Nos EUA, ferrovias são convertidas em trilhas para caminhar e pedalar

Movimento "Rails to Trails" quer conectar todo o país com caminhos exclusivos para pedestres e ciclistas aproveitando as faixas ferroviárias

Notícias
 

Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa/Mobilize Brasil  |  Postado em: 10 de fevereiro de 2023

Passeio e ciclovia ao lado de ferrovia, em Charlot

Passeio e ciclovia ao lado de ferrovia, em Charlotte, EUA

créditos: Jessica Swannie

 

Ferrovias foram o mais importante meio de transporte nos Estados Unidos até a metade do século 20, quando o país contava com uma ampla rede de trilhos ligando todas as cidades e regiões do país. Mas, com o crescimento da frota de automóveis e, em especial, do tráfego aéreo, as linhas férreas caíram em desuso e foram gradativamente desativadas. Há um movimento para a instalação de trens de alta velocidade ligando as grandes metrópoles, mas esse processo tem sido lento e não passa pelo traçado das antigas ferrovias. Assim, existem milhares de quilômetros de leitos ferroviários abandonados por todo o território do EUA.


De olho nesses caminhos, em 1986 um grupo de ativistas iniciou o movimento Rails to Trails, que buscava a conversão dessas faixas ferroviárias em parques e espaços para caminhar e pedalar, especialmente no entorno das cidades. O movimento entendia que além de espaços de lazer, essas vias poderiam tornar-se caminhos para a mobilidade ativa, isoladas e protegidas do tráfego motorizado. Um dos objetivos era criar espaços em bairros mais pobres, onde os moradores não tinham locais adequados para exercitar-se ao ar livre.

 


 Kettle Valley Rail Trail implantada em antiga ferrovia Foto: Amanda Follett Hosgood·

 

Até o ano passado a organização contabilizava cerca de 105 milhas (169 km) de passeios construídos sobre ou ao lado das velhas ferrovias, a maior parte em cidades na região nordeste dos EUA. Conforme dados da organização, existem 33 mil milhas (mais de 53.000 km) de leitos ferroviários que poderiam ser convertidos ou aproveitados em trilhas para a mobilidade ativa. Agora, o movimento trabalha para conectar Washington-DC, a capital, ao estado de Washington, no extremo noroeste do país. Serão 3.700 milhas, quase 6.000 km de trilhas, que poderão permitir passeios, viagens de lazer e turismo, além dos deslocamentos para o trabalho e estudo, sem o tráfego motorizado.

 

Um anel em Atlanta
Uma das ações mais recentes surgiu na cidade de Atlanta (Georgia), no sul dos EUA, onde um anel ferroviário que circunda toda a região metropolitana  está sendo convertido no "Belt Line", um novo caminho exclusivo para pedestres, cadeirantes e ciclistas. Como muitas cidades do país, hoje Atlanta se move basicamente de carro, com 95% dos deslocamentos diários feitos nas grandes avenidas que cortam o tecido urbano.


O projeto do "Belt Line" foi concebido justamente para mostrar a viabilidade de outras formas de transporte, em uma espécie de parque linear que combina jardins, densa arborização, espaços de descanso e pistas para caminhar e pedalar. A proposta parece ter agradado, mas a adesão à novidade está provocando um novo problema: os imóveis lindeiros à antiga ferrovia estão sofrendo rápida valorização, com a gradativa expulsão dos moradores mais pobres, justamente aqueles a quem o Rails to Trails busca beneficiar.

 

Talvez a proposta sirva apenas como a "ultima pá de cal" para encerrar o ciclo dos trens nos EUA. Mas, de qualquer forma, a ação oferece um bom exemplo para os milhares de quilômetros de leitos ferroviários abandonados em outros países, incluindo o Brasil e vários países da América Latina. Voltaremos ao tema nas próximas semanas.


Veja um vídeo sobre o movimento Rail to Trail:


Veja mais fotos:


Leia também:
Num só dia, dois "acidentes" com trens em capitais do Nordeste
Prefeitura de SP avança no projeto de hidrovia na Billings
Amsterdã inaugura garagem só para bicicletas, sob as águas


  • Compartilhe:
  • Share on Google+

Comentários

Ulysses Maia - 11 de Fevereiro de 2023 às 10:41 Positivo 1 Negativo 0

Parabéns por trazer o assunto a tona! Apesar de ter em meu amago que a situação ferroviária deveria ser melhor utilizada no Br, entenderia se a péssima malha fosse uma alternativa para o desenv de outros modais e como ligação por trilhas regionais.

Clique aqui e deixe seu comentário