 438 cidades, estimado em R$ 2,48 trilhões. Para chegar a este número o relatório do SIM responde a uma pergunta objetiva: quanto custaria remontar, a valores de hoje, o atual sistema de mobilidade?

 

O custo do patrimônio, assim, resulta da soma dos valores dos veículos que circulam por ruas e trilhos das cidades (carros, motos, ônibus, trens metropolitanos e de metrô) mais a infraestrutura utilizada para sua circulação, viária e metroferroviária.

 

Do total de R$ 2,48 trilhões, o custo de carros e motos somado ao custo do viário utilizado por eles é estimado em 2,18 trilhões de reais (88% do total), sete vezes maior do que para o transporte coletivo, quando se aplica o mesmo critério, cujo custo despenca para 0,31 trilhão (12%).

 

Uma das conclusões a que se pode chegar é a de que o gasto com infraestrutura nas cidades brasileiras tem beneficiado historicamente e de maneira gritante o transporte individual – basta olhar para as ruas e avenidas de qualquer cidade para enxergar como os carros são preponderantes na ocupação do espaço, quando em movimento ou estacionado.

 

São dados importantes, justo num momento em que, em muitas cidades do país, brotam queixas contra as ações realizadas por Prefeituras em prol do transporte coletivo. Refiro-me, principalmente, à implantação de corredores, à ampliação de rodízios, à redução de vagas de estacionamento para maior fluidez dos ônibus, além da implantação de projetos cicloviários.

 

Por fim, mas não menos importante: os valores revelados pelo SIM não só justificam qualquer ação em prol do transporte coletivo, como demonstram que tal postura, apesar de tardia, é absolutamente necessária. Em qualquer sociedade democrática, o bem-estar coletivo tem de estar acima dos interesses individuais.



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Olímpio Alvares Olímpio Alvares
escreve e convida especialistas em mobilidade urbana a compartilhar opiniões e comentar os assuntos em destaque no noticiário nacional e internacional. Olimpio é engenheiro mecânico pela Escola Politécnica da USP, diretor da L'Avis Eco-Service, especialista em transporte sustentável, inspeção técnica, emissões veiculares e poluição do ar. Atuou durante 26 anos na área de controle de emissões veiculares da Cetesb, concebeu o Projeto do Transporte Sustentável do Estado de São Paulo, o Programa de Inspeção Veicular e o Programa Nacional de Controle de Ruído de Veículos. É fundador e secretário executivo da Comissão de Meio Ambiente da ANTP; diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Sobratt; assistente técnico do Proam; consultor do Banco Mundial, do Banco de Desenvolvimento da América Latina, (CAF) e entre outros órgãos públicos e organizações da sociedade civil, como o Mobilize Brasil..

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