Em SP, projeto de novas pistas ameaça futuro parque

Urbanistas e moradores da zona sul de São Paulo posicionam-se contra a proposta de estender as pistas da Marginal do Pinheiros em uma área de proteção ambiental

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Fonte: Mobilize Brasil  |  Autor: Marcos de Sousa  |  Postado em: 30 de janeiro de 2024

Imagem da área do parque a partir da ciclovia na m

Foto da área do parque a partir da ciclovia na margem oposta

créditos: Bike Zona Sul | Google Street View


Quem viaja nos trens urbanos da zona sul de São Paulo sabe que depois da Estação Socorro, na Linha 9 Esmeralda, há um longo trecho sem as ruidosas avenidas que margeiam quase a totalidade do canal-rio Pinheiros. Nessa área, com cerca de 7 km de extensão, as margens do curso de água ganham um caráter quase rural, com cavalos e vacas pastando, além de pequenas hortas nos fundos das edificações.


Esse panorama mais tranquilo inspirou moradores e urbanistas a pensarem em um futuro parque linear
, ideia intensamente debatida e consagrada na Lei de Zoneamento de 2014 como uma Zona Especial de Proteção Ambiental (Zepam), "...área destinada à preservação e proteção do patrimônio ambiental, que tem como principais atributos remanescentes de mata atlântica e outras formações de vegetação nativa, arborização de relevância ambiental, vegetação significativa, alto índice de permeabilidade e existência de nascentes, incluindo os parques urbanos existentes e planejados e os parques naturais planejados...", conforme explica a definição de Zepam no site Gestão Urbana, da Prefeitura de São Paulo. Enfim, trata-se uma área reservada para fins de preservação ambiental, uma das poucas remanescentes da faixa lindeira ao canal do Pinheiros*.

 


Imagem: Instagram Parque Jurubatuba

 


No entanto, em agosto de 2022, a Prefeitura de São Paulo anunciou sua intenção de estender por ali a avenida Marginal do Pinheiros, na zona sul da cidade. O anúncio foi feito por meio de um edital da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb) para contratação dos projetos executivos de prolongamento da via expressa.


Mais pistas em uma área reservada para fins ambientais?
Em junho passado, a Prefeitura propôs e a Câmara Municipal aprovou a Lei 17.965/2023, que incluiu a proposta do novo sistema viário no Projeto de Intervenção Urbana (PIU) para o perímetro do Arco Jurubatuba.

Com esse sinal verde, no final de 2023, o prefeito Ricardo Nunes abriu outra licitação para desenvolvimento de um novo projeto executivo e a contratação das obras previstas: cerca de 8 km de novas pistas com três faixas de rolamento, viadutos, um trecho em elevado, alças de acesso e também uma enigmática ciclovia, que seria posicionada quase em cima do rio, mas fechada por uma tela de proteção.

Detalhes do edital estão publicados no site da Prefeituraprevendo-se a abertura das propostas no dia 5 de março próximo. Investimento anunciado: cerca de R$ 1,7 bilhão.


É curioso que a prefeitura da maior cidade do país pretenda investir recursos públicos em novas pistas para carros. Já se sabe, no mundo inteiro, que mais pistas atraem mais tráfego, com novos congestionamentos, que pedirão mais pistas e assim por diante, em um eterno ciclo vicioso. Basta lembrar o que ocorreu após a ampliação das Marginais do Tietê e Pinheiros, em 2009-2010: em poucos meses as novas pistas e viadutos estavam congestionados.


O urbanista, professor e ex-vereador Nabil Bonduki considera o projeto inadequado e inútil. Ele lembra que naquele trecho já existe um sistema viário - a avenida Miguel Yunes - que dá continuidade à Marginal, mas separada por uma ou duas quadras da margem do rio. "Aquela área é a única onde a cidade se encontra com o rio, sem as barreiras das vias expressas. Além disso, o projeto vai contra a lógica urbana contemporânea, porque prioriza a circulação de carros, quando tudo indica a necessidade de priorizar o transporte público. E, por fim, é uma área de proteção ambiental, próxima às represas da cidade, onde nunca se deveria estimular a ocupação", pondera Bonduki.


Em defesa do parque
Agora, no início do ano, urbanistas e moradores da região, que ainda sonham com o Parque Jurubatuba, iniciaram um movimento para barrar a construção das marginais. O arquiteto e urbanista Dimitre Gallego argumenta que aquela área deveria ser vista como uma oportunidade para o desenvolvimento de um novo tipo de ocupação na margem do rio, aproveitando o potencial paisagístico, o silêncio e a presença das águas como forma de sensibilizar as pessoas.


"É verdade que a região sofre com problemas de trânsito, mas já sabemos que as novas pistas projetadas logo estarão congestionadas. Seria muito mais lógico pensar em infraestruturas de transporte coletivo, ou ciclovias e calçadas que passem pelo parque linear. A área oferece 130 hectares, um dos maiores terrenos disponíveis em São Paulo, uma grande oportunidade para melhorar as condições ambientais da cidade. Teríamos um 'Central Park' na zona sul, com todos os ganhos ambientais e de saúde que isso poderia trazer para a cidade, para as pessoas, meus filhos e netos", explica Dimitre.


Abaixo-assinado
Para sensibilizar a Prefeitura e os vereadores paulistanos sobre a importância de evitar a construção da avenida, foi lançado uma campanha e um Abaixo-assinado na plataforma Change.


Imagem: Instagram Parque Jurubatuba

 

*Nota: cabe aqui uma explicação: originalmente, o rio Pinheiros era formado pelos rios Guarapiranga e Jurubatuba, mas nos anos 1940 a companhia Light retificou os leitos desses cursos d'água e inverteu seus fluxos, para levar águas do rio Tietê até a represa Billings e gerar energia elétrica. 

 

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