Se o rio muda de curso, poderá mudar o curso da história

Artigo de nova colaboradora fala de projetos que não vingam e matam os rios de SP. Mas casos como a ciclovia do Pinheiros mostram que ocupar suas margens é o caminho

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Jeniffer Abegão*  |  Postado em: 15 de setembro de 2017

Não há vida no rio, mas às suas margens, na ciclov

Não há vida no rio, mas às suas margens, na ciclovia, sim!

créditos: Ed (insta: @ed_ilustrador)

Quem passou pela Marginal Pinheiros de bike por esses dias, notou um peixe inflável gigante no meio da água, que até deu uma “pseudo vida” ao nosso degradado rio que dá nome ao conjunto de avenidas que o margeiam. A intervenção artística foi feita por Eduardo Srur, para chamar atenção para a poluição do Rio Pinheiros e dar início à 7ª edição da Virada Sustentável, que rolou no último mês por toda cidade de São Paulo.

Apesar de não haver vida dentro do rio, nas suas imediações há, e muita! Explico: a implantação da ciclovia ao longo de suas margens (parte do projeto Parque Linear Pinheiros) trouxe nada menos do que 35 mil ciclistas por mês para andar pelos seus 21,5 km de extensão. Deslocar a população de volta às margens do rio, que antes era desprezada pelo público em geral, foi vital para ajudar na conscientização e trazer à tona a questão da urgência pela despoluição do rio.

Imagem extraída de vídeo da Associação de Águas Claras de Pinheiros. Para conhecer um pouco dessa história, clique aqui  

Tietê e Pinheiros
Lamentável saber que desde o primeiro projeto de despoluição do Rio Tietê (irmão do Pinheiros), há 25 anos, os dois rios ainda continuam poluídos. E mais uma vez fazemos a pergunta que não quer calar: quando finalmente veremos os rios limpos?

Fui atrás de respostas para a pergunta emblemática e questionei a executora do projeto, a empresa de saneamento básico do estado de São Paulo, a Sabesp. Ambos, tanto Pinheiros quanto Tietê se encontram na terceira etapa do projeto. Em geral, houve uma melhora em termos de coleta de esgotos e tratamento (antes o percentual girava em torno de 24%, hoje está em 68%, e o objetivo é alcançar os 84% até o final dessa terceira etapa). 

Mas há muito ainda a ser feito! Em alguns pontos da ciclovia, o mau cheiro é bem forte, principalmente em dias quentes. Esse odor (vulgo bodum) é decorrente dos gases sulfídricos vindo do esgoto em decomposição. 

A inalação prolongada desses gases pode provocar náuseas e dores de cabeça. Portanto, o ciclista deve tomar alguns cuidados, uma vez que o volume de ar inspirado por ele, devido ao exercício, é maior. Se puder, evite andar de bike nos horários mais quentes do dia; lave o nariz com soro fisiológico e hidrate os olhos, e cheque a qualidade do ar antes de sair de casa.

Uma boa opção é baixar o app chamado Plume Labs, bem fácil de usar e que mostra o índice de poluição do ar para diversas atividades físicas. O site da Cetesb também avalia a qualidade do ar em diversos pontos da cidade, inclusive na região de Pinheiros e Tietê

A implantação das ciclovias é parte do projeto Parque Linear Pinheiros, de 2009, idealizado pelo governo do estado para transformar a área em um parque atrativo, com lanchonetes, áreas de recreação, banheiros e pista de caminhada. Mas até hoje a ideia permanece apenas no papel mofado.  

O título deste artigo é parte da canção do samba-enredo da escola X-9 Paulistana no carnaval de 2003. Nós escrevemos e podemos mudar o curso de nossa história, precisamos juntos resgatar nosso rio e transformá-lo de novo em um lugar para pessoas usufruírem de maneira sustentável.

 

*A engenheira ambiental Jeniffer Abegão é apaixonada pelo tema da sustentabilidade. Tanto que ela faz parte da Comissão de Desenvolvimento Sustentável de sua comunidade e também é voluntária da Fundação Alphaville. No Mobilize, Jeny vai mostrar a cidade sob a ótica da mobilidade sustentável, como você nunca viu. Para conhecer mais do seu trabalho, visite o seu blog, o GerminAÇÃO.  


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