Na Inglaterra, cai o número de crianças que vão a pé ou de bicicleta à escola

Pesquisa Origem/Destino do país revela que mais pais estão levando seus filhos à escola de carro, mesmo com evidências crescentes dos danos que isso causa à saúde

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Fonte: Diário do Transporte  |  Autor: Alexandre Pelegi  |  Postado em: 30 de julho de 2018

Ingleses com o desafio de estimular a mobilidade a

Ingleses com o desafio de estimular a mobilidade ativa

créditos: Anja Riedmann/Alamy Stock Photo

A proporção de pais que levam seus filhos para a escola de carro está aumentando na Inglaterra, apesar das crescentes preocupações com o impacto da poluição do ar sobre a saúde dos jovens.

Os dados são da mais recente pesquisa Origem/Destino – National Travel Survey (NTS), citados em matéria do jornal inglês The Guardian nesta sexta-feira (27).

A NTS é uma pesquisa domiciliar projetada para monitorar tendências de longo prazo das viagens das pessoas, e orientar o desenvolvimento de políticas de transporte. É a principal fonte de dados sobre padrões pessoais de viagem por residentes da Inglaterra dentro da Grã-Bretanha.

Os novos números da pesquisa do governo inglês mostram que a porcentagem de crianças da escola primária que caminham ou pedalam caiu de 53% para 51% em 2017.

A pesquisa também revelou um aumento geral no número de pessoas que usam carros ou vans em vez de optar por caminhar em trajetos de menos de três quilômetros, o que, segundo os ativistas, resulta em forte impacto na poluição do ar e na obesidade.

Danos à saúde
No início deste mês, o jornal The Guardian destacou como instituições de ensino e autoridades locais em todo o Reino Unido estão tentando reprimir o uso do automóvel como meio de transporte das crianças para a escola. 

Em meio a evidências crescentes de danos causados pela poluição do ar para a saúde dos jovens, o jornal cita iniciativas como o fechamento de ruas, a implantação de esquemas de bolsões de estacionamento nas proximidades (‘park and stride’, que visa a forçar as famílias a estacionarem o carro e caminharem o restante do percurso), além de programas de estímulo para que as crianças optem por ir a pé para a escola.

A matéria cita Joe Irvin, executivo-chefe da Living Streets (Ruas Vivas), uma Ong que promove campanhas para estimular o modo andar a pé. Irvin afirma que os números da NTS destacam o desafio que é persuadir as pessoas a abandonarem seus carros quando se trata do transporte escolar e outras viagens curtas.

“O aumento do número de pessoas usando seu carro para trajetos que poderiam ser percorridos a pé mostra que os níveis ilegais de poluição do ar da Grã-Bretanha devem continuar“, ele afirma.

Xavier Brice, executivo-chefe da Ong Sustrans (organização de estímulo ao uso da bicicleta como modo de transporte e lazer), disse que os novos dados da pesquisa NTS destacam a necessidade de ações governamentais coordenadas para estimular que as famílias caminhem e andem de bicicleta para melhorar não só a poluição do ar, mas também a obesidade infantil.

Obesidade

“Recentemente a Public Health England (agência do Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido) divulgou que uma em cada 25 crianças do último ano da escola primária estão seriamente obesas; isso é um alerta, precisamos fazer mais para permitir que mais crianças andem e pedalem em sua ida diária para a escola”, disse Brice.

O The Guardian fez um levantamento que indica que milhares de escolas em cidades de variados tamanhos do Reino Unido – de Edimburgo a Londres, de Manchester a Ellesmere Port – estão tomando medidas para tentar impedir que os pais usem seus carros para levar os filhos à escola.

No ano passado, o governo inglês definiu como meta aumentar para 55% a proporção de crianças que vão a pé para a escola primária até 2025. Para atingir esse objetivo o governo utilizará fundos do “imposto sobre o açúcar” (Sugar Tax*). No entanto, a meta ainda está muito abaixo dos níveis vistos há uma geração, quando, de acordo com a Ong Living Streets, cerca de 70% das crianças iam caminhando para a escola primária.

Poluição e mortes

Os dados revelados pela NTS acontecem em meio à crescente preocupação com os níveis ilegais de poluição do ar no Reino Unido e com seu impacto na saúde humana – particularmente no caso das crianças.

No início deste mês, segundo a matéria do Guardian, um especialista disse que as internações hospitalares de uma menina que morreu de ataque de asma aos nove anos de idade mostraram uma “associação impressionante” com os picos nos níveis ilegais de poluição do ar em sua casa em Londres. Os números do governo também mostram um aumento acentuado no número de mortes por asma, que, segundo os especialistas, poderiam estar sendo alimentadas pelo agravamento da poluição do ar.

O governo inglês já foi derrotado três vezes na Justiça por causa de seus planos de poluição do ar. Agora, ao lado de outros cinco países, a Inglaterra terá de responder ao mais alto tribunal da Europa por não ter combatido os níveis ilegais de poluição do ar. Os outros países são França, Alemanha, Hungria, Itália e Romênia. O ar tóxico tem sido o responsável por mais de 400.000 mortes precoces em toda a Europa a cada ano.

Os próprios números do governo do Reino Unido mostram que a ida motorizada à escola é um fator importante na questão da poluição atmosférica: ela representa um em cada quatro carros na rua nos horários de pico.

Os médicos dizem que as crianças são particularmente vulneráveis aos impactos da poluição do ar, com danos irreversíveis nos pulmões em idade precoce. Eles afirmam que há uma clara relação entre crianças que respiram ar poluído e, mais tarde em suas vidas, apresentam problemas crônicos nos pulmões.

Um porta-voz do Departamento de Transportes disse que o governo inglês está empenhado em tornar mais acessível para todos a ida a escola a pé, “através da nossa estratégia de investimento em ciclismo e caminhada de £ 1.2bn (cerca de R$ 5,8 bilhões)”.

*Imposto sobre refrigerantes, comumente chamado de Sugar Tax (Imposto sobre o açúcar), já resultou em mais de 50% de fabricantes reduzindo o teor de açúcar das bebidas, desde que foi anunciado em março de 2016 – o equivalente a 45 milhões de quilos de açúcar a cada ano. Os fabricantes que não reduzirem o teor de açúcar pagarão o imposto, que deve arrecadar 240 milhões de libras por ano, dinheiro destinado a ajudar as escolas a melhorarem as suas instalações desportivas e dar às crianças acesso a equipamentos de playground de alta qualidade.

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