Ponte só para carros. Obra em Teresina destrói o verde e espreme pedestres e ciclistas

"Não é uma obra de mobilidade urbana", denuncia em artigo o estudante de arquitetura da UFPI que atuou no movimento contra a ampliação da Ponte do Meio, aberta ontem (9)

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Luan Rusvell/ Mobilize  |  Postado em: 10 de dezembro de 2015

Canteiro central da Av. Frei Serafim poderá ser re

Canteiro central da Av. Frei Serafim, com dias contados?

créditos: Durvalino Couto

 

Reparem neste belo recanto verde na foto. Ele é, hoje, o canteiro central da Av. Frei Serafim, no final da ponte Juscelino Kubitschek, ligação do centro à zona leste da cidade. Só que, para construir os acessos às novas faixas do meio da ponte, parte desse canteiro, patrimônio histórico de Teresina e um importante aliado contra o forte calor da capital, terá que ser retirado, destruído. 

 

Nesta quarta-feira (9) as novas faixas foram abertas ao trânsito pela prefeitura. À noite, passei pela primeira vez pelo local e comprovei o que nós, os que estavam contra esta ampliação da ponte, já sabíamos: definitivamente não é uma obra de mobilidade urbana. 

 

Hoje ainda temos duas faixas de trânsito "sobrando" nas laterais (sem acesso). Como o projeto das alças de acesso ainda não foi literalmente engolido pelo Ministério Público, ainda não houve licenciamento para a derrubada das quase 60 árvores que impedem a construção das vias. Questão de tempo? Há ainda diversas outras falhas técnicas encontradas no projeto, como os problemas estruturais diagnosticados no mês passado.

 

Ponte é liberada ao tráfego. Foto: Marcelo Cardoso/Governo do Piauí

 

Ciclistas e pedestres em risco

Calcula-se que, no sentido centro-leste, há cinco vias que escoam para apenas três vias da Av. João XXII (o lado oposto da Frei Serafim).


Pior que isso só para pedestres e ciclistas: como os acessos centrais de pedestres não foram construídos, os que arriscam passar a pé pela ponte devem compartilhar espaço com a ciclofaixa lateral, a mesma que dois anos atrás foi reduzida para abrir mais uma faixa para veículos. 

 

Hoje, a estratégia da prefeitura é ecoar a pressão que o fluxo de carros fará, para ganhar apoio de boa parte da população que depende do carro e assim justificar a retomada da obra. Na verdade, o movimento contrário à obra perdeu força porque aqui, como em quase toda parte, as pessoas ainda tem a ideia de que o percentual de asfalto é diretamente proporcional à melhoria em mobilidade. Mas sabemos que, no fim das contas, só quem ganhou com essa obra foi o carro. 

 

Nessa próxima fase, como disse, a construção das alças de acesso depende da destruição de parte do canteiro central da Frei Serafim, principal avenida da cidade, que hoje é o acúmulo de todo o processo de crescimento de Teresina e um importante patrimônio histórico, construída em 1896. 

 

Ainda de acordo com o plano diretor de Teresina, após a construção das vias exclusivas de ônibus no eixo ponte -Frei Serafim, vários recortes deverão ser feitos no canteiro para dar lugar a estações de transbordo. Além do duvidoso saldo à mobilidade urbana da cidade, as consequências dessa obra ferem diretamente nossa memória. Como ainda não há um real estudo dos impactos que a ponte trará, seus efeitos também são sentidos, digamos assim, por parcelas. 

 

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