Mobilidade urbana de Londres: um exemplo a ser seguido

Sistema de transporte público integra metrô, trem, táxi, bicicleta, ônibus, barco e até bondinho

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Fonte: Zero Hora  |  Autor: Tulio Milman  |  Postado em: 10 de agosto de 2012

Ônibus chegam pontualmente às paradas na ruas da c

Ônibus chegam pontualmente às paradas na ruas da cidade

créditos: Emerson Souza

 

Na parada em Notting Hill, o sinalizador eletrônico avisa: "Linha 148 - 9 minutos". Exatos nove minutos depois, o ônibus vermelho de dois andares estaciona e abre suas portas. O motorista, protegido por uma cabina blindada, olha para frente. Não há cobrador. É só passar o cartão por uma leitora automática. Cerca de 7,5 mil coletivos circulam por Londres. Eles fazem parte de uma rede gigantesca e eficiente, que começa nas calçadas, passa por baixo da terra, pelas ruas, avenidas e termina nas águas do rio Tâmisa.

 

Funciona. Para quem chega a Londres vindo do Brasil, a palavra diz tudo. O sistema de transporte da capital britânica é gerido a partir de uma inteligência única. Os horários se encaixam, as tarifas são racionais e a pontualidade não é diferencial: é pré-requisito.

 

No centro dessa eficiência, uma peça retangular de plástico. O cartão Oyster, que dá acesso ao metrô, ônibus, trens, barcos que sobem e descem o Tâmisa e até a um bondinho - o O Emirates Air Line liga North Greenwich às Royal Docks, uma viagem de menos de 10 minutos, que tem como principal atração a vista da cidade. Locomover-se sem limites pela cidade durante uma semana custa o equivalente a R$ 90.

 

 


Foto: Tulio Milman

 

O atual prefeito de Londres, Boris Johnson, chegou ao poder empunhando a bandeira da mobilidade urbana. E cumpriu a promessa. Os antigos ônibus e táxis _ barulhentos e poluentes _ foram trocados por novos modelos, muitos deles híbridos, movidos também a eletricidade. A frota foi renovada, mas não perdeu a elegância clássica. As carrocerias retrô mantêm a estética consagrada nos filmes e nos antigos cartões postais.

 

Boris bikes por apenas uma libra

Boris, quem tem fama de excêntrico e de populista, se desloca frequentemente sobre duas rodas. Cercado por seguranças, é verdade. Foi ele quem implantou o sistema de aluguel de bicicletas, conhecidas com Boris bikes. Por uma libra (R$ 3,17), o cidadão tem acesso ao serviço durante 24 horas. O projeto é patrocinado por um banco privado.

 

As bicicletas são as donas das ruas. Circulam livremente. Há ciclovias, mas em muitas regiões elas são apenas línguas de asfalto, sem proteções laterais ou mesmo sinalização. Ninguém buzina e até os ônibus esperam pacientemente. Os ciclistas sinalizam com o braço antes de dobrar nas esquinas. E o trânsito para.

 

80% de aprovação ao metrô

O metrô de Londres tem 402km de extensão. São 13 linhas, identificadas por cores e nomes. A cidade é dividida em seis zonas e a tarifa, inclusive para o cartão Oyster,  varia de acordo com a região. Quem percorre distâncias maiores, paga mais.

 

Na saída da estação King's Cross, o funcionário, com um iPad na mão, se dirige à passageira.

- Posso, por favor, lhe fazer algumas perguntas?

 

Onde começou a viagem? Quanto foi o tempo de espera? Nível de satisfação? Tudo é tabulado na hora. O nível de aprovação ao serviço, de acordo com a Transport for London (TFL), empresa que administra o metrô, é de mais de 80%. Em pelo menos em um item, porém, a cidade deixa a desejar: acessibilidade. Os investimentos aumentaram nos últimos anos, mas estações de metrô e prédios antigos ainda têm muito mais degraus do que rampas ou elevadores.

 

2,4 mil multas durante a Olimpíada

A TFL é a gestora de todo o sistema, formado por consórcios privados. A fiscalização do trânsito é rigorosa. Um complexo sistema de câmeras serve de apoio. Somente nas duas últimas semanas, 2,4 mil motoristas foram multados por trafegarem na faixa exclusiva para veículos de atletas e de autoridades olímpicas. Cada um terá de desembolsar 130 libras, ou R$ 416.

 

Carros andam a 19km/h

Há cerca 28 mil táxis em Londres. A bandeirada custa 2,40 libras, o equivalente a R$ 7,62, e a tarifa é calculada levando em conta o tempo e a distância. Não há tabelas mínimas de horários para os taxistas.

- Trabalho a hora que eu quero - explica Harold Backes enquanto espera na fila a sua vez de pegar passageiros.

 

A velocidade média de circulação nas vias londrinas é de 19km/h. Para estimular o uso do transporte coletivo, os carros pagam pedágio para trafegar pelas ruas mais centrais e movimentadas. E os estacionamentos são caros. Uma hora no bairro de Chelsea custa 4,5 libras, mais de R$ 14.

 

Setas e avisos em todos os pontos

Londres não é só metrô, trem, ônibus, barco, bondinho, táxi ou bicicleta. Caminhar pela cidade é fácil. As calçadas são largas e sem buracos. Há rampas para cadeirantes e carrinhos de bebê. Além de se preocupar com as suas peculiaridades, a capital britânica cuida bem dos turistas. Para evitar atropelamentos, já que o sentido do tráfego é invertido, há setas e avisos pintados nos cruzamentos dos pedestres: "Olhe para a esquerda. Olhe para a direita". E se você não olhar pra lado algum, tanto faz. A tendência é de que os carros parem você passar.

 

Uma cidade que se mexe

– O metrô de Londres transporta 1,1 bilhão de passageiros por ano
– Mais de 40 mil pessoas trabalham no sistema público de transporte
– Há 19,5 mil paradas de ônibus na cidade, e 90% dos londrinos moram a menos de 400 metros de alguma delas

 

LÁ E AQUI

Número de habitantes:
Londres: 8,1 milhões + cerca de 14 milhões de turistas por ano
Porto Alegre: 1,4 milhão

 

Táxis:

Londres: 28 mil (um para cada 289 habitantes)
Porto Alegre: 3,9 mil (um para cada 359 habitantes)

 

Estações de metrô: 

Londres: 270
Porto Alegre: 0*
* O Trensurb não é metrô. E sua principal finalidade é ligar Porto Alegre às cidades da Região Metropolitana.

 

Ônibus

Londres: 7,5 mil (um para cada 1.080 habitantes)
Porto Alegre: 1,6 mil (um para cada 875 habitantes)

 

Pontos para  alugar e devolver bicicletas

Londres: 400
Porto Alegre: 0


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Comentários

João Rodrigues - 11 de Agosto de 2012 às 01:18 Positivo 1 Negativo 0

Sempre achei Londres, de longe, a cidade mais fácil de se locomover que já visitei. O mais importante mesmo é a integração entre modais, sem custo adicional. Basta comprar o bilhete diário, semanal ou mensal, uma ideia que deveríamos ter por aqui...

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