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Leia o Editorial da Newsletter semanal de número 71 do Mobilize Brasil

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa  |  Postado em: 24 de junho de 2013

 

O que está em jogo talvez não seja apenas o "preço do busão", mas um certo inconformismo social com a condução deste veículo chamado Brasil

 

Escrevemos isso há uma semana e - com a aceleração dos fatos - já parece que se passaram meses. O movimento tomou as ruas, as autoridades recuaram e cancelaram os aumentos das tarifas de transporte. E foi assim em dezenas de cidades, em todo o país.

 

Apesar disso, ontem, quinta-feira, os atos públicos se repetiram no Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Ribeirão Preto (SP) e mais uma centena de localidades. Os brasileiros têm motivos para ir às ruas e protestar: há um gigantesco déficit nas áreas de saúde, educação, segurança, justiça e habitação do Brasil. E sobram notícias sobre corrupção, alta do custo de vida, problemas ambientais e sociais, especulação financeira e imobiliária.

 

Não por acaso, a centelha que incendiou as multidões foi o alto custo e a baixa qualidade da mobilidade urbana. Na semana passada realizamos um levantamento que cruzava dados de renda média com os valores da tarifas de ônibus e metrô em várias cidades do mundo: Londres, Paris, Cidade do México, Nova York, Tóquio, Bern e várias outras, inclusive as principais capitais brasileiras. E ficou claro que no Brasil o transporte representa uma grossa fátia dos salários.

 

Dois dias depois, a Folha de S. Paulo fez a mesma comparação, considerando as horas de trabalho necessárias para pagar o bilhete, e as cidades brasileiras também levaram bomba. O problema, revela um relatório da Corporación Andina de Fomento, são os índices de subsídio: por aqui, os governos bancam 12% a 14% do valor, contra 60% em Paris, Santiago e Buenos Aires, 70% em Bruxelas, e 65% em Amsterdã. Enfim, no Brasil, não existe transporte público.

 

Vamos agora ao item qualidade: os ônibus brasileiros são sujos, fumacentos, barulhentos e em geral lentos, por causa do trânsito congestionado nas cidades. As redes de trilhos urbanos - trens e metrôs - são insuficientes: basta ver a fila diária no lado de fora da estação Itaquera, na zona leste de São Paulo, ou a superlotação dos trens, que chegam a levar 9 e até 11 passageiros por metro quadrado. Sem falar nas paradas - cada vez mais frequentes - no meio dos túneis, às vezes por até 15 ou 20 minutos.

 

No meio do tiroteio (às vezes literal) entre manifestantes e autoridades, surgiu a denúncia sobre a existência de uma verdadeira máfia de empresários do setor de transportes, que estariam manipulando informações sobre custos, para manter as tarifas nos níveis atualmente praticados. Ante denúncias como essa, o Ministério Público de São Paulo requereu da prefeitura planilhas e documentos e está investigando o assunto.

 

Podemos lembrar ainda os atrasos e adiamentos nas obras, como a já lendária construção do metrô de Salvador; o VLT de Brasília, paralisado por suspeitas de roubalheira; o monotrilho de Manaus, adiado sem prazo; o projeto do metrô de Curitiba, sempre em reavaliação; os BRTs atrasados em Fortaleza, Recife e Belo Horizonte etc. etc.

 

 

Enfim, temos que dar razão à voz que vem das ruas.

 

PS.: Ganhamos o Prêmio Estadão PME, na categoria Empreendedorismo Social e, modestamente, achamos justo o resultado. Temos trabalhado duro, com poucos recursos, para reunir informações e estimular as boas práticas sobre mobilidade urbana sustentável. Agradecemos o apoio de nossos leitores. 

 

Marcos de Sousa
Editor do Mobilize Brasil

 

 


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