O ir e vir do obeso – O direito de ir e vir
O direito de ir e vir

26
março
Publicado por admin no dia 26 de março de 2014

Quando falamos em ‘acessibilidade’, logo imaginamos espaços e serviços projetados para pessoas com deficiência. A palavra, costumeiramente, é associada ao direito de ir e vir do cidadão cadeirante, cego, idoso… Mas e quando falamos da mobilidade reduzida pelo sobrepeso, que é o caso das pessoas que sofrem de obesidade? Você já parou para pensar nos acessos que essas pessoas têm por direito – ou deveriam ter?

 

Ao ser designada relatora do Estatuto da Pessoa com Deficiência, passei a realizar uma série de audiências públicas para ouvir as demandas de toda a população. Nestes encontros, em que várias facetas da diversidade humana são expostas, percebi o quão latentes, e proporcionalmente ignoradas, eram diversas necessidades da população obesa, que já vinha há tempos me pedido ajuda para a liberação de remédios proibidos pela Anvisa. Diante de antigas e novas demandas, resolvemos realizar no próximo dia 28/4 um encontro para ouvir essas pessoas e buscar soluções em diversas áreas.

 

De acordo com dados do IBGE, no Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas são obesas. Segundo a Organização Mundial de Saúde, até o próximo ano, cerca de 2,3 bilhões de adultos estarão com sobrepeso e 700 milhões serão considerados obesos. Trata-se de uma das maiores questões de saúde pública no mundo.

 

Além de problemas de saúde, os obesos sofrem com o preconceito e a falta de políticas públicas em todas as áreas. No transporte, apesar da legislação prever a acessibilidade em toda a frota de ônibus brasileira até o fim de 2014, é muito comum problemas com catracas apertadas e assentos estreitos em veículos coletivos de todo o país. Faltam ainda campanhas para funcionários e outros passageiros se conscientizarem sobre a questão. Nas estações de metrô, por exemplo, tornou-se corriqueiro ver o assento reservado para obesos sendo aproveitado por duas pessoas.

 

Diferente da pessoa com deficiência, que ainda hoje é encarada com certo olhar de piedade, o obeso carrega um julgamento mordaz. Muita gente o enxerga como um indivíduo, que por fraqueza de personalidade, escolheu viver acima do peso. Isso explica o descaso e a negligência que se deparam ao procurar qualquer tipo de serviço. Quantos obesos já tiveram de pagar a mais para sentar nas estreitas poltronas de avião? Ou tiveram de arcar com os custos, três vezes superior, ao comprar uma roupa que, simplesmente, lhe coubesse?

 

Mais preocupante ainda é quando essa falta de acessibilidade atinge áreas tão imprescindíveis como a saúde. Faltam equipamentos para exames, macas e ambulâncias que prestem o atendimento a pacientes obesos nos hospitais. Isso sem falar do constrangimento passado em outros locais comuns, como nas escolas – com carteiras apertadas -, cinemas, restaurantes, igrejas…

 

Além de fatores genéticos que envolvem o desenvolvimento da obesidade, não podemos deixar de falar dos impactos que a qualidade do meio tem sobre a saúde da população. Já falei, inclusive aqui no Mobilize, sobre o conceito de “Health Inequalities” (desigualdades na saúde), que aborda a infraestrutura da cidade e a qualidade de vida de quem faz parte dela. Pense que em cidades onde as pessoas têm calçadas de qualidade para circular, elas caminharão muito mais. O exemplo vale também para o investimento em meios de transportes alternativos, como a bicicleta. Pilotar uma bike é uma saída muito mais saudável que dirigir o próprio carro.

 

O combate à obesidade tem de fazer parte das ações da saúde pública nacional. Mas não podemos ignorar todas as outras áreas que essa questão esbarra. A acessibilidade nos espaços e serviços é uma delas e faz toda a diferença no dia a dia de quem vive a obesidade. Por conta de barreiras, o ir e vir do obeso torna-se limitador, mesmo que o seu peso não o defina como pessoa, tampouco meça até onde seu potencial é capaz de o levar.

 

 



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