BH: Ônibus do Move apresentam falhas e são tirados de circulação

Problemas no sistema de refrigeração e no sinal sonoro para desembarque de passageiro provocaram muitas reclamações

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Fonte: EM.com.br  |  Autor: Tiago de Holanda  |  Postado em: 14 de março de 2014

Veículo com problema no ar-condicionado saiu de ci

Veículo com problema no ar-condicionado saiu de circulação

créditos: Divulgação

 

Dois veículos articulados do BRT/Move apresentaram defeitos nessa quarta-feira, no terceiro dia útil de operação do novo sistema. Um teve falha no sistema de ar-condicionado e nem chegou a circular. No outro, além da falta de funcionamento do ar-condicionado, a campainha que toca quando a parada é solicitada pelo passageiro ficou inativa. O ônibus, da linha 82 (Estação São Gabriel/Savassi, via Hospitais) fez duas viagens de manhã, mas o serviço foi suspenso por causa de reclamações de passageiros. Segundo a BHTrans, apesar das falhas, a frota regular de 18 coletivos não foi reduzida. Problemas comuns desde segunda-feira se repetiram ontem, como ônibus lotados e empurra-empurra no embarque.

 

Segundo um motorista e um cobrador, que preferem não revelar o nome, o coletivo número 10.701 começou a rodar às 5h15, já com problemas. “Na primeira viagem, o carro tinha pouca gente, ninguém reclamou. Mas na segunda estava lotado, o pessoal se queixou muito do calor. Uma mulher disse que era hipertensa e estava passando mal. Um passageiro até ameaçou quebrar a janela”, relatou o motorista. “Como a campainha não estava funcionando, o ônibus parou em todos os pontos, por precaução”, acrescentou, referindo-se às paradas da linha 82 fora da faixa exclusiva do Corredor Cristiano Machado. 

 

Entre as 7h30 e as 9h30 de ontem, o número de passageiros foi inferior ao de terça-feira no mesmo horário, quando uma pane no sistema de sinalização do metrô fez milhares de usuários migrarem pela passarela da estação de integração São Gabriel até as plataformas de ônibus. No entanto, havia mais gente do que no mesmo horário de segunda-feira, o que indica aumento na procura pelo sistema.

 

Veículos das três linhas em atividade – além da 82, a 83 (São Gabriel/Centro) Direta e Paradora – partiram lotados, alguns até com pessoas encostadas nas portas, deixando usuários para trás.

 

Muitos passageiros esperavam os coletivos à beira das plataformas, para além da linha amarela de segurança pintada no chão. “Tem fila aqui, não?”, perguntou o assessor financeiro Ítalo Silva de Souza, de 34 anos, que aguardava um ônibus da linha 83D, a mais procurada por cumprir o trajeto até o Centro sem parar nas estações de transferência da Cristiano Machado.

 

“Vocês podem fazer”, respondeu um homem com colete da Transfácil, consórcio responsável pela venda de bilhetes do BRT. “São vocês que têm que organizar isso. Deveria ter uma indicação de onde formar as filas”, retrucou Ítalo. Ele costuma ir de carro ao trabalho no Centro, mas ontem quis experimentar o Move. “Quero ver se fujo dos engarrafamentos”, explicou.

 

Por volta das 9h, outro homem com colete da Transfácil tentou formar filas na plataforma da 83D, mas os usuários foram se aglomerando e a tentativa foi inútil. Pouco antes, às 8h45, uma mulher caminhou pela pista ao lado da plataforma de embarque da linha 82 e, correndo o risco de ser surpreendida com a chegada de um ônibus, aproximou-se da estrutura para pegar informações com um funcionário da BHTrans, que se agachou para atendê-la.

 

Painéis com defeito

Nas estações de transferência da Cristiano Machado, os painéis que deveriam informar o tempo restante para a chegada dos ônibus continuam defeituosos. Ao chegar à Estação Feira dos Produtores, a administradora Lúcia Rocha, de 55, viu em um monitor que faltavam apenas cinco minutos para a passagem de um veículo da linha 83P e decidiu comprar uma passagem. Após 10 minutos de espera, aborrecida, pediu o reembolso, mas não pôde ser atendida. “Eu não sabia que o painel está com problema. Se não funciona direito, é melhor ficar desligado”, disse.

 

Em um ônibus da 83P, o aposentado Libêncio Santos, de 63, ressaltou que, apesar de precisar de ajustes, o BRT/Move merece elogios. “Esse ônibus é muito mais confortável que os convencionais. Antes, eu demorava uma hora até o Centro. Agora desço na Avenida Paraná em 15 minutos”, disse ele, que mora no Bairro Cidade Nova, Nordeste de BH, e usa o novo sistema desde segunda-feira, sempre embarcando na linha 83P na estação São Judas Tadeu.

 

O porteiro Stalin Abreu Costa, de 54, concorda com Libêncio, mas reclama do fato de a estação da Paraná ter rampa apenas em um dos lados. Na manhã de ontem, ele estava acompanhado da mulher, a dona de casa Patrícia Rejane Abreu, de 46, e do filho Daniel Victor, de 7, que tem paralisia cerebral e é cadeirante. “Estávamos do outro lado e tivemos que andar um quarteirão até a rampa. Quando estiver chovendo vai ser pior ainda”, reclamou o pai.

 

Na avaliação do doutor em engenharia de transportes Frederico Rodrigues, não é normal que os ônibus apresentem falhas em tão pouco tempo de operação. “É preciso ver por que isso ocorreu”, ressaltou. Ele também critica a superlotação dos veículos.

 

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) informou que os carros com defeito foram substituídos.

 

Já a BHTrans confirmou que um ônibus da linha 82 apresentou problemas no ar-condicionado e foi substituído. A empresa informou que monitora permanentemente o funcionamento das estações e dos veículos e que está preparada para corrigir problemas no sistema. “A BHTrans esclarece que está preparada para responder com agilidade ao aumento da demanda e que já incluiu quatro novas viagens ao quadro de horários da linha 83D no pico da tarde, quando foi constatado o crescimento significativo do número do usuários”, informou a assessoria de imprensa da empresa.

 

Especialista alerta para riscos

Os problemas mostrados até agora pelo Move são considerados normais pelo coordenador do Núcleo de Logística da Fundação Dom Cabral, o doutor em planejamento de transportes Paulo Resende. A pedido do Estado de Minas, ele avaliou as principais falhas no sistema. Nenhuma é classificada como de alto risco, capaz de provocar acidente de grandes dimensões. Mas algumas apresentam risco médio e precisam ser solucionadas imediatamente. Outras, de baixo risco, podem ser resolvidas sem urgência.

 

Para ser classificado como de alto risco, um problema deve dar ao sistema caráter de completa insegurança. “Por exemplo, o sistema ser inaugurado com gente trançando na frente dos ônibus a toda hora, com falta de passarelas e de sinalização”, explica Resende. Já a ocorrência de grau médio “pode levar perigo ao usuário ou à operação do sistema”, aponta. “O fato de os passageiros não respeitarem a linha amarela nas plataformas, por exemplo, pode provocar um acidente grave”, afirma.

 

Outro problema de grau médio é a presença de usuários nas pistas de tráfego dos veículos articulados na Estação São Gabriel, flagrada pelo EM ontem e na segunda-feira. “Seria de grau alto se provocasse risco para um conjunto muito grande de pessoas”, aponta.

 

As outras falhas são de grau leve, segundo o especialista. Os dados errados nos painéis responsáveis por informar o tempo restante para a chegada dos ônibus são um exemplo. Outro caso é o da pane no sistema de ar-condicionado e na campainha que toca quando a parada é solicitada. “São problemas sem capacidade de paralisar o sistema nem de diminuir a segurança do usuário. Eles estão ocorrendo com muita frequência e vão continuar assim por muito tempo, porque não houve tempo suficiente para fazer todos os testes necessários. A população tem de ter muita paciência”, diz.

 

Segundo o diretor-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, Marcos Bicalho dos Santos, quase todas as falhas do BRT de BH também ocorreram no início da implantação do sistema em atividade no Rio de Janeiro, o Transoeste, inaugurado em junho de 2012. “Nenhum desses problemas é grave, mas alguns interferem na segurança do sistema e devem ser vistos com mais atenção, sobretudo a invasão da pista exclusiva por pedestres. No Rio, ocorreram atropelamentos. Monitores de trânsito devem orientar a população”, afirma. “Talvez com 15 dias de operação, a maioria desses problemas seja solucionada”, acredita.

 

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